A menor área de raiz de mandioca cultivada nos últimos anos, sobretudo devido à maior atratividade de outras culturas, vem reduzindo a oferta da matéria-prima nas principais regiões produtoras do Centro-Sul do Brasil. No curto prazo, as recentes chuvas vêm limitando a colheita da raiz e reforçando a menor disponibilidade para o processamento industrial.
Diante disso, levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostra que, na primeira quinzena de outubro, houve redução de 45% no volume de raiz moída pela indústria de fécula frente ao da segunda quinzena de setembro. A demanda pelo derivado, por sua vez, segue relativamente firme. Segundo pesquisadores do Cepea, em algumas regiões, observa-se disputa entre fecularias e farinheiras pela matéria-prima ainda disponível.
Nesse cenário, os valores de negociação da raiz de mandioca vêm registrando avanços expressivos, atingindo sucessivos recordes nominais. Considerando-se a "Média Cepea" (Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo), nesta parcial de outubro, o preço médio da raiz de mandioca posta na fecularia está em R$ 1.012,13/tonelada, 6,8% maior que o de setembro e expressivos 82% acima do registrado em outubro do ano passado, em termos nominais. Em termos reais (os valores mensais foram deflacionados pelo IGP-DI), a média mensal atual é a maior desde fevereiro de 2018.
FÉCULA – Demandantes de raiz, agentes da indústria de fécula se mostram preocupados com o atual cenário. Os baixos volumes de moagem diminuem a eficiência técnica das indústrias, sobretudo pela elevada ociosidade, ao passo que os altos preços da matéria-prima apertam as margens. O repasse das valorizações da raiz aos derivados acaba sendo parcial, tendo em vista que os maiores preços da fécula tendem a limitar o consumo e a estimular a substituição por outros amidos, especialmente o de milho. Em outubro, levantamento do Cepea mostra que o preço médio da fécula está em R$ 5.120,91/t, aumentos de 5% frente ao de setembro e de 71% em um ano.
A relação entre o preço médio da fécula e o da raiz vem caído de forma periódica, o que evidencia a redução na margem das indústrias. Na parcial de outubro, inclusive, a relação está em 5,05, sendo a menor de toda a série histórica do Cepea – como comparação, a relação média de outubro do ano passado estava em 5,39. Agentes relatam que a matéria-prima representa entre 65% e 70% do custo de produção da fécula.
Outro fator de preocupação entre agentes se refere à extração média de amido, que, no acumulado de 2022, está em 24,7% (o que significa que uma tonelada de raiz gera 247 quilos de fécula), com queda de 9% na comparação com o mesmo período de 2021 – isso também pesa sobre o volume produzido, que, no acumulado anual, está 5% menor.
O cenário de baixa oferta de matéria-prima e estoques de derivados reduzidos deixa vendedores e compradores em alerta, especialmente quando se considera também a aquecida demanda externa. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações brasileiras de fécula de mandioca totalizaram 4,94 mil toneladas em setembro, crescimento de 52% frente às de agosto e de expressivos 97% na comparação com as do mesmo período do ano passado. No acumulado anual (janeiro a setembro), o volume embarcado totaliza 34,6 mil toneladas, 41% acima do registrado nos nove primeiros meses de 2021.