Publicado originalmente em inglês em 20/07/2021
Os investidores correram para as montanhas, na segunda-feira, vendendo ações e comprando títulos públicos, o que fez com que os rendimentos dos papéis de referência atingissem níveis nunca vistos em meses.Estão suspeitando de algo?
Analistas apontam para o recrudescimento das infecções de Covid-19 provocado por variantes que parecem ser mais contagiosas. O principal medo pode ser o crescimento mais lento causado por uma combinação de novas restrições de saúde e inflação mais alta a ponto de forçar o Federal Reserve a realizar um aperto monetário.
“Todos os passos necessários” para dar suporte à economia
O presidente dos EUA, Joe Biden, em um pronunciamento curioso na segunda-feira, disse que havia lembrado ao presidente do Fed, Jerome Powell, recentemente que o banco central americano é independente e que “deveria tomar todos os passos necessários” para respaldar a economia.
Humm. Será esse um sinal verde para um aperto monetário através da redução da compra de títulos ou uma sugestão de alta de juros? Ou uma “pegadinha” para que o Fed seja responsabilizado pela desaceleração do crescimento?
De qualquer forma, por que o presidente do Fed precisaria ser lembrado de que é independente, além da questão da sua nomeação a um novo mandato?
Os principais índices acionários americanos caíram de 1,5 a 2,1% na segunda-feira.
Ao mesmo tempo, o rendimento da nota referencial de 10 anos do Tesouro americano despencou abaixo de 1,2% para cerca de 1,18% antes de se recuperar no fim do pregão, seu nível mais baixo em cinco meses.
Essa liquidação nas ações e rali nos títulos públicos não se restringiram aos EUA. O índice DAX da Alemanha, que reúne 30 ações blue chips, caiu mais de 2,5%, enquanto o Euro Stoxx 50, com as principais ações europeias, caiu um pouco mais.
O rendimento do título alemão de 10 anos, que serve de referência para a Zona do Euro, despencou 10 pontos-base em determinado momento, em relação a -0,30% de sexta-feira. O rendimento do título de 10 anos da França, que estava em território negativo na sexta-feira, continuou em declínio, fechando o pregão a quase -0,05%.
Imbróglios políticos impulsionam mercado de títulos
A Alemanha foi devastada por inundações desastrosas na semana passada, que provocaram 180 mortes e mais de mil hospitalizações.
As repercussões políticas podem ser graves, e a caça aos culpados já começou. Políticos da oposição exigem a renúncia do ministro do interior Horst Seehofer, democrata cristão, por não ter dado a devida atenção aos alertas de inundação. Ele, por sua vez, culpa as autoridades locais, que são responsáveis pelo sistema federal alemão por determinar evacuações e outras medidas de proteção.
O turbilhão político foi intensificado com a horrível gafe do candidato alemão a chanceler pela democracia cristã, Armin Laschet, filmado ao fundo dando gargalhada e fazendo piada enquanto o presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, falava sobre a tragédia com a solenidade apropriada.
A pior inundação em um século, atribuída em grande parte à mudança climática, já iria impulsionar o Partido Verde nas eleições de nacionais de setembro de qualquer forma, depois de ficarem atrás dos democratas cristãos nas últimas pesquisas. Isso gera diversas repercussões para a Alemanha, cuja agitação política não deve terminar tão cedo.
Nos EUA, a briga parlamentar em torno de dois pacotes separados de gastos trilionários representava um desafio para os ambiciosos planos do governo Biden. O destino dessa agenda tem implicações não só para o estímulo fiscal, mas também para as emissões de treasuries destinadas a financiar o endividamento sem precedentes em tempos de paz.
Os problemas do governo, como os mercados demonstraram na segunda-feira, são baixistas para as ações e altistas para os títulos governamentais. O líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, democrata de Nova York, insiste em levar ao plenário a votação nesta semana para superar o requisito mínimo de 60 votos, mas ainda não se sabe se será capaz de conquistar os 10 votos republicados necessários.