Marketing Predatório Cresce na Crise; Confira Algumas Dicas Para se Proteger

Publicado 26.06.2020, 14:45

Momentos de crise são campo fértil para oportunistas que visam lucrar com o desespero, despreparo e falta de conhecimento das pessoas. Isso é especialmente verdadeiro no caso do mercado financeiro no Brasil, que mudou muito radicalmente em pouco tempo. Queda na taxa de juros, crescimento das corretoras, surgimento de influenciadores/as, casas de análise independente, salas ao vivo, são alguns dos novos elementos que subitamente passaram a habitar o imaginário do/a brasileiro/a médio/a.

Embora a maioria dos/as profissionais do mercado de fato prezarem principalmente pelo interesse de seus/as clientes, e da maioria das pessoas não caírem no conto do vigário, há ainda uma larga parcela de pessoas que são vítimas do marketing predatório de instituições financeiras. Pior ainda, há todo um ecossistema desregulado e oculto, formado por grupos pagos de Telegram ou Whatsapp, perfis de Instagram, enfim, que tem como único objetivo separar você do seu dinheiro.

A linha que separa as instituições legais dos/as praticantes de charlatanismo financeiro é bem clara: certificações, adesão a princípios internacionais, compliance, regulação oficial e interna, auditorias, etc. Entretanto, o grande problema é que ambos lados se beneficiam da ignorância das pessoas e da perpetuação de uma série de mitos sobre o mercado financeiro. Sobre isso, sugiro a leitura de texto publicado neste Investing.com por Ricardo Schweitzer, que escancara algumas das práticas condenáveis de nosso mercado.

Meu foco, contudo, será nas falsas promessas e meias verdades que parecem ter tomado conta da internet, especialmente em tempos de crise, quando as pessoas estão mais vulneráveis. Gostaria de começar falando de um fenômeno muito comum, que em Economia chamamos de assimetria de informação. Em termos concretos, isso acontece quando uma das partes de uma negociação tem informações que não estão disponíveis a outra parte, que fica então numa situação de desvantagem.

Em seguida, gostaria de lembrar aos leitores/as que, do ponto de vista estatístico e financeiro, não há como ampliar ganhos sem ampliar proporcionalmente a exposição ao risco. Quer dizer que não vale a pena arriscar? Não, significa simplesmente que temos de compreender que, embora seja possível, até certa medida, ganhar mais arriscando o mesmo, essa margem tem um limite relativamente pequeno – mas grande o suficiente para ter um impacto significativo na nossa vida.

Com esses dois pontos em mente, podemos dar um pouco mais de robustez ao velho ditado que diz que quando a esmola é demais, o santo desconfia – que, sinceramente, é um dos ensinamentos mais valiosos para quem quer investir. Da próxima vez que te prometerem um ganho muito atraente e lhe disserem que você está diante de uma oportunidade única na vida, desconfie. Em seguida, pergunte: será que eu tenho as mesmas informações que essa pessoa ou ela está, propositalmente, deixando algumas coisas de fora?

Em seguida, questione-se: se o risco sempre acompanha a recompensa, eu tenho que no mínimo estar disposto/a a tolerar um risco que seja proporcional aos ganhos prometidos. Quanto mais agressivo for o marketing, quanto mais ele te disser que você é especial, que você não deveria pular o anúncio e que, caso não tenha, você tem aquilo que é necessário para enriquecer. Quanto mais alguém forçar a barra para te convencer que está te fazendo um favor, mais você deve desconfiar.

Numa relação de negócios saudável, que é o que devemos buscar principalmente com quem confiamos nosso dinheiro, dúvidas não serão, de forma alguma, recebidas com hostilidade. Na verdade, essa pessoa fará de tudo para que você entenda plenamente os riscos e potenciais retornos dos instrumentos que você for investir. Mas há outro problema, esse talvez mais complicado ainda, que é o do mercado de cursos sobre investimento com campanhas predatórias, notadamente no setor de day trade.

Para quem não está familiarizado, fazer day trade significa comprar e vender (ou vice-versa) um ativo para se desfazer dele no mesmo dia, tirando proveito de oscilações no preço. Muita gente considera que essa seja a “Fórmula 1 dos investimentos”, pela velocidade, adrenalina, alta performance e glamour. Com ganhos rápidos e diários, propõe, você consegue multiplicar seu patrimônio de forma recorde começando com mil reais ou menos, acumulando renda de até 5 mil reais por mês após um período curto.

Se parece bom demais para ser verdade, é porque é. Por mais lisonjeiro que seja pensar que estamos aptos/as a trocar nosso carro por um veículo de fórmula 1, a verdade é que as chances de nos acidentarmos gravemente ou mesmo morrer são muito superiores a qualquer outra coisa. Além disso, a alta performance dos/as gurus do day trade parece deixar a desejar – cursos online oscilam entre 500 e 2 mil reais, muitos deles compostos de material disponível gratuitamente na internet. Ora, se é um conhecimento capaz de multiplicar fortunas da noite para o dia, porque tantos cursos a preços tão baixos, perto do que prometem render?

Aliás, por que sequer abrir tal conhecimento ao público ao invés de gerar retornos astronômicos para um fundo? Falando nisso, por que fundos não rendem tanto assim? Porque não estamos todos/as fazendo day trade? Diabos, por que Warren Buffett não está triplicando anualmente seu portfólio fazendo isso? Por que não vejo mais gente realmente vivendo dessa atividade? Será que estão deixando alguma informação de fora? Ou será que eu por acaso dei de cara com a fórmula secreta da riqueza, que grandes bancos não querem que eu saiba?

De repente, todas aquelas pessoas falando em viver de day trade enquanto dirigem um carro de luxo, ou sobre como acabaram de ganhar cinco mil com uma operação simples que você pode aprender em menos de meia hora para começar a ganhar também, vão se tornando mais e mais caricatas. Fica mais incômodo o fato de analistas de day trade, que trabalham nas corretoras e não podem operar os ativos que recomendam, estarem propondo te ensinar a viver da atividade que não exercem ou que, de mil em mil reais, uma hora você vai aprender.

Lembre-se: o risco é proporcional a recompensa e nesse caso, o risco é o mais alto possível. Não significa que não seja algo lucrativo, nem que todos/as as/os profissionais desse setor sejam desonestos/as ou, mais comum, que buscam maquiar o risco real envolvido. Mas se você está numa situação no qual ganhos rápidos e grandes parecem ser a solução para a emergência financeira – justamente as presas ideais de oportunistas – lembre-se que é tão, ou, muito mais provável, que você perca muito e rápido.

Quanto maior for a sua situação de emergência financeira, menos você pode se dar ao luxo de arriscar. Histórias incríveis de superação só existem porque na esmagadora maioria das vezes, a ruína financeira não é algo do qual você se recupere. Aceite, então, a receita básica e universal: substitua gastos desnecessários por investimentos de baixo risco, adeque seus hábitos, busque ajuda (inclusive, se for o caso, psicológica e/ou psiquiátrica). Mais importante, tenha paciência e disciplina de se manter no caminho certo – que passa longe de quem quer lucrar com sua desgraça.

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