O tom da fala do Ministro Paulo Guedes na 3ª à noite comunicando a saída de dois importantes personagens da ala liberalista do governo, após outras baixas recentes e, com muitos ruídos sobre novos desligamentos, sugeriu que o ideal liberalista do governo, centrado no discurso do Ministro da Economia, está seriamente comprometido.
E ficou mais evidente o que já era amplamente perceptível os programas do governo focando o desentranhamento de setores privatizáveis e muita burocracia não tinham dinamismo compatível com os discursos governamentais.
Decepcionados, os membros optam pelo que é mais digno a profissionais, se afastam e deixam evidente que a ideia liberalista encontra sérios obstáculos no Brasil, pois confronta com um “status quo” viciado e inoperante.
O mercado financeiro “sentiu”, mas procurou ser discreto, visto que o risco maior é o próprio Ministro Guedes, por exaustão, resolver “deixar o barco”, então cautelarmente tratou do tema com sensatez, mas naturalmente sabe das preocupações presentes.
Na linha dos desagrados do Ministro há também a preocupação com as pressões políticas forçando o rompimento do teto de gastos, sem que haja clareza na definição de fontes de financiamentos.
Se o liberalismo se for, provavelmente pode ser comprometida a tese do “juro baixo e câmbio alto”, que até agora não revelou benefícios relevantes para a atividade econômica, havendo muita retórica no entorno, mas os números de benefícios são modestos, salvo a mudança relevante no custeio da dívida pública.
O momento sugere um hiato para reflexão do que há efetivamente de concreto e o que é anseio e otimismo gerado a partir de bases com frágeis sustentabilidades.
A economia brasileira que já vinha claudicante antes da crise da pandemia do coronavírus teve fortemente deteriorada as suas bases, e, agora os índices de retomada de atividade revelam alguma expressividade, mas a partir de bases fragilizadas.
Além disto, é preciso considerar que os resultados recentes de varejo e indústria podem ser “bolhas” de impactos pontuais decorrentes de reposição de estoques na indústria e aumento de vendas no varejo turbinadas pelos programas assistenciais do governo e o crédito gerado a partir dos cartões de crédito, ambos finitos no curto prazo.
O fato concreto é que o mais importante setor da economia pela qual representa 70% do PIB e grande geradora de empregos, os serviços não evidencia recuperação como esperada e inibe as perspectivas de redução do desemprego, e isto sim, é algo que precisa ser focado quando se analisa a retomada das atividades.
Setor de serviços está “patinando” e um tanto quanto “preocupado” com a Reforma Tributária em curso, que pode representar aumento de carga tributária.
O único setor de “tem dinamismo e vida própria” no país é o agronegócio e o país esta voltando rapidamente as suas origens coloniais com aplicação de modernas técnicas de produção e se tornando o grande celeiro de alimentos do mundo.
Este, em realidade, é o único setor que demonstra vitalidade sustentável e grande beneficiário do “câmbio alto”, que visava também criar atratividade do país aos programas de privatizações, que não conseguiram evoluir e estão entravados.
Este quadro presente sugere que a Bovespa permanece “lateral”, sem tração, pois a atividade econômica não referência os arroubos de grandes valorizações de ações e mais, a migração dos investidores pessoas físicas do setor de renda fixa, afastados pela queda do juro, sugere interrupção cautelar e os investidores estrangeiros estão ausentes, exceto no início deste mês quando houve um volumoso leilão de ações da Vale (SA:VALE3), que contribui para que o fluxo cambial de 1-7 deste mês fosse positivo.
O dólar com o acontecimento na área econômica, certamente, romperia o piso de R$ 5,50 pelo desapontamento, aproximou-se atingindo R$ 5,4908, reação amplamente atípica se comparado o comportamento das demais moedas emergentes ante o dólar, mas o BC após meses, percebendo a pressão especulativa, vendeu US$ 1,0 Bi em swaps cambiais novos em 2 leilões e ainda assim o preço do dólar fechou a R$. 5,4329.
A Bovespa já se demonstrava sem “tração” e deve assim continuar, e o dólar, afora movimentos pontuais especulativos, deve ser manter, com vigilância do BC, dentro do parâmetro de R$ 5,00 a R$ 5,50, tendendo a média de R$ 5,25.
Porém, as perspectivas devem passar a ser mais predominantemente formadas a partir do nosso cenário interno e com foco em todos os fatores que tendam a pressionar mais ainda o elevado risco fiscal do país, que está em nível altamente preocupante.
Quando observamos mais detidamente as realidades internas, certamente o otimismo perde um pouco do euforismo e surge a preocupação efetiva.