Quinta-feira (dia 06) repetiu o restante da semana, com o mercado atento aos “atores” convidados para a CPI da Covid. Desta vez, tivemos o médico cardiologista e atual Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, neutro nas suas explanações, mas favorável ao senso comum, ao defender a ciência na forma de encarar a pandemia. Novas discussões rolaram sobre a decisão do Copom de quarta-feira, mas sem grandes novidades. Em complemento, o esforço de vacinação segue na “ordem do dia”, com anúncio de mais uma nova encomenda da Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34), desta vez, de 1oo milhões de doses, parte a chegar em setembro. Uma boa notícia num momento tão turbulento.
Sobre a CPI, novamente não tivemos grandes revelações. O depoimento do ministro Queiroga consolidou a estratégia do governo de “negar” o que foi feito de errado nos 14 meses de pandemia. Além disso, o ministro procurou se eximir de qualquer responsabilidade sobre o que aconteceu antes da sua gestão. Um ponto positivo foi ele reconhecer a preponderância da ciência no combate à pandemia e pouca atenção ao chamado “kit Covid”. Ficou claro que o ministro Queiroga não parecia à vontade para falar da cloroquina. Se mostrou sempre partidário da ciência.
Na semana que vem teremos os depoimentos de executivos da Pfizer e do ex-secretário da SECOM Fabio Wajngarten. Lembremos que foi ele a acusar o ministro Pazuello de “gestão temerária na batalha contra a pandemia”. “Estranhamente” poupou o presidente de maiores responsabilidades. Uma especulação era a de que o nefasto “gabinete do ódio” segue atuando à plena carga, meio como um “governo paralelo”.
Nestes próximos depoimentos, a polêmica sobre a compra de vacinas, maior gargalo do momento, deve trazer algum impacto aos andamentos da CPI. Mais à frente, dia 19, teremos o ex-ministro e Antônio Pazuello e, talvez, o ministro da Economia Paulo Guedes (caso convocado). No médio prazo, serão convocados gestores públicos de escalões inferiores, envolvidos em ações que possam comprometer o governo, como as compras de cloroquina e a reação tardia à crise de respiradouros em Manaus, dois temas explosivos. Aguardemos.
Sobre a decisão do Copom, o comunicado, depois da reunião, reforçou que o BACEN deve manter a “continuidade” na estratégia de “normalização parcial” da taxa Selic. O “tom” do comunicado, aliás, trouxe ruídos ao mercado.
Alguns viram esta postura como dovish, tranquilizadora e transparente, permanecendo o que já vem sendo feito e não gerando grandes ruídos; outros consideraram esta decisão agressiva, mais hawkish. Isso porque o comunicado disse que os diretores “não tinham compromisso com a posição de não trazer a Selic para a zona neutra”. Ou seja, as interpretações são bem diversas.
Ainda existiam aqueles que acham que o BACEN deve completar o ciclo de juro “o mais rápido possível”. O ciclo terminaria no primeiro semestre e seria dado “um tempo”. Já outros acham que a “normalização parcial” deve perdurar, atravessar este ano e se possível, o próximo.
Por ora, estamos prevendo a taxa Selic a 5,5% ao fim deste ano, em linha com o mercado. Haverá mais um ajuste de 0,75 p.p. em junho e mais outro, de 0,5 ponto percentual, na reunião de agosto. Creio que no segundo semestre, com as campanhas de vacinação bem avançadas, a retomada da economia ganhará em robustez.
Por outro lado, não podemos descartar mais um ajuste ao fim do ano, diante do risco de deterioração das expectativas, piora no front fiscal e aumento do “açodamento político” (CPI da Covid). Assim, nada surpreende se a taxa Selic fechar 2020 em torno de 6% e ir a 7% em 2021.
Isso, por certo, derrubará ainda mais o dólar, contra o real, já havendo quem projete a moeda americana, ao fim deste ano, abaixo dos R$ 5,00. Será positivo também para os índices de preço, com especial destaque para os IGPs. O objetivo aqui é trazer o IPCA, dos 6,1% atuais, em 12 meses, para algo mais próximo do centro da meta (3,75%).
Por fim, falando da pandemia, mais uma queda no dia 06, em 24 horas, 2.550 Óbitos, no total de 417 mil. Pela média móvel semanal são 2.252 óbitos diários e 73.380 novos casos. Segundo o cientista de dados Maurício Garcia, “são 14 unidades da federação com menos de 10 MM/dia (mortos por milhão) e apenas duas acima de 15 (RJ e PR)”.
Segundo ele, “preocupa, no entanto, a curva dos novos casos, praticamente no mesmo patamar de 2 semanas atrás, e preocupa muito o RJ, em forte repique de casos. França, Itália e Alemanha tiveram uma terceira onda, achando que já tinham liquidado a fatura na segunda. Só agora estão conseguindo algum controle. Na Índia predomina o caos completo, assustando o grande número de novos casos. Isso é alarmante pois é um ensejo para novas cepas”.
Uma boa nova foi o acordo com a Pfizer, para a entrega de 100 milhões de doses, 35 milhões em setembro. O problema, como sempre, será o timing, já que os dados servem como argumento, mas ainda não como realidade no Plano Nacional de Imunização.
Sobre a agenda de sexta-feira (07), passados os dados de recuo da produção industrial de março (-2,4%), saem hoje os dados do varejo, da Pesquisa Mensal do Comércio (IBGE) no mesmo mês. Destes saberemos mais sobre esta onda da pandemia, neste caso, causada pelo atraso da vacinação e pelas tensões políticas. Dados negativos do comércio varejista também podem ter como efeito colateral o aprofundamento do discurso do presidente contra medidas de isolamento social. Nos EUA, será um dia importante, pois teremos novos elementos para decifrar em que ritmo (ou intensidade) se encontra a economia norte-americana, se aquecida demais ou de menos. São divulgados o payroll e a taxa de desemprego, ambos de abril.
Bons negócios a todos!