Está começando nos Estados Unidos a Cúpula do Meio Ambiente, mais uma tentativa de mobilização internacional em torno da causa, um tema que gera debates apaixonados.
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Os opositores ao respeito ecológico tratam a questão como o confronto de bichos grilos oníricos, que defendem tanto a preservação de espécies animais em extinção como de florestas, contra economistas e empresários pragmáticos, que contestam o direito de sonhadores obstaculizarem o progresso econômico, ao tentar limitar a expansão da produção desejada por milhões de consumidores.
Nada mais longe da verdade. Há mais de 50 anos, Georgescu-Roegen, um romeno de extrema direita, intitulado por Paul Samuelson como “o economista dos economistas”, chamava a atenção da comunidade neoliberal para a importância de zelar pelo meio ambiente.
Sua crítica fazia pouco da Primeira Lei da Termodinâmica, a popularizada lei de Lavoisier: nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Dela, deriva o mecanicismo da Economia, no seu nascedouro: veja as curvas de Oferta e Procura de Marshall, que pulam para a direita ou para esquerda, estabelecem um novo equilíbrio, voltam para trás numa boa, em saracoteio que em nada altera sua essência. Ao se ater a esta simplificação mecânica, em que qualquer ação pode ser revertida ao seu estado original sem maiores consequências, a Economia divorciou-se da realidade, pois a Segunda Lei da Termodinâmica vai nos mostrar que tudo se transforma, sim. Mas em lixo!
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Simplificadamente, o raciocínio de Georgescu pode ser assim sintetizado:
1. A Segunda Lei da Termodinâmica mostra que há um processo inexorável em marcha na Natureza de aumento da entropia, entendida como a quantidade de energia “usada”, em contraposição à energia “livre”. Petróleo e soja são exemplos de energia utilizável, livre, enquanto lixo, de energia consumida, usada.
2. a primeira implicação desta Lei é devastadora: não importa o que façamos, o Mundo tende á extinção: haverá um momento, no futuro, em que não teremos como produzir, pois a entropia atingirá o índice de 100% e não haverá mais energia livre para ser aproveitada pela Humanidade.
3. a segunda implicação da Lei é construtiva: a entropia não pode ser evitada, mas pode ser administrada, postergando-se a chegada do desenlace final. E Georgescu radicalizava: mais importante do que a reciclagem do lixo, que consome energia, é buscar a máxima eficiência na utilização dos recursos produtivos vindos da Natureza, retardando o processo entrópico.
4. um corolário da Segunda Lei é que, como o petróleo, recursos hídricos e todos os minerais são finitos, há uma só fonte que é, ao mesmo tempo, gratuita, contínua e infinita, dado que a Terra vai-se extinguir antes do Sol: a energia solar. Claro, a energia eólica seria uma candidatura paritária, mas, como bem observou a cientista Dilma Rousseff, não se consegue estocar o vento, o que compensaria sua intermitência.
5. a grande conclusão: quando Georgescu se referia ao uso da energia solar, não tinha em mente a bateria solar desenvolvida pelo Homem, de eficiência e aplicação restrita e sim a Terra, com seus solos aráveis, suas florestas capazes de manter o equilíbrio hídrico e atmosférico, seus oceanos não poluídos e com produção ilimitada de proteínas, enfim a preservação do ciclo global de vida.
Portanto, a preservação da grande Bateria Solar Planeta é a missão estratégica mais importante da Economia, pois é a única forma de postergarmos o fim da existência humana na Terra. Lutar pela preservação do aparato que nos permite transformar a energia livre inesgotável do Sol em desfrute da vida, retardando sua extinção, passa a ser bandeira dos neoliberais.
Esta lógica, sugere uma percepção diferente do alinhamento de forças em relação ao meio-ambiente: de um lado, economistas comprometidos com o bem-estar da sociedade a longo prazo e os defensores da fauna e da flora por nobres sentimentos passionais. A conscientização de um número crescente de grandes empresas na defesa da ecologia demonstra que gestores sensíveis também pertencem a este grupo.
Do outro lado, os corsários do capitalismo, que buscam o lucro fácil e imediato, às expensas do ganho coletivo, a praga que assola o capitalismo. Junto com seus áulicos, situados em posições estratégicas no governo e na mídia. Finalmente, os de mal com a vida, que não se curvam à lógica econômica nem se sensibilizam com a religiosidade com que os idealistas buscam preservar a Natureza.