O real, mais uma vez, teve comportamento controverso ontem frente ao dólar, depreciando-se, quando as demais moedas emergentes latinas se apreciaram, e isto tem ocorrido com frequência, indicando que o BRASIL tem fatores de influência que os diferencia neste momento para pior, e isto passa mais pelas tensões políticas do que pelas conhecidas razões fiscais e econômicas.
Os “players” do mercado financeiro estão defensivos e apreensivos com o ambiente conflituoso no campo político que não se restringe aos gabinetes e avançou pelas vias públicas.
E isto, naturalmente reflete no preço do ativo mais sensível a toda e qualquer instabilidade que se verifique no país e que crie “medos e receios” silenciosos e o fato não decorre necessariamente do comportamento do fluxo cambial, mas fundamentalmente do psicológico.
Este não parece ser um contexto passageiro e sim duradouro, pois não se observa tendência de convergências no campo político, jurídico e econômico, havendo ainda muita interferência interpoderes e isto acirrando divergências, principalmente em atitudes.
O mercado financeiro “fala” pelas atitudes e se torna omisso em palavras em torno do seu ativo mais sensível e, como habitual, impõe pressão na formação do preço da moeda americana, por vezes “no vazio”, e ontem foi mais um dia destes, e, o BC então, para não se revelar inerte, realizou um leilão, atenuando a intensidade mais sem conter a tendência.
O fluxo cambial mais recente conhecido até o dia 22 deixa evidente que houve em maio forte recuo de saídas financeiras do país, líquidos US$ 399,0 Mi, enquanto o ingresso comercial, líquidos US$ 2,865 Bi, deixando evidente a ausência de pressões no câmbio à vista, e se temores se acentuarem a pressão retornará no mercado futuro.
A balança comercial de maio foi positiva em US$ 4,5 Bi, no nosso entender muito bom tendo em vista que houve queda nos preços dos produtos industrializados brasileiros, a despeito de aumento significativo das exportações agro, excepcionalmente para a Ásia. E as perspectivas continuam altamente positivas para o agro, considerando-se que a China anunciou a interrupção das importações de soja dos Estados Unidos. O que pode conspirar contra este fato positivo são os tradicionais gargalos que dificultam o escoamento das exportações agrícolas.
Aliás, a questão China e Estados Unidos deve ser persistente porque é o cenário conflituoso que faz parte da campanha eleitoral do Presidente Trump e é o instrumento principal para agradar seu eleitorado, então até lá o mundo conviverá com este ambiente.
A rigor, o viés do comportamento do preço do dólar, face ao ambiente predominante e com perspectivas duradouras, é de alta e o BC agindo para contê-lo com seus instrumentos triviais, mas sabendo que nem tudo depende de oferta e procura, por isso, por vezes, se arvora em alertas de “grande” intervenção no mercado, sem efetivamente efetivar.
A situação econômica naturalmente ainda persiste desalentadora, porém a B3 tem insinuado alguma recuperação, aparentemente sem muito gás, mas de toda forma, chamou-nos atenção matéria posta pelo Estadão no seu Broadcast Top News, com o seguinte comentário, que nos permitimos reproduzir:
“Com as crises econômica, política e sanitária combinadas, o Brasil parece ter se tornado uma escolha "controversa" entre investidores internacionais. Ainda assim, bancos estrangeiros começam a ver a Bovespa como uma boa oportunidade após a forte queda do primeiro trimestre, e seguem recomendando papéis de maior liquidez do mercado acionário brasileiro. Entretanto, ações brasileiras negociadas em Nova York e em nomes menos óbvios listados na B3, como a BB Seguridade (SA:BBSE3), começam a ganhar revisões mais generosas, sendo mais lembradas que os American Depositary Receipts (ADRs) de nomes como Petrobras (SA:PETR4) e bancos.
A posição fiscal do País, que tende a se agravar com os gastos para conter a pandemia da covid-19 combinados à queda de arrecadação que a recessão deve provocar, continua abrindo uma porta de saída do mercado brasileiro para os estrangeiros, que também enxergam preocupação no avanço da pandemia no País. Com a combinação de fatores, a retirada de recursos pelo investidor de fora da Bolsa brasileira no ano estava acima de R$ 75,6 bilhões em 28 de maio, número maior que os R$ 44,5 bilhões de saída líquida em todo o ano de 2019.
"O interesse estrangeiro em ações brasileiras está definitivamente mais baixo dado a piora nas situações sanitária, política e fiscal", afirmou, ao Broadcast, Mathieu Racheter, estrategista de mercados emergentes do Julius Baer. Para ele, o espaço para reversão de tal expectativa ainda é pequeno. "Enquanto os níveis de valuation do mercado acionário brasileiro caíram significativamente, os estrangeiros provavelmente permanecerão relutantes para voltar."
"Defender" posições em ações brasileiras parece de fato ter ficado mais complexo. Ao elevar de forma dupla - de "venda" para "compra" - a Bolsa brasileira, o Credit Suisse escreveu que sabia que sua nova posição era "controversa". Mas os analistas do banco europeu mostraram um otimismo pouco visto até mesmo entre casas nacionais. A despeito de todos os riscos, segundo eles, o mercado acionário brasileiro é um bom negócio por sua exposição a nomes ligados a commodities e também pela forte queda do real ante o dólar. "O mercado está claramente barato se olharmos para a relação entre preço e lucro do Brasil relativa às dos mercados globais excluindo os ligados a commodities."
O Goldman Sachs foi mais direto: a Bolsa de São Paulo é, para o banco, "a melhor candidata à recuperação" entre os mercados acionários de países emergentes. "As ações brasileiras em dólares têm sido as de pior desempenho desde o sell-off em mercados emergentes, e recomendamos aos investidores que 'vão fundo' na Bovespa dada sua proximidade à melhoria das condições de risco globais", escreveu o banco americano.”
É sem dúvida um alento positivo para as perspectivas da B3 até então projetadas, mas sempre com baixa sustentabilidade, mas a abordagem se constitui um fato novo a ser observado.
Mas, efetivamente o ambiente político, jurídico e econômico do Brasil está complexo, e no câmbio tem grande influência.