O Brasil está diante de um desafio significativo: atender à crescente demanda global por produção de alimentos, ao mesmo tempo em que conserva e restaura seus ecossistemas naturais. A mudança do uso da terra em países tropicais é um importante contribuinte para as emissões globais de gases do efeito estufa e o Brasil é responsável por uma parcela significativa dessas emissões, devido principalmente ao desmatamento e à expansão agrícola. Com a projeção de um aumento de quase 50% na demanda global por alimentos até 2050, é vital encontrar maneiras de expandir a produção de alimentos sem abrir novas áreas de vegetação nativa. Oportunamente, o país possui vastas áreas de pastagens plantadas de baixa produtividade que podem ser usadas de maneira mais eficiente.
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Em escala global, o Brasil desempenha um papel crucial na transição para uma produção agrícola mais sustentável. Existem 89 milhões de hectares de pastagens que poderiam ser utilizadas de forma mais eficiente. Modelos de produção comprovados podem atender à futura demanda global sem a necessidade de converter áreas de vegetação nativa em terras agrícolas. Esses modelos incluem a expansão agrícola em pastagens de baixa produtividade, combinada com a intensificação sustentável da pecuária, a proteção e restauração da vegetação nativa, bem como a implantação de sistemas agroflorestais e manejo sustentável de produtos florestais não madeireiros.
A produtividade média da pecuária na Amazônia e no Cerrado é atualmente muito baixa e, com tecnologias amplamente conhecidas, o rendimento dessa atividade pode ser aumentado de três a cinco vezes em relação ao nível atual. Em paralelo, melhores práticas agrícolas no Cerrado poderiam aumentar a produtividade nas fazendas de soja em até 30%.
Há uma discussão acadêmica sobre se a intensificação, e consequente aumento de oferta de produtos agrícolas, geraria uma diminuição da pressão por expansão para novas áreas, reduzindo o desmatamento, ou se, ao contrário, o aumento de oferta reduziria os preços estimulando a demanda e gerando ainda mais pressão sobre áreas naturais (Paradoxo de Jevons). Existem poucos estudos testando as duas hipóteses, mas Szerman e colaboradores (2022) sugerem que, no Brasil, entre 1960 e 2000, o ganho de produtividade e diversificação das atividades na agropecuária contribuiu para a redução das taxas de desmatamento no período.
Para acelerar a transição produtiva nos biomas Amazônia e Cerrado, é necessário um aumento significativo dos fluxos financeiros de longo prazo para o setor agropecuário, estimado em pelo menos US$ 30 bilhões, até 2030. Mecanismos financeiros, como financiamento com taxas de juros atrativas, fundos de participação, recebíveis agrícolas securitizados e estruturas baseadas em carbono, desempenham um papel fundamental na aceleração desses investimentos e na prestação de assistência técnica aos agricultores.
Iniciativas como a Inovação Financeira para Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC) buscam apoiar instituições financeiras, empresas da cadeia de abastecimento e gestores de ativos na criação desses mecanismos financeiros inovadores para a transição agrícola no Brasil, Paraguai e Argentina.
A transição agrícola não apenas traz benefícios ambientais, como a conservação de vegetação nativa e manutenção da biodiversidade, mas também benefícios sociais e econômicos, incluindo o aumento da renda dos agricultores e uma maior segurança hídrica para todos. Para medir e monitorar o impacto dessas ações, existem diversas diretrizes e ferramentas disponíveis, como o Guia de Monitoramento de Impacto do IFACC.
Dentro de uma estrutura sólida de governança social e ambiental, é possível alcançar esses objetivos de forma responsável e rentável. O argumento comercial para investir em modelos de produção mais sustentáveis é respaldado tanto pela comunidade científica quanto pelas instituições financeiras pioneiras. Mecanismos financeiros precisam de pelo menos três tipos de inovação para acelerar a implementação, a primeira é o desenvolvimento de abordagens inovadoras para fechar lacunas de mercado, a segunda é aprender com os casos de sucesso para promover a replicabilidade, e a terceira está na escala desses instrumentos para suprir a demanda global por alimentos, alinhada ao cenário de aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C.