Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 04/12/2020
Várias ações de tecnologia dispararam em 2020 com o derretimento dos juros, e os investidores buscaram proteção no crescimento das receitas e dos lucros do setor. O que alimentou ainda mais esse movimento foi a crença de que essas ações aceleraram seu crescimento devido à pandemia. Mas pode ser que esse movimento esteja com os dias contados, já que os juros começam a subir devagar, e os resultados corporativos estão tendo dificuldade para superar as expectativas.
Várias dessas histórias de crescimento de longo prazo já desmoronaram nesta semana, como Zoom (NASDAQ:ZM) (SA:Z1OM34), Salesforce (NYSE:CRM) (SA:SSFO34) e Splunk (NASDAQ:SPLK), que registraram fortes quedas após seus balanços.
Jogo da taxa de rendimento
As ações da Salesforce viram sua taxa de rendimento (relação inversa do índice P/L) atingir seu nível mais baixo desde 2018, cerca de 1,4% em 2 de setembro. No gráfico abaixo, é possível notar como a taxa de rendimento das ações da Salesforce apresentavam o histórico médio de cerca de 1,85%. Mas o fato de as taxas juros de 10 anos atingirem novas mínimas recordes deu munição para que os investidores fizessem cair a taxa de rendimento das ações da Salesforce, na tentativa de manter o spread com o rendimento dos treasuries de 10 anos perto dos padrões históricos, o que fez o preço da ação subir forte.
É essencial compreender que a narrativa da taxa de rendimento é de certa forma a força motriz por trás de alguns desses avanços. Isso porque, se as ações vêm subindo por causa da redução das taxas de juros, a elevação desses juros indica justamente o contrário, ou seja, que as ações podem cair.
Rendimentos dos treasuries sinalizam forte alta
É importante que os investidores prestem atenção a essa correlação mais do que nunca. As taxas de 10 anos estão perto de um rompimento de alta, já que estão testando a importante linha de tendência de baixa iniciada desde 2018. O único obstáculo que pode impedir a alta forte dos juros é o nível de resistência em torno de 1%. Se a taxa de 10 anos ultrapassar 1%, pode fazer um grande salto até 1,3%. Com base no índice de força relativa, o momentum também mostra que os rendimentos podem continuar subindo, em uma clara tendência de alta.
E não são apenas os juros que podem acabar com a festa. Tudo leva a crer que algumas dessas ações estão com valuations exagerados, os quais estão sendo colocados à prova neste momento. A Zoom, por exemplo, divulgou resultados acima das expectativas nesta semana. Mesmo assim, o papel foi duramente castigado, caindo mais de 15%, por causa de preocupações com a contração das margens. A Splunk é outro exemplo de ação que teve excelente desempenho neste ano e caiu cerca de 20% depois de os seus resultados ficarem aquém das expectativas.
Euforia
Pode ser que essas ações tenham caído forte porque os rendimentos dos treasuries já subiram cerca de 40 pontos-base desde meados do ano, o que dificulta sua manutenção em carteira. Se as empresas não conseguirem superar em muito os resultados esperados pelos investidores, fica difícil justificar os elevados múltiplos concedidos a essas ações. Se as estimativas consensuais de resultados não subirem a um ritmo rápido o bastante para compensar a alta dos rendimentos dos títulos públicos americanos, a razão para ter essas ações em carteira começa a perder sentido.
Também pode ocorrer de os investidores finalmente começarem a acordar para o fato de que os valuations dessas empresas alcançaram níveis muito eufóricos. Independente do caso, parece claro que parte dessa euforia já começou a se desfazer.