Ontem, liguei para a minha mãe – como faço de costume aos domingos – para ela falar um pouquinho com os netos. Percebi que ela estava muito triste. Para quem não sabe, minha mãe coordena 2 UTIs no ABC, ambas com pacientes com Covid-19.
Ela me disse que estava tendo que abrir novas UTIs, para dar conta do fluxo de pacientes que estavam chegando, e que estava com dificuldade de encontrar médicos, pois os atuais estavam exaustos e frequentemente adoeciam. Por fim, disse que alguns medicamentos estavam começando a faltar.
A nova onda da Covid-19 está acelerando o número de internações no Brasil. Os médicos perceberam que a nova cepa de Manaus é mais contagiosa que as anteriores. As UTIs de São Paulo já bateram 80 por cento de ocupação.
O lockdown por aqui é esperado para durar até o dia 19, mas quem vê a evolução dos casos de perto diz que essa data terá que ser adiada.
A consequência dessa nova onda, ainda mais agressiva que as outras, será uma atividade bem mais fraca. Teremos novas reduções de mobilidade, vendas e produção.
Além disso, desta vez não teremos o auxílio emergencial de 600 reais, fazendo um contraponto de estímulos. O auxílio, se aprovado, deve ser de 250 reais, por 4 meses, e com mais restrições de acesso. Afinal, não temos mais "bala" para um programa fiscal amplo.
A atividade fraca deve impactar alguns preços, como serviços, lazer, passagens aéreas etc.
Por outro lado, a alta de preços de alimentos e industriais estava começando a ser repassada para o resto da economia. Isso fez com que os agentes subissem suas expectativas de inflação. Essa alta das expectativas contaminou o mercado, que passou a precificar a necessidade de altas agressivas de juros nas curvas futuras.
O Banco Central está se sentindo pressionado a subir a taxa Selic, mas fará isso na pior fase da crise econômica, agravando ainda mais a recuperação. Estamos em uma espiral negativa que deve manter a nossa atividade bem fraca: onda de Covid-19 + lockdown + alta de juros + auxílio mais baixo.
Desta vez, estamos na contramão dos outros países, visto que algumas regiões já estão com a vacinação em fase mais avançada, permitindo que a população inicie a volta das atividades normais. O Brasil tem cerca de 3 por cento da população vacinada, especialmente profissionais da saúde e idosos.
As bolsas ao redor do mundo estão começando um movimento de valorização das ações cíclicas. Aquelas mais ligadas à atividade econômica, como varejo, que sofreram muito durante a crise, estão entrando no radar dos investidores internacionais com a reabertura da economia.
No Brasil, esse trade não deve acontecer por agora. Nossa atividade ainda tomará um novo hit, e essas ações cíclicas devem se manter longe do interesse do investidor. Portanto, investidores, apertem os cintos! Ainda vamos ver alguns solavancos por aqui. Esteja seguro que seu portfólio tenha boas empresas a bons preços.
Por fim, não poderia deixar de parabenizar todas as investidoras que nos seguem por aqui! Hoje, comemoramos um dia simbólico da luta pela igualdade. Não porque temos que ser iguais, afinal, somos diferentes, mas sim porque temos que ter exatamente os mesmos direitos.
Não somente os mesmos direitos civis, como também o direito de sermos qualquer coisa que quisermos ser. O mercado financeiro é um mundo agressivo, desafiador e extremamente exigente. É perfeito para mim e pode ser perfeito para você também! Por que não?
Nossas antecessoras brigaram para que pudéssemos estudar, votar e trabalhar. Nós estamos mostrando a todos que quando nos colocam em uma posição que antes não era nossa, nós arrebentamos! Sem perder a classe e ainda cuidando com muito amor dos filhos.
Existe bicho melhor neste mundo?
Um feliz dia das mulheres a todas vocês! Que vocês mostrem que o impossível é só questão da primeira vir e fazer.
Um abraço e bons negócios.