A Lei de Redução da Inflação, que deve ser aprovada no Congresso dos EUA nesta semana, contém vários dispositivos que podem impactar a indústria energética do país. Analisamos abaixo o que os investidores do setor podem esperar em relação ao impacto dessa legislação nos mercados de petróleo, gás natural e ações de energia.
1. Créditos tributários para captura de carbono, hidrogênio e iniciativas de biocombustível
Esses créditos aparecem em áreas da indústria energética nas quais grandes produtoras de combustível fóssil, como ExxonMobil (NYSE:XOM) e Occidental Petroleum (NYSE:OXY), já estão investindo, sem qualquer expectativa de retorno no curto prazo. Ainda estamos a anos de distância do desenvolvimento de uma tecnologia econômica para a captura de carbono, sem falar que o mercado de biocombustíveis está em sua infância, assim como o de hidrogênio. As grandes empresas de óleo e gás nos EUA ganham dinheiro produzindo e vendendo combustíveis fósseis, mas podem se dar ao luxo de investir em projetos caros de captura de carbono e pesquisa de biocombustíveis que, após a aprovação dessa legislação, permitirão que obtenham grandes isenções tributárias. Empresas menores de petróleo e gás não dispõem de recursos para gastar com iniciativas extravagantes sem perspectiva de lucro, portanto não conseguirão se aproveitar os incentivos tributários obtidos pelas grandes petroleiras.
Isso é relevante para os operadores e investidores, na medida em que as empresas independentes produzem 83% do petróleo e 90% do gás natural consumidos nos EUA, de acordo com a Associação Independente do Petróleo da América. Essa legislação dificultará ainda mais a capacidade das pequenas empresas de competir, bem como a entrada de novos players no mercado. Quem sairá perdendo é a produção de petróleo nos EUA.
2. Créditos tributários para veículos elétricos
A legislação inclui o que parece ser um crédito tributário bastante significativo para a compra de veículos elétricos (VEs): US$ 7.500. À primeira vista, a sensação é que isso forneceria um grande estímulo para a indústria de VEs, favorecendo as ações de empresas do setor, como Tesla (NASDAQ:TSLA) e Rivian (NASDAQ:RIVN). Contudo, para que um VE se qualifique a esse crédito tributário, a bateria deve ser construída na América do Norte, onde também devem ser extraídos os minerais e os materiais reciclados para sua fabricação. É possível que as fabricantes de VEs encontrem uma forma de contornar esse dispositivo, mas, neste momento, a indústria automotiva diz que 50 de 72 veículos híbridos plug-in e de hidrogênio disponíveis nos EUA não se qualificariam para o crédito.
Esse crédito tem a intenção de incentivar a fabricação doméstica de baterias, bem como a mineração local de minerais, como o cobalto, que são componentes das baterias dos VEs. No entanto, os obstáculos para a construção de fábricas de baterias e abertura de novas minas são muito mais significativos do que um crédito tributário de US$ 7500. Os vendedores de VEs podem encontrar uma forma de ludibriar as condições, talvez adicionando uma peça fabricada domesticamente a baterias feitas no exterior, afirmando que foram feitas na América do Norte, mas, neste momento, o incentivo tributário não ajudará a vender mais VEs. Os investidores que estão prevendo o crescimento do uso de VEs nas projeções de demanda de petróleo não devem alimentar expectativas de que essa legislação resultará em maiores compras de VEs, pelo menos não no curto prazo. Assim, quem considera que esse incentivo pode aumentar a receita de empresas de VEs deve ter bastante cautela.
3. Tarifação do metano
A legislação prevê tarifas a produtores de petróleo e gás que emitirem metano por conta das suas operações. As empresas que liberarem ou deixarem escapar metano na atmosfera podem ser multadas em US$ 900 por tonelada em 2024, sendo que as taxas aumentarão para US$ 1500 por tonelada em 2026. Para contextualizar esse valor, ele equivale a duas vezes o preço corrente de mercado do gás natural. Os grupos ambientais afirmam que essas tarifas forçariam as empresas de petróleo e gás a reduzir suas emissões o mais rápido possível para não serem multadas. No entanto, as tarifas só se aplicariam a empresas que não cumprirem as normas de metano da Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Ocorre que tais normas ainda não foram concluídas, sem previsão para tanto até o início de 2023.
Na prática, algumas empresas ficarão em grande desvantagem. Entre elas estão as que não implementaram sistemas caríssimos de monitoramento de metano, não têm infraestrutura de captura, usam o metano para realizar suas próprias operações ou não têm conexão com a rede de tubulações que permite canalizar o excesso de metano para o mercado de gás natural.
Além disso, esses produtores não conseguirão perfurar rapidamente novos poços nem colocar em operação novas produções, como conseguiam fazer nas regiões de shale oil. Os produtores dos EUA nessas regiões costumavam responder à dinâmica do mercado, aumentando ou diminuindo rapidamente a produção. Com essas novas regras, a produção não só ficará mais cara, como também levará mais tempo para entrar em operação, pois será necessária mais infraestrutura para tratamento do metano, antes do início da perfuração. O Permiano, ou qualquer região futura de shale oil que for descoberta, não conseguirá mais ter a mesma agilidade na produção petrolífera que costumava ter. Os investidores devem compreender que tais restrições diminuirão a capacidade de resposta da produção americana às condições de mercado no futuro.
Publicado originalmente em inglês em 11/08/2022