Ao longo de 2020, os efeitos da covid-19 sobre a colheita de raiz de mandioca – e, consequentemente, sobre a oferta do produto – foram relativamente pequenos, com exceção do início da pandemia, quando houve dificuldades no transporte de trabalhadores rurais. Por outro lado, a demanda por produtos industriais, incluindo os que utilizam a fécula de mandioca como insumo, foi menor, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
De acordo com dados do Cepea, no primeiro semestre, a quantidade de mandioca processada pelas fecularias totalizou 1,04 milhão de toneladas, 0,5% abaixo da registrada em igual período de 2019. Já na segunda metade de 2020, a moagem foi de 911,3 mil toneladas, avanço de 4,4% frente ao observado no mesmo período do ano anterior. No ano, o volume de moagem somou 1,95 milhão de toneladas, com ligeiro aumento de 1,7% na comparação com o de 2019.
Quanto aos preços da raiz, ficaram praticamente estáveis ao longo de praticamente todo o ano e, na maioria dos meses de 2020, as médias nominais superaram as de 2019. Em termos nominais, o preço médio no primeiro semestre foi de R$ 362,46/t e, na segunda metade do ano, de R$ 410,40/t. A média nominal de 2020 foi de R$ 388,05/t, acréscimo de 14,3% frente à do ano anterior. Já em termos reais, a média deste ano esteve apenas 1% acima da de 2019.
Embora o cenário tenha sido de preços mais elevados em 2020, houve queda na produtividade, e, com a rentabilidade negativa de safras anteriores e valores mais atrativos de outras culturas, parte dos agricultores diminuiu a área de mandioca.
FÉCULA – Ainda que em alguns momentos tenha apresentado aquecimento, a demanda pela fécula de mandioca caiu no agregado de 2020, como efeito principalmente das restrições por conta do coronavírus.
De acordo com cálculos do Cepea, entre janeiro e novembro, o consumo aparente médio de fécula no Brasil foi de 43 mil toneladas/mês, queda de 9,3% frente ao de 2019. Neste cenário, parte da indústria limitou a produção de fécula, que somava pouco mais de 500 mil toneladas até meados de dezembro (o equivalente a pouco mais de 41,6 mil toneladas/mês). Assim, com a produção de fécula acima do consumo aparente, o excedente foi o maior desde 2016.
Quanto aos preços da fécula (FOB fecularia), na média de 2020, foi de R$ 2.226,87/tonelada, 13,9% acima do ano anterior, em termos nominais. Já em valores reais, a média anual subiu apenas 1,2%.
Com excedente de produção doméstica e com o dólar valorizado frente ao Real, as exportações de fécula tiveram forte crescimento em 2020. De acordo com a Secex, foram 12,5 mil toneladas embarcadas entre janeiro e novembro, mais que o dobro frente ao mesmo período de 2019 e o maior volume desde 2016. As importações caíram 41% na parcial do ano, somando 527 toneladas. Em volume, a balança comercial da fécula de mandioca teve superávit de 12 mil toneladas entre janeiro e novembro, 148% maior que o do mesmo período de 2019. O saldo comercial acumulado de 2020 é de US$ 8,94 milhões, com crescimento de 112% na comparação com o resultado de 2019, e o melhor desde 2015.
FARINHA – O mercado de farinha esteve bastante lento em 2020, especialmente no Centro-Sul. Por mais um ano, a comercialização ocorreu entre agentes locais, apenas com embarques pontuais para outras regiões do Brasil. Entretanto, no início da pandemia, houve maior fluxo de venda do Centro-Sul para as regiões Norte e Nordeste, com destaque para a primeira região. Como resultado da lentidão no mercado de farinha e da menor disputa com as fecularias, o ritmo de moagem esteve desaquecido.
O preço médio nominal a prazo (FOB farinheira) da saca de 50 kg da farinha de mandioca branca fina/crua tipo 1 em 2020 foi de R$ 82,06, avanço de 14,2% frente ao ano anterior. A média anual para a farinha de mandioca grossa foi de R$ 62,62 por saca de 40 kg, acréscimo de 16,4% entre 2019 e 2020.