Juros maiores por mais tempo prejudicam investidores de títulos
A inflação mensal nos EUA veio em linha com as expectativas em janeiro. Após certa hesitação, as taxas acabaram subindo com vigor. Dada a falta de um sinal claro no relatório do índice de preços ao consumidor (IPC), encaramos isso como um sinal de que os investidores de títulos ainda estão vulneráveis à narrativa de juros mais altos por mais tempo. Os títulos de 10 anos do Tesouro americano cruzaram decididamente a marca de 3,75%, enquanto as notas de 2 anos estão rapidamente convergindo para 5%. A taxa de dois anos a 5% pressupõe que a taxa terminal ficará muito mais alta do que está atualmente precificada (5,25%) ou que não haverá um corte de juros nesse horizonte. É um cenário difícil, mas a força está do lado dos vendedores.
Para fins de comparação, o achatamento da curva em vencimentos mais longos parece ser uma tendência que queima a fogo baixo, mas as taxas de dois e dez anos não atingiam esse nível de achatamento desde a década de 1980. A trajetória mais restritiva dos juros é a principal culpada, mas é fácil se esquecer de como as taxas da ponta longa estão ancoradas, possibilitando a atual inversão. Em essência, as taxas longas baixas ilustram que os mercados não estão mudando facilmente sua visão sobre os níveis de equilíbrio das taxas reais e da inflação. Na prática, acreditamos que os resquícios da intervenção passada do Federal Reserve no mercado de títulos continuam suprimindo o prêmio a termo e mantendo a curva mais achatada do que ela estaria em outra situação.
A boa notícia é que nossa equipe econômica considera que o núcleo da inflação recuará para 2% no fim do ano. Mesmo que essa previsão não se concretize por um ponto percentual, acreditamos que será um grande alívio para os mercados financeiros. Contudo, essa não é a forma como os investidores pensam no momento, e os dados de ontem devem atrasar ainda mais o movimento de queda das taxas que se espera para o fim do ano.
- Intervenção passada do Fed no mercado de títulos evita que taxas mais longas subam tão rápido quanto na ponta curta
Fonte: Refinitiv, ING
Sentimento de risco mais forte do que nunca, mas o risco soberano não é atraente
Ao contrário dos mercados de renda fixa com melhor classificação, os títulos de beta elevado ainda estão aproveitando seu momento ao sol. Isso contrasta fortemente com 2022, quando a expectativa de uma política monetária mais restritiva provocou a queda das ações e a ampliação dos spreads (diferenciais) de crédito. No papel, a atual reprecificação para cima nas taxas centrais em resposta às melhores perspectivas de crescimento é o tipo certo de aperto. Mas, nas palavras de Lorie Logan, do Fed de Dallas, pode ser necessário elevar as taxas, a fim de “responder a mudanças na perspectiva econômica ou neutralizar qualquer flexibilização indesejada das condições financeiras”. Em outras palavras, o Fed elevaria os juros para arrefecer o crescimento ou os mercados financeiros. Isso nos parece ser um tiro em cheio no sentimento do mercado em relação a um pouso suave desde janeiro.
Os spreads soberanos na Europa são uma área em que o apetite para o risco é mais visível. Em tese, tudo está indo bem: os títulos de beta mais elevado se beneficiam tanto das expectativas de flexibilização dos bancos centrais quanto das melhores perspectivas de crescimento. A primeira suposição está sendo questionada, e os dados de curto prazo não devem desviar a atenção em relação ao enfraquecimento dos fundamentos econômicos, ainda que sua deterioração esteja mais lenta do que o esperado. Mesmo que o sentimento de risco se mantenha, há muitos catalisadores políticos para que o apetite pelo risco diminua daqui para frente. O governo italiano está em conflito com a Comissão Europeia quanto à suspensão do Pacto de Estabilidade e Crescimento e aos planos de recuperação nacional pré-acordados. Além disso, a Grécia e a Espanha têm eleições marcadas para este ano. Tudo isso deve aumentar a pressão sobre a oferta neste ano.
- Há muitos riscos para spreads soberanos, para não dizer à oferta
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