Por Fábio Isaías Felipe*
Entre 2019 e 2021, a rentabilidade da mandiocultura esteve comprometida nas principais regiões do Centro-Sul acompanhadas pelo Cepea. O baixo volume de precipitações, a ocorrência de geadas e, posteriormente, elevações nas temperaturas médias resultaram em perdas e em diminuição da produtividade. Esse cenário desmotivou muitos mandiocultores, que acabaram migrando para outras atividades mais atrativas, com destaque para boi gordo, soja e milho.
As dificuldades enfrentadas no campo tiveram reflexos nas indústrias de fécula e de farinha. Levantamento do Cepea mostra que, em 2022, além de agentes revelarem elevada ociosidade industrial – superior a 50% da capacidade instalada –, os rendimentos industriais estão baixos. No caso das fecularias, a extração média de amido no acumulado deste ano (de janeiro a agosto) esteve 8% menor que nos oito primeiros meses de 2021.
Com a oferta de raiz no campo caindo consideravelmente nas principais regiões, os valores da matéria-prima subiram com força neste ano, registrando, inclusive, sucessivos recordes nominais, considerando-se a série histórica do Cepea, iniciada em 2002. A média da tonelada de mandioca posta fecularia na parcial deste ano está 83,5% acima da verificada no mesmo período de 2021.
Já nos casos dos derivados, as valorizações da fécula e da farinha fina têm sido significativas, mas ainda ficam abaixo do avanço verificado para a matéria-prima. As médias de 2022 da fécula e da farinha são, respectivamente, 75% e 63% acima das 2021 (de janeiro a agosto). E esse contexto aperta as margens de indústrias que também enfrentam aumentos em outros insumos destinados à produção.
Ressalta-se que a ausência de barreiras à entrada na atividade de mandioca resulta em oscilações consideráveis nas produções da raiz e dos derivados (fécula e farinha) e, consequentemente, nos preços. Embora os negócios por meio de contratos venham crescendo, a comercialização no spot ainda prevalece, o que impede um enfraquecimento nas altas dos preços.
Do lado da demanda, a indústria também enfrenta diminuição na procura por derivados de mandioca nos últimos anos. O avanço da renda per capita e mudanças nas preferências dos consumidores limitam a demanda sobretudo da farinha, que é classificada como um bem inferior (no qual o aumento da renda resulta em diminuição na quantidade demandada).
Os últimos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a aquisição alimentar domiciliar da farinha de mandioca caiu de 7,76 kg per capita/ano em 2002 para 2,33 kg per capita em 2018, forte recuo de 70%. Todas as regiões brasileiras registraram baixa, com destaque para o Nordeste e Norte, com reduções de 75% e de 68%, também entre 2002 e 2018.
Já no caso da fécula, como este derivado de mandioca pode ser utilizado em diferentes formas, o consumo aumentou de 2002 para 2018. Ainda de acordo com a POF, a aquisição de fécula no Brasil cresceu 9%, passando de 0,732 kg per capita para 0,797 kg. E as exportações de fécula também estão avançando – em 2021, as vendas externas do derivado atingiram volumes e preços recordes, desempenho que vem se sustentando ao longo do atual ano.
Ainda são grandes os desafios para a cadeia produtiva da mandioca. No campo, os maiores são a manutenção da oferta ao longo do ano e a diminuição dos custos de produção, sobretudo na colheita. Para as indústrias, além de ampliar os mercados, também deve-se produzir a valores mais competitivos.
*Pesquisador do Cepea