Existe há bastante tempo um argumento simples a favor das ações da Johnson & Johnson (NYSE:JNJ)(SA:JNJB34). Em todo o mundo, as pessoas estão vivendo mais e tendo mais acesso a serviços de saúde de qualidade. Essa tendência vai continuar e deve contribuir para uma geração estável e consistente de receitas e lucros para a J&J.
É preciso reconhecer que tal argumento pode soar não apenas simples, mas também simplista. Mas não podemos nos esquecer de que as despesas com saúde no mundo em 2022 devem ficar na faixa de US$ 10 trilhões. Ao divulgar seu balanço do 1º tri, na terça-feira, a Johnson & Johnson projetou que sua receita em 2022 ficará um pouco abaixo de US$ 100 bilhões.
Mesmo excluindo a contribuição da unidade Consumer Health da companhia – que abrange produtos não médicos, como xampus e talcos para bebês e está sendo separada em uma empresa independente – os produtos da J&J representam cerca de 0,8% das despesas médicas anuais no mundo.
As receitas e os lucros da J&J continuarão subindo, desde que os gastos com saúde sigam em ascensão e a companhia mantenha sua boa execução. O balanço do 1º tri desta semana pode aumentar a confiança dos investidores em ambas as frentes.
Mesmo em vista do preço de fechamento recorde, com suas ações encerrando o pregão de terça-feira a US$183,08, a JNJ continua barata o suficiente para que essa confiança siga impulsionando o papel para cima daqui para frente.
Uma empresa sólida
Poucos ousariam contestar o fato de que a Johnson & Johnson é uma das melhores empresas do mundo. Vale a pena repetir: a empresa gera cerca de 0,8% de todas as despesas com saúde no mundo.
Esse volume impressionante deve-se, em parte, ao alcance global da companhia. Com base em seu relatório anual registrado junto à SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, a J&J opera em “quase todos os países do mundo”. Em 2021, cerca de metade da sua receita veio de fora dos EUA.
Sua unidade de aparelhos médicos, conhecida como MedTech, gerou uma receita de quase US$28 bilhões no ano passado. No mundo, ela só fica atrás da Medtronic (NYSE:MDT)
Sua unidade farmacêutica é a sexta maior do planeta, à frente de líderes como Pfizer (NYSE:PFE) e Bristol Myers Squibb (NYSE:BMY).
Os números do 1º tri colocam em destaque tanto a força quanto a amplitude das franquias da J&J. Geograficamente, a receita operacional ajustada nos EUA (que exclui aquisições, desinvestimentos e efeitos cambiais) aumentou 2,8%. A receita no exterior cresceu 13%. Obviamente, o retorno à normalidade pós-pandemia ajudou, mas, apesar da valorização do dólar, a receita reportada aumentou 17% sobre os níveis de 2019, uma taxa anualizada de crescimento de mais de 5%.
Além disso, o trabalho pesado ficou para as duas unidades médicas centrais no 1º tri. A receita de farmacêuticos aumentou 9,3% em números operacionais ajustados, e MedTech, 8,6%. Na teleconferência sobre os resultados do 1º tri, a gerência da companhia forneceu uma sólida projeção para todo o ano.
A receita da MedTech deve se beneficiar da recuperação do mercado e de novos lançamentos de produtos. A expectativa é que as vendas de farmacêuticos cresçam a uma taxa acima do mercado, mesmo considerando uma receita menor com sua vacina contra a Covid-19.
Mercado volta a direcionar seu foco
Como afirmei, o 1º tri oferece mais evidências da força dos negócios da J&J, que nunca deixou de existir. Na teleconferência do 1º tri, a gerência disse, por exemplo, que 2022 deve marcar o décimo primeiro ano consecutivo em que a unidade de farmacêuticos cresce mais rápido do que o mercado global.
Mas os investidores perderam o foco dos fundamentos dos negócios em meio a diversos fatores não recorrentes. Possíveis passivos gerados pelos produtos opióides da J&J claramente pressionaram seus papéis. Mas a J&J já resolveu grande parte desses casos com custos extremamente manejáveis com base na sua atual capitalização de mercado de US$480 bilhões.
Processos coletivos por causa dos talcos de bebês da empresa também assustaram os investidores. Uma manobra jurídica, contudo, deve minimizar quaisquer passivos em processos ainda pendentes.
Até mesmo a vacina da Covid-19 afetou as ações da JNJ em alguns momentos. As ações caíram 3% antes da abertura há um ano, quando a vacina da J&J sofreu uma interrupção por recomendação da FDA, agência de vigilância sanitária dos EUA, após o registro de um raro tipo de coágulo sanguíneo em seis indivíduos que receberam a vacina. A empresa estava vendendo o imunizante praticamente a preço de custo na época.
Em outras palavras, houve muito ruído em torno das ações da JNJ nos últimos anos. E existem investidores demais ouvindo esse ruído. Mas, neste momento, os rumores já passaram, razão pela qual os papéis da JNJ dispararam.
Argumento de longo prazo a favor das ações da JNJ
Mesmo após resultados robustos, ainda há espaço para mais altas no papel. Afinal, não podemos dizer que a JNJ esteja cara. Suas ações são negociadas a 17,4x o ponto médio da projeção de LPA ajustado para este ano.
Isso está longe de ser um múltiplo caro, inclusive considerando o recuo do mercado mais amplo em relação às máximas. Cabe lembrar que a empresa anunciou uma elevação de 6,6% em seus dividendos na terça-feira, os quais rendem agora saudáveis 2,47%.
Esse rendimento, aliado ao crescimento orgânico dos resultados, é capaz de gerar retornos anualizados de um dígito elevado. Em vista da natureza defensiva do seu portfólio de produtos – a empresa não é à prova de recessão, mas chega perto disso –, esses retornos parecem mais do que atraentes.
E existe ainda outra alavanca a ser acionada aqui. A J&J possui um balanço excepcionalmente ordenado. A Johnson & Johnson fechou o 1º tri com US$33 bilhões em dívidas e cerca de US$30 bilhões em caixa. Dado que seus passivos judiciais já são amplamente conhecidos, a companhia pode aumentar as recompras de ações para intensificar o crescimento do seu LPA e os retornos dos acionistas.
Sem dúvida não se trata do potencial de alta mais atrativo do mercado. Os investidores mais agressivos podem direcionar suas atenções para as ações de crescimento que sofreram intensa liquidação nos últimos meses.
Mas investidores de qualquer estilo ainda podem olhar para as ações da JNJ como uma participação estratégica. Trata-se de uma empresa maravilhosa com um sólido valuation. No fim do dia, essa é exatamente a combinação que os investidores devem buscar.