Na porta da vendinha do Seu Zé, uma placa recém-instalada dizia: "Para levar o leite, tem que comprar o pão!"
A regra havia sido estipulada pelo pequeno comerciante devido à escassez do leite, que mal chegava à prateleira e rapidamente era vendido. O preço já havia se multiplicado algumas vezes e, sem entrar em méritos legais, a venda casada era a forma de aumentar a margem do negócio e garantir a sobrevivência do empreendimento.
Aqueles que viveram a dinâmica de preços antes do nosso querido Plano Real devem se lembrar de situações semelhantes.
A realidade é que são várias as “vendas casadas” que enfrentamos ao longo da vida.
Na venda do Seu Zé, o preço que se paga para levar o leite é comprar o pão. Na vida, o preço que se paga para obter um diploma é fazer uma série de provas e trabalhos. O preço que se paga para ficar em forma, é seguir uma dieta aliada a exercícios físicos regulares. Para desfrutar de uma limonada refrescante, é preciso espremer os limões. O preço que se paga por viver em uma democracia é enfrentar as instabilidades e os conflitos próprios de cada período eleitoral.
Nas decisões diárias de investimento não é diferente.
Para surfar os juros compostos, é preciso abdicar do “pinga-pinga” todo mês.
Para investir em inflação longa – classe de maior retorno histórico do Brasil – é preciso aguentar vários altos e baixos em um ativo de renda fixa e entender que um ativo atrelado à inflação não necessariamente ganha dela no curto prazo.
Para garantir a manutenção do seu poder de compra em relação ao resto do mundo, é preciso investir um percentual relevante da sua carteira em moedas fortes, independentemente do seu viés de curto prazo para o dólar.
Para investir em fundos alternativos como private equity e venture capital, é preciso abrir mão de liquidez imediata.
Para buscar o maior retorno potencial e maior eficiência do portfólio, é preciso investir na versão de maior volatilidade de um mesmo fundo.
Para uma aposentadoria tranquila no futuro, é preciso investir corretamente hoje.
Para ter maiores retornos no longo prazo, talvez o maior preço que tenhamos de pagar sejam as horas dedicadas ao estudo e acompanhamento das diversas variáveis que podem exigir ajustes durante o caminho.
Um abraço