O primeiro trimestre terminou aprofundando as tendências que marcaram o início do ano. Os indicadores de atividade e inflação nos EUA fizeram os mercados descartarem de vez as esperanças de início do ciclo de cortes nas taxas de juros na primeira metade de 2024, abrindo o debate sobre as perspectivas para o afrouxamento no segundo semestre. Na mesma direção, as apostas de que encerraríamos o ano com três cortes de 0,25 ponto percentual estão dando lugar para projeções de reduções menores.
No final do ano, a ata do Fomc comemorou o sucesso no processo de desinflação observado no segundo semestre de 2023, o que alimentou expectativas de cortes nos juros a partir de março deste ano. Já na virada para 2024, o mesmo Fed passou a adotar uma mensagem bastante cautelosa que, aos poucos, foi impactando as projeções e levando analistas a acreditar que junho seria então o mês mais provável para dar a partida no novo ciclo.
De forma resumida, a mensagem que as autoridades adotaram a partir de janeiro envolve três pontos: 1) o reconhecimento de que a evolução dos indicadores de inflação e emprego nos últimos meses do ano passado foi muito positiva; 2) a declaração de que o ciclo de alta está encerrado; e 3) a necessidade de uma confiança extra de que a inflação está de fato convergindo para a meta de 2% de forma sustentável antes de dar os próximos passos. Enquanto os dois primeiros apontam para um afrouxamento da política monetária, o terceiro adiciona cautela.
Se os números de janeiro e fevereiro não contribuíram muito para gerar a confiança extra para os membros do Fomc, também não tiveram grandes impactos nos ajustes das expectativas do mercado. Esse quadro, no entanto, mudou consideravelmente com a divulgação de indicadores referentes a março.
Primeiramente, o mercado de trabalho permaneceu bastante aquecido, com a taxa de desemprego nos EUA abaixo dos 4% e os dados de contratações superando bastante as expectativas ao registrar a criação de 303 mil novas vagas. Em segundo lugar, os dados de inflação mostraram um quadro de resistência e dificuldade para percorrer a chamada última milha na convergência à meta de 2% ao ano. Os números do índice de preços ao consumidor americano (CPI, em inglês), divulgados no dia 10, com o núcleo de inflação ainda próximo dos 4%, foram a gota d'água para que as expectativas passassem por uma recalibragem mais forte.
Nesse cenário, os títulos de renda fixa nos Estados Unidos seguem respondendo com altas nas taxas, principalmente nos vencimentos mais curtos. Na semana da divulgação do CPI, por exemplo, a Treasury de 2 anos subiu mais de 15 pontos-base, e a de 10 anos, 10 pontos-base, reforçando a tese a favor de uma alocação tática em renda fixa americana, visando receber renda passiva em dólares com taxas atraentes sem a necessidade de exposição a títulos de alto risco (high yield).
Em resumo, entramos na segunda quinzena de abril com a política monetária e a dinâmica dos juros nos EUA ameaçando ofuscar os demais temas de investimentos. Após muitos darem como certo o pouso suave para a economia americana, os riscos de uma nova decolagem nos preços se apresentam enquanto os mercados correm para tomar pé dos ajustes nos balanços de incertezas que se formam.
Por ora temos juros maiores, ouro e dólar mais fortes e movimentos negativos nos ativos de risco. Um quadro de turbulências se anuncia para os próximos meses, reforçando a importância de ter um portfólio de investimentos protegido e diversificado.