A melhora do quadro inflacionário e a perspectiva do início da redução da Selic pelo Copom no segundo semestre deste ano tem despertado a atenção dos investidores no Brasil, que têm acompanhado com mais afinco as notícias envolvendo as taxas de juros. A aposta da grande maioria dos agentes do mercado financeiro é a de que a redução comece no encontro do comitê em agosto.
Os Bancos Centrais desenvolvem suas políticas monetárias com a finalidade de moderar os aumentos nos níveis de preços ao consumidor ou algum outro índice de preços, conhecido como meta de inflação. Sendo assim, a inflação convergindo para a meta, ou dentro dos limites de tolerância estabelecidos, gera a possibilidade de redução dos juros pela autoridade monetária.
Como o mercado acionário reage às expectativas dos investidores, esse movimento vem sendo precificado nos ativos de risco, uma vez que são influenciados pela dinâmica dos juros. Mesmo que nem sempre o desempenho dos ativos de renda variável esteja correlacionado a um indicador do mercado, o declínio dos juros pode tornar o investimento nessa classe mais atrativa, já que reduz o custo de oportunidade.
Em um contexto de queda de juros, a menor rentabilidade prevista para a renda fixa acaba levando os investidores a buscarem ativos de maior risco, ou seja, tende a ocorrer um fluxo de capital para a renda variável em busca de ganhos superiores. Esse movimento contribui para a valorização das ações.
Jeremy J. Siegel, autor do livro “investindo em ações no longo prazo”, aponta que “as taxas de juros são uma influência extremamente importante sobre os preços das ações porque elas descontam os fluxos de caixa futuros das empresas.” O renomado professor de finanças da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, complementa: “os títulos ficam mais atraentes quando as taxas de juros sobem. Desse modo, os investidores vendem as ações até o momento em que os retornos voltem a ser atraentes em relação aos retornos dos títulos. O oposto ocorre quando as taxas de juros caem”.
Outros aspectos que favorecem a atual tendência de alta do mercado acionário são: o horizonte mais previsível, uma vez que a fonte de volatilidade nos mercados é a mudança do sentimento de confiança para o pessimismo dos investidores. No passado recente, os fatores de risco estavam associados à alta inflação em diversos países, desaceleração econômica global e aperto monetário nos principais polos econômicos.
Além disso, há a possibilidade de melhora do consumo e da margem das companhias. Em um cenário de juros mais baixos, o crédito fica mais acessível e as famílias conseguem elevar o padrão de consumo que, por sua vez, faz com que grande parte das empresas aumente o volume de vendas. As companhias também conseguem captar recursos com menores taxas, pois o custo do dinheiro cai, estimulando os investimentos e a expansão da produção. Como consequência, amplifica a capacidade de crescimento.
O Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, mostra as projeções das principais instituições do mercado financeiro para a economia brasileira. No último relatório, a estimativa para a taxa de juros Selic foi de 12% ao final de 2023, 9,50% em 2024 e 9% em 2025. Portanto, a trajetória prevista é de queda em relação aos atuais 13,75%.
Por fim, será preciso que a inflação continue estabilizando para sustentar a redução de juros pelo BC nacional e favoreça os ativos de risco. Os dados de inflação abaixo das expectativas colaboram para a queda da taxa de juros e impulsionam os preços das ações. Por outro lado, os dados de inflação acima das expectativas contribuem para elevar ou manter a taxa de juros e impactam negativamente os preços dos papéis.