O valor intrínseco de uma companhia pode ser pensado, de maneira didática, como se soubéssemos tudo do futuro e pudéssemos prever todo o caixa que o negócio iria gerar desde agora até o fim dos tempos, descontado por uma taxa de desconto adequada. Isto é, a soma de todos os fluxos de caixa futuros até a perpetuidade.
É interessante ressaltar uma observação bem corriqueira, mas para a qual poucos se atentam: a única razão para fazer um investimento, abrindo mão de seu dinheiro no presente é a expectativa de receber de volta mais dinheiro no futuro, através dos lucros das empresas. Buffett diz que “that’s what investing is all about”.
Sendo assim, na busca por receber mais dinheiro no futuro, somos capazes de olhar e estudar uma gama enorme de produtos de investimento.
No caso dos títulos de renda fixa, é fácil dizer quanto ganharemos. Já está estampado na cara do produto o seu valor intrínseco, seus “fluxos de caixa” – claro que a taxa de juros pode variar, mas no final, saberemos qual será a correção do capital inicial pelos juros.
Já em uma ação, os fluxos de caixa não estão estampados, sendo este um dos trabalhos da análise fundamentalista: imprimir na ação o seu valor intrínseco, assumindo várias premissas para realizar a estimativa. Isso vale para qualquer ativo, seja ele um equipamento de uma linha de produção, seja um imóvel, seja uma empresa.
Vale lembrar que a expectativa do retorno, em geral, não se dá pela venda do ativo, mas sim, do que o ativo irá produzir. No value investing, ainda que compremos parte das empresas, isto deve ser feito com a mentalidade de dono, por isso devemos nos perguntar o que o business irá gerar.
Para uma análise nessa linha de valor intrínseco, precisamos levantar algumas questões: (a) quanto iremos conseguir de retorno? (b) em quanto tempo? (c) o quão certos estamos sobre isso?
Portanto, a grande questão que deve ser respondida antes de realizar o investimento é: “se eu comprar esse business a um preço X, ele vai me distribuir recursos o suficiente, cedo o suficiente, para que se justifique o meu investimento?”.
Caso essa pergunta não possa ser respondida pelo investidor, não é aconselharia a compra do ativo, pois não seria um investimento, muito pelo contrário: seria uma aposta e, portanto, especulação.
Um investidor olha para um ativo e se pergunta o que o ativo tem potencial para gerar. Um especulador olha para um ativo e vê apenas o seu preço.
Trata-se de uma busca constante por oportunidades com “desconto”. Warren Buffett conta ao público em vários encontros que na história da Berkshire Hathaway já foram comprados alguns businesses que estavam com ótimo desconto, precificados a cerca de 20% do valor que se obteria caso liquidasse a empresa inteira.
No entanto, também é importante saber se afastar quando os números não estão favoráveis. É preciso deixar os sentimentos de lado e agir racionalmente. Temos que estar aptos a fugir de coisas que não funcionamos, bem como de coisas que não entendemos.
Embora tenha falado bastante sobre o valor intrínseco neste artigo, o investidor também deve estar ciente de que deve ponderar os custos de oportunidade e outros fatores em sua análise.
Buffett, quando perguntado sobre Intrinsic Value, menciona a seguinte parábola: “Mais vale um pássaro na mão do que dois no arbusto” (versão em inglês).
O pássaro na mão é o dinheiro que você tem hoje, e que pode ser investido numa renda fixa. O que existe no arbusto é o que a empresa vai te gerar caso você abra mão do pássaro em posse.
Por exemplo se a taxa de juros for 15%, vale a pena abrir mão do pássaro na mão se em 5 anos com certeza saírem 2 pássaros do arbusto, afinal com uma taxa de retorno de 15% ao ano você dobra o montante inicial em aproximadamente 5 anos.
Agora, se os títulos estiverem pagando 3% ao ano, pode fazer sentido abrir mão do pássaro na mão caso retire 2 pássaros do arbusto em 20 anos.
Tudo depende da sua taxa de desconto e de quanto tempo vai demorar pra você tirar 2 pássaros do arbusto.
Levando para o ponto de vista de investimentos, devemos fazer mais algumas perguntas, que nos remetem às questões ditas previamente:
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“O quão certo você está sobre a existência dos pássaros no arbusto?” Isto é, nós entendemos do business? Ele possui uma vantagem competitiva robusta?
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“Quando os pássaros vão sair do arbusto, e quantos serão?” Ou seja, qual o fluxo de caixa esperado para o negócio até o fim dos tempos e quando esperamos recebe-lo?
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“Qual é a taxa livre de risco?” Isto é, devemos buscar taxas de retornos maiores do que as taxas de juros livre de risco para cogitarmos o investimento.