Vocês que me acompanham aqui sabem que gosto de analisar o câmbio com um olhar macro e de curto prazo. Até porque não acredito e não confio em previsões de longo prazo, que não se realizam na maioria das vezes, nem em análises de um fundamento só para o Brasil.
A meu ver, o Fed não tem escolha a não ser continuar drenando liquidez do sistema e causando uma desaceleração no crescimento econômico. Vão ter que subir os juros em prováveis 0,75% dia 21 deste mês, e com isso há grandes chances de frear o consumo (pelo menos em parte) e o dólar se valorizar, conforme temos acompanhado nos últimos dias. O que vamos ver é se esse ajuste para cima dos juros já estará precificado na taxa de câmbio ou não. Além disso neste mesmo dia teremos um aumento também na Selic, que deve chegar a 14%, contendo em parte essa corrida ao dólar.
A pequena correção de ontem (queda de 0,22%) na taxa do dólar, que fechou o dia cotado a R$ 5,1787 para venda à vista, ainda demonstra aversão a risco e temor de desaceleração nas economias mundiais. A pressão não fica apenas nos Estados Unidos, mas esse medo de inflação alta e persistente também se estende à Europa.
Por aqui, outro tema que voltou a pauta foi a questão do teto de gastos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu ajustes ao teto de gastos ontem, ressaltando que a regra seria um obstáculo para que governo distribuísse à população de baixa renda recursos levantados com privatizações. O governo aprovou exceções ao teto no Congresso para viabilizar despesas extraordinárias com o enfrentamento da pandemia de Covid-19 e para repassar recursos da cessão onerosa a Estados e municípios. Este ano, também recebeu sinal verde do Legislativo para ampliar o valor do Auxílio Emergencial no ano eleitoral, mantendo as despesas extras fora da regra fiscal. O governo segue com o desafio de encontrar espaço no Orçamento, em meio às restrições impostas pelo teto, que limita o crescimento total das despesas à variação da inflação. Seja qual for o próximo presidente esse auxílio deve ser mantido.
A questão fiscal é de extrema importância para credibilidade do Brasil na visão do investidor estrangeiro. Mais um assunto que estava “meio esquecido” pelos analistas de câmbio e que deve voltar à tona.
O mercado segue atento às mesmas coisas: inflação no mundo, diferencial de juros (aqui estamos na reta final dos aumentos, enquanto nos EUA e Europa ainda tem espaço para novas altas), a crise provocada pela guerra na Ucrânia e consequente valorização de commodities, os lockdowns na China, que desaceleraram o consumo por lá, e eleições presidenciais por aqui.
Para hoje, o calendário tem discursos de membros do BCE na Europa. Aqui no Brasil, o IBC-Br (índice que tenta antecipar o resultado do PIB e ajudar a autoridade monetária na definição de taxa de juros). Nos EUA, muitos dados como pedidos de seguro-desemprego, vendas no varejo, relatório de empregos e produção industrial.
Força, turma! Força, real! Sangue frio e bola pra frente!