A chegada da safra (soja e milho) ao mercado, com os gargalos logísticos e limitações de estocagem, além da boa evolução da safrinha e do plantio nos Estados Unidos geraram uma forte pressão de baixa para o milho e a soja nos últimos meses.
Considerando o indicador Cepea para o milho, houve queda de 31,2% entre janeiro e maio, considerando as médias mensais. Foi o maior recuo mensal pelo menos desde 2010, como pode ser visto na figura 1.
Figura 1. Variações mensais do preço do milho em São Paulo.
No mesmo intervalo o preço do boi gordo cedeu 6,3%, influenciado pela maior oferta de fêmeas e, mais recentemente, pela chegada da seca, forçando a venda do gado, pela diminuição da capacidade de suporte das pastagens.
Dentro do sistema de confinamento, o principal componente de custo é o boi magro, seguido pela alimentação, onde o milho se destaca. É o ingrediente mais relevante, seja diretamente incluído na dieta ou pela sua influência na precificação de outros componentes energéticos da ração.
Com isso, a relação de troca, em sacas de milho por arroba de boi gordo (receita), é uma variável que responde por boa parte do resultado da operação, juntamente com a relação de troca com o boi magro. A figura 2 mostra a evolução dessa relação, de sacas de milho por arroba de boi gordo.
Figura 2. Sacas de milho por arroba de boi gordo em São Paulo, médias mensais.
Em janeiro, era possível comprar 3,3 sacas de milho com o preço de uma arroba de boi gordo, relação que saltou para 4,5 em maio, considerando os dados até o dia 24/5. Uma melhora de 36,2% no poder de compra do confinador.
A relação com o milho está no melhor patamar desde novembro de 2019.
Com o boi magro, desde janeiro, a relação de troca melhorou 6,3%. No início de 2023 eram necessárias 13,3@ de boi gordo para a compra de um boi magro, considerando cotações do Cepea em São Paulo para ambos. Em maio a relação está em 12,4@, ou seja, 0,8@ a menos para a compra do principal componente de custo. Perceba que aqui a relação numericamente menor é mais interessante.
Apesar de mais interessante em relação a janeiro, na comparação com maio de 2022, a troca com o boi magro está 2,7% pior este ano, enquanto no comparativo anual a troca com o milho melhorou 22,3%.
Considerações
Embora essas relações de troca estejam em patamares interessantes, frente aos preços contemporâneos do boi gordo, usados na análise, o mercado futuro tem projetado uma curva historicamente pessimista, sem valorização na entressafra, o que influencia a decisão de confinamento.
Essa possível redução da quantidade de gado confinado, por sua, vez, pode ajudar na precificação do boi gordo no segundo semestre. Um volume mais tímido de gado no cocho é um ponto que pode colaborar com um mercado mais firme na segunda metade do ano.
Segundo a pesquisa de intenção de confinamento do IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), divulgada na última semana, a intenção dos produtores consultados aponta para um volume 9,5% menor que o observado no relatório do mesmo período em 2022. O preço do boi gordo foi relatado por 37,4% deles como a principal preocupação.
Aqui cabe uma ressalva, de que a pesquisa foi realizada em abril e de lá para cá, o milho seguiu em queda, melhorando o custo com a alimentação e, consequentemente, da arroba engordada no cocho. Vamos acompanhar.