Cada dia há uma novidade, os exercícios de criatividade de “romper sem estar rompendo” o teto orçamentário cada vez mais ficam evidentes, e, o mercado financeiro convive e repercute o fato, digamos, ainda com discretas reações, procurando não desarmar o pouco de otimismo que ainda resta.
Mas a insensibilidade tem limites e pode estar próximo o momento de “jogar a toalha” e assumir postura amplamente defensiva, visto que os desequilíbrios poderão afetar toda a dinâmica do país, já amplamente claudicante no convívio com a pandemia do coronavírus, ainda muito presente, e sem diretrizes consistentes de “portas de saídas” deste cenário conturbado que envolve política monetária, fiscal e cambial do governo.
O quadro é de altíssima complexidade e indefinição, a qual se somam os desalentos do desemprego crescente e a renda decrescente da população, enfim, um quadro que somente “a vontade de que tudo, sem saber o que seja tudo, dê certo” e em cima disto assentar-se otimismo como estado de espírito ainda que não haja fundamentos.
A pandemia do coronavírus desnudou o país pobre e carente que somos e as necessidades prementes de grande parte da população, onde governos anteriores ancoraram suas elegibilidades, mediante benesses, que, contudo, com o tempo se tornaram insuficientes e que o novo governo no poder descobriu ser a grande fonte de prestígio e aprovação e, assim, ante esta realidade e a oportunidade de “preparar o caminho” para a disputa da reeleição presidencial, ousa e busca a todo preço e esforço criar um programa assistencial sem que disponha de efetivas fontes de financiamento.
Já foi utilizado o “lucro” sobre o estoque não realizado de divisas do Banco Central do Brasil e transferido para o Tesouro Nacional, numa “bicicleta” pouco percebida e que exigirá que o Tesouro devolva ao BC, em Títulos da Dívida Pública com nova emissão, caso haja valorização do real frente ao dólar.
Agora, a “bola da vez” poderão ser os precatórios que deixariam de observar o cronograma de pagamentos e assim haveria folga no orçamento para os programas assistenciais do governo, em detrimento de credores legítimos.
A crise fiscal tende a ficar cada vez mais preocupante e deteriorando conceitualmente o país, deixando tudo meio à larga, como o câmbio e o famigerado objetivo do “câmbio alto e juro baixo”, sem que haja parâmetros de razoabilidade para esta meta, que irradia seus malefícios capturados pelo IGP-M que afeta preços do atacado que consolidam o “pass-through” para o varejo e que surge de forma avassaladora como inflação latente nos preços e nos serviços no varejo, mas que, por questões metodológicas não é captado.
Já não bastasse a retração de valores e números de beneficiários dos programas assistenciais do governo, a inflação pontual e inevitável nos produtos alimentares exportáveis aviltados em seus preços pelo dólar alto e internacionais elevados, afora a repercussão intensa nos serviços essenciais, em especial administrados, são fatores extremamente redutores do poder de consumo da população.
A BOVESPA já deu sinais de que não é tempo para IPO´S como se vinha efusivamente anunciando, a queda nos preços dos IPO´S realizados está altamente negativa e não há ambiente para mais lançamentos, pois estariam fadados a resultados idênticos.
O câmbio está sendo vitimado pelo juro baixo absolutamente em descompasso com a realidade brasileira, e assim irradia os seus malefícios para toda cadeia produtiva interna nacional, beneficiando tão somente os setores na atividade exportadora, ou seja, benefícios para um setor restrito em detrimento geral, por falta de racionalidade de equilíbrio na compatibilização do que seja câmbio alto e juro baixo.
Na realidade o país tem uma situação de conforto no quesito câmbio com perspectivas de baixa demanda no mercado à vista e reservas cambiais adequadas que deixam o país na posição credora líquida, mas com o “juro baixo” excessivamente deprimido o preço da moeda americana repercute este desequilíbrio, atingindo a incompatível taxa de R$ 5,64.
O governo por algum de seus setores externa preocupações de forma mais objetiva.
Em audiência pública no Congresso, Funchal, Secretário do TN, disse que hoje a curva de juros está "bastante inclinada" justamente por conta das incertezas em relação ao processo de consolidação fiscal.
No ambiente de Selic baixa, justificou ele, a maior incerteza acaba se refletindo na demanda por títulos curtos, provocando um encurtamento da dívida, com aumento das torres de vencimentos.
Funchal disse que o Brasil já tem endividamento maior que seus pares, com crescimento da dívida significativo ao longo deste ano para fazer frente a demandas sociais trazidas pela crise do coronavírus.
Não há como descartar a intensificação de dificuldades do governo rolar a DP e ter que aumentar a taxa de juro que será pressionada pelo mercado financeiro, exatamente pelo setor que clama (sic!) por novo corte na SELIC, a despeito de Funchal asseverar que o colchão de liquidez segue acima do limite prudencial.
Há um sentimento de descontrole geral predominante que é preciso ser corrigido pelo BC.
Amanhã o mercado de câmbio deverá ter um dia muito conturbado, dado o quadro atual e ser o dia da fixação da PTax, taxa referencial para ajuste dos contratos atrelados à moeda estrangeira.