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Leite Retro 2017: Um Ano Marcado Pelo Desequilíbrio Entre Oferta e Demanda

Publicado 21.01.2018, 07:05
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O ano de 2017 se iniciou com os preços do leite pagos ao produtor nos maiores patamares da série histórica do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, iniciada em 2004, considerando-se os meses de janeiro. Isso é resultado do período de baixa oferta e de alto custo de produção verificados no ano anterior. Parte dos agentes de mercado já sabia que esta era uma situação excepcional e que sua manutenção era quase improvável. No entanto, a queda precoce dos preços já em junho, em plena entressafra da produção, surpreendeu muitos produtores. No balanço, 2017 foi um ano difícil para a pecuária leiteira e marcado pela forte volatilidade de preços, ainda que os custos de produção tenham se mantido praticamente estáveis. O desequilíbrio entre oferta e demanda se mostrou mais forte em 2017 e ressaltou as fragilidades da cadeia láctea.

Nos primeiros meses de 2017, os valores elevados do leite no campo e os menores preços do milho e do farelo de soja motivaram produtores a investirem na atividade e a aumentarem a produção. De acordo com o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L), que monitora a aquisição das indústrias mensalmente, a captação de leite subiu 9,38% na “média Brasil” (que considera os estados de BA, GO, MG, SP, PR, SC, RS) de janeiro a novembro, resultado puxado, principalmente, pelo Sul do Brasil. Na comparação da média de janeiro a novembro de 2017 com a do mesmo período de 2016, o incremento é de 7,76%.

O aumento da oferta de matéria-prima no campo, porém, superou a demanda, que já vinha enfraquecida desde 2016. Por conta da recessão econômica, consumidores brasileiros foram às compras com mais cautela, diminuindo a aquisição de produtos que não são considerados essenciais – o caso da maioria dos produtos lácteos. Segundo cálculos do Cepea, o consumo aparente de lácteos per capita caiu 2,2% de 2013 para 2016, com média de 171,2 litros de leite.

A diferença entre o aumento na produção e a queda da demanda levou à desvalorização acumulada de 22% do leite no campo de junho a outubro. Na média desse período, o preço ao produtor ficou 19% abaixo do registrado no mesmo intervalo de 2016. Na média de janeiro a dezembro de 2017, o recuo no preço é de 9% na comparação com 2016, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de novembro/17).

A diminuição da receita preocupou produtores, que recorreram a associações e órgãos governamentais para reivindicar medidas que segurassem as cotações no campo. A principal bandeira levantada foi a de que as importações uruguaias de leite em pó a preços baixos estavam prejudicando a competitividade do mercado nacional. Após meses de pressão por parte de associações de produtores, em outubro, o Mapa suspendeu as importações uruguaias, alegando suspeita de haver triangulação na compra e venda do produto. A medida, contudo, ficou vigente por apenas 27 dias, visto que as negociações estavam em conformidade. A suspensão das importações uruguaias suscitou expectativas infundadas de recuperação de preços domésticos, já que a formação da cotação no mercado interno não é diretamente influenciada pelas compras externas.

Vale destacar que as importações de lácteos em 2017, na verdade, apresentaram fortes quedas se comparadas às de 2016. O volume total importado foi de 72 mil toneladas, 48,5% abaixo de 2016, sendo que, só de leite em pó, foram 39 mil toneladas, 56,1% a menos que no ano anterior. Foram importadas 17,7 mil toneladas de leite em pó uruguaio, 69,1% abaixo de 2016. Esse volume não chega a representar 2% do total de leite produzido no Brasil.

A temporada de 2017 evidenciou um sério desafio da cadeia láctea, que é encontrar o equilíbrio entre oferta e demanda e diminuir a volatilidade de preços no mercado interno. A “montanha russa” de preços observada nos últimos anos expõe as fragilidades do setor e ressalta a importância de se colocar em discussão assuntos, tais como a ampliação das negociações com o mercado externo, a necessidade de elevar a qualidade da matéria-prima, a efetividade das políticas de pagamento por qualidade, a importância da transparência das negociações entre os elos da cadeia de elevar o nível de gestão de fazendas e indústrias, o desafio de estimular o consumo de lácteos e a necessidade de criar políticas públicas de longo prazo para o setor. O caminho, com certeza, é árduo, mas, se 2017 trouxe algo de positivo foi, justamente, as maiores organização, articulação e profissionalização do setor – bons sinais de que a mudança já começou.

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