Os auxílios governamentais vão acelerar a inflação?
De quanto é a Selic terminal?
Qual será a política econômica do próximo governo?
O Ibovespa voltará a subir de forma sustentada?
Faltam respostas para essas e tantas outras perguntas. Não à toa, os investidores estão numa espécie de paralisia: a bolsa brasileira está barata demais para ser vendida, mas a incerteza é grande demais para ser comprada. Não há visibilidade suficiente.
A realidade é que acertar previsões sobre o futuro dos mercados não só é, como sempre foi, uma tarefa difícil. Certa vez, o físico Richard Feynman afirmou que “a física seria muito mais difícil se os elétrons tivessem sentimentos”. Pois essa anedota ilustra os mercados com precisão: as partes que determinam seus rumos têm sentimentos. A incerteza não apenas está presente, como sempre esteve, em maior ou menor grau.
Uma sequência de vários anos de bull market, entretanto, nos iludiu a pensar que saberíamos o que aconteceria à frente. Nem preciso falar do tamanho do erro do Relatório Focus na previsão de inflação de 2021 (para os curiosos, o Focus de janeiro de 2021 previa 3,3% para o ano).
Todavia, reconheço, mesmo sob o risco de cair em contradição, que a sempre presente incerteza está maior agora. Não sabemos até onde os bancos centrais precisarão ir para controlar os preços, nem como a economia reagirá a isso. Aqui no Brasil, a situação ainda é mais delicada diante da indefinição política para os próximos anos. O espectro de cenários plausíveis se expandiu consideravelmente (e isso parece ser característico dos bear markets).
Já completamos, entretanto, doze meses de bear market aqui no Brasil, e seis nos Estados Unidos. A incerteza não ficará tão elevada para sempre. Amanhã, os dirigentes do banco central americano se reúnem para tomar uma nova decisão sobre os juros. Esse é um marco importante porque define os rumos da taxa que é referência para o mundo inteiro. Além disso, estamos no início da temporada de resultados do 2T22, tanto aqui quanto lá fora, o que deve lançar luz sobre o impacto do aperto monetário nas empresas. Finalmente, estamos a dois meses da eleição brasileira, que diminuirá um dos elementos de incerteza no ambiente tupiniquim. Gradualmente, a visibilidade vai melhorando.
Até que ela melhore, contudo, de pouco adianta fazer mudanças bruscas na carteira. Não há benefício em se deixar tomar pela ansiedade. Como quase sempre é o caso nos investimentos, a razoabilidade surte efeitos melhores que a emoção, e a razoabilidade parece nos dizer para esperar e observar. Por mais que os elétrons tenham emoções na economia, é agindo de forma contrária a eles que você produzirá benefícios de longo prazo para o seu patrimônio. Paciência é o nome do jogo.
Há alguns macetes para driblar o nosso viés da ação, que nos convida constantemente a fazer algo para atingir resultados, mesmo quando não devemos.
O primeiro é manter o hábito de poupar e aportar mensalmente no seu portfólio de investimentos. Assim, você sentirá que está fazendo alguma coisa (e de fato estará). Mas, nesse caso, dificilmente essa coisa te atrapalhará; aliás, é provável que te ajude.
O segundo é relembrar, constantemente, sua estratégia inicial de exposição ao risco, ou, no nosso caso, a alocação que acreditamos ser vencedora ao longo de vários anos. É justamente nos momentos mais difíceis que essa aderência à estratégia inicial se torna mais importante, porque não conheço investidores que tiveram sucesso mudando de perfil o tempo todo.
Em algum momento, o turbilhão terá ficado para trás. E você agradecerá a si mesmo por ter tido paciência.
Um abraço