Depois de afundar 70% desde as máximas recordes de maio, indo abaixo de US$500 em setembro, o mercado futuro da madeira serrada recuperou todas as perdas registradas nas últimas sete semanas, aumentando a incessante pressão sobre os preços dos imóveis residenciais nos EUA no ano-novo.
A madeira serrada com entrega em janeiro nos EUA fechou um pouco abaixo de US$1005 por 1000 pés-tábua no pregão de terça-feira. O preço subiu 22% até agora no mês, após um salto de 40% em novembro e um salto líquido de 25% de setembro a outubro.
Em agosto, os preços do contrato referencial da madeira estavam um pouco abaixo de US$450, após colapsarem desde as máximas recordes de maio de mais de US$1700.
Ao ritmo atual, a madeira futura deve encerrar 2021 com uma alta de 15%.
Embora o mercado ainda esteja cerca de 40% abaixo do pico de maio, sua recuperação de mais de US$400 em apenas sete semanas lembra os épicos ralis da commodity durante quase um ano a partir da primavera americana de 2020. Durante esse período, a madeira futura saiu da mínima de menos US$280 em março de 2021 até o pico de maio de 2021 um pouco acima de US$1710 em meio a rupturas na cadeia de fornecimento associadas à pandemia de coronavírus.
Apesar de o governo Biden afirmar que a produção e a logística das commodities e outros materiais essenciais tenham melhorado nos últimos meses, a disparada nos preços da madeira coloca em xeque essa noção.
O mais importante é que a retomada da madeira, componente estrutural primário dos imóveis residenciais nos EUA, pode ter sérias repercussões para os preços das casas no país, que não caíram durante a pandemia devido à inexorável demanda de compradores em um mercado extremamente aquecido.
Quando a madeira futuro afundou entre maio e agosto – logo após atingir a máxima recorde de US$1710 –, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, usou o fato para prever, em junho, que a disparada dos custos residenciais e da inflação mais ampla iria arrefecer.
Nada disso ocorreu.
Os preços residenciais nos EUA tiveram sua maior alta no segundo trimestre. O preço médio de uma casa unifamiliar construída saltou 23% em relação ao ano anterior até a máxima histórica de US$357.900, segundo a associação americana de corretores imobiliários em um relatório de meados de agosto.
Os preços ao consumidor registraram alta de 6,8% no ano até novembro, seu crescimento mais rápido desde 1982, na medida em que os preços de quase tudo dispararam desde as mínimas da pandemia, devido a demandas de maiores salários e rupturas de cadeia de fornecimento. Os preços ao produtor saltaram recordes 9,6% no mês passado, na comparação anual.
O mandato do Fed exige que a instituição mantenha a inflação em torno de 2% ao ano e eleve os juros superar essa marca. O banco central americano indicou que poderia realizar três elevações de juros em 2022, mas ainda não há certeza quanto à efetividade dessa ação na contenção da inflação de materiais como madeira ou preços residenciais.
O Wall Street Journal informou, no início da semana, que os preços à vista da madeira também estavam em alta.
O periódico citou a fornecedora de cotações Random Lengths, dizendo que seu índice que rastreia as vendas à vista havia registrado alta de 65% desde outubro, para US$915. Um ganho de US$129 nesta semana será o maior da história, eclipsando o salto de US$124 de maio, quando os preços da madeira superaram as máximas históricas.
Executivos da indústria da construção também disseram ao Journal que estavam confiantes em elevar os preços das casas ainda mais se a madeira futura continuasse subindo.
“O mercado está muito aquecido em termos de oportunidades de precificação, por isso estamos confortáveis”, disse Ara Hovnanian, que vendeu casas por um preço médio de cerca de US$445.000 no ano fiscal encerrado em 31 de outubro, em comparação com quase US$419.000 no ano anterior.
A associação americana de construtores residenciais também indica que seus membros devem repassar os aumentos de custos da madeira para os compradores de casas.
No relatório da associação sobre os custos relacionados à madeira, ao qual o Investing.com teve acesso, há a recomendação de que seus membros incluam uma “cláusula de ajuste nos contratos, indicando que, se os preços da madeira aumentarem em determinada porcentagem, o cliente deverá arcar com custos adicionais”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.