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Jogo de Paciência

Publicado 12.11.2018, 11:16
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O mercado internacional de energia tem sofrido enorme pressão vendedora nos últimos dez dias. Os contratos futuros de gasolina (RBOB) e petróleo (WTI e Brent) lideram as maiores quedas entre as commodities nos últimos trinta dias. Um verdadeiro banho de sangue pós-Halloween, que respingou fortemente no setor sucroalcooleiro.

Uma experiente analista do mercado de energia baseada em NY admitiu que a queda no petróleo WTI lhe pegou de surpresa, pois pensava que o mercado internacional iria segurar nos níveis de 63-64 dólares por barril. No entanto, o mercado derreteu ainda mais buscando o nível de 60 dólares por barril. O fato é que os Estados Unidos são hoje o maior produtor de petróleo com 11.6 milhões de barris por dia e está sobrando petróleo no mundo.

Petróleo em baixa é ruim para o setor sucroalcooleiro porque aproxima a paridade da gasolina com o etanol hidratado no mercado interno diminuindo a competitividade do combustível renovável na bomba. Pior do que petróleo em baixa é a combinação desse evento com o real valorizado em relação ao dólar porque o preço de realização da Petrobrás, ou seja, o valor que a estatal cobra nas refinarias para a venda de gasolina às distribuidoras, fica menor em reais e deixa a gasolina mais barata na bomba. Esses são os riscos inerentes das commodities: a combinação de oferta e demanda associada a questões logísticas, de câmbio e outras que fazem o mercado oscilar e descabelarem os gestores de risco.

As usinas mais profissionalizadas, há tempos, se livraram dessas agruras. Com uma boa dose de criatividade estruturaram operações que combinavam a compra de put (opção de venda) de petróleo financiada com a venda de call (opção de compra) de açúcar. Com o mercado de petróleo em queda ganham com a valorização da put e podem escolher se usam o lucro para adicionar valor ao etanol produzido ou se incorporam o ganho na venda de açúcar aos preços atuais.

Em mercados sofisticados, como estão hoje as commodities, há necessidade de se usar a criatividade estruturando operações que mitiguem adequadamente o risco. Para isso, a alta direção da empresa precisa se empenhar para entender toda a extensão do risco envolvido e optar, com segurança e responsabilidade, pelo melhor instrumento a ser usado. Não há futuro para quem não usa os mercados futuros.

O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento em março de 2019 encerrou a sexta-feira cotado a 12.78 centavos de dólar por libra-peso, representando uma queda de 64 pontos na semana, aproximadamente uma queda de 14 dólares por tonelada.

Nem tudo é espinho, no entanto. Embora a recente alta em NY tenha animado os produtores, falamos aqui, há algumas semanas, que o mercado carece de consolidação. Ou seja, a validação dos fundamentos do mercado de açúcar que se avizinham na linha do tempo ainda não amadureceram. Por exemplo, é fato que no próximo ano a safra de cana do Centro-Sul não estará muito longe do volume desta safra. Não houve significativa expansão nem novos investimentos. Vamos praticamente moer uma quantidade de cana maior (porque as chuvas estão ajudando), mas certamente teremos um rendimento menor, porque esta safra que está encerrando foi extraordinária. Em resumo, vamos produzir a mesma quantidade de sacarose dos últimos dez anos.

Estamos construtivos em termos de preço alvo para NY porque existe um consumo reprimido no mercado interno tanto de combustível quanto de alimentos e bebidas. O primeiro, porque a gasolina subiu muito de preço e houve uma migração para o etanol, que é positiva e cujo caminho de volta – se houver – será lento, pois o consumidor “gostou” de pagar bem menos pelo combustível. É claro que existe a ilusão monetária por parte do consumidor que ele compra mais litros de etanol se comparado com a gasolina. Na verdade, ele está andando menos de automóvel, pois o ciclo Otto mostra um encolhimento de 3.5% no consumo em relação ao ano passado, queda que só foi observada em janeiro de 2004. O segundo, é que a percepção de melhora do quadro econômico com a eleição de Bolsonaro abre uma porta que estava trancada pelo medo do desemprego e pela menor atividade econômica.

O que nos deixa construtivos é que não existe cana suficiente para satisfazer a demanda potencial que pode surgir com eventual crescimento da economia, que vai fomentar o consumo de alimentos e bebidas; com a queda eminente do preço da gasolina, cujo preço justo hoje, olhando a paridade internacional, deveria ser próximo de R$ 4,0000 por litro, que deve fazer crescer o consumo de combustíveis ainda mais quando observamos que o licenciamento de veículos leves novos no Brasil deve encerrar o ano próximo de 2,4 milhões de unidades. É um exercício de paciência.

A estimativa de fixação das usinas, com base em 30 de setembro de 2018, aponta que 4,157 milhões de toneladas de açúcar da safra 2019/2020 já estavam fixadas até aquela data. Se assumirmos que o Brasil exporte 21 milhões de toneladas de açúcar para a safra 2019/2020, embora haja controvérsias em relação a esse número já que existem estimativas apontando 18 milhões de toneladas de açúcar, então 19.79% da safra já estaria fixada. Esse percentual é ligeiramente superior à média de 18.65% dos últimos sete anos (quando a Archer Consulting começou a fazer esse acompanhamento). O valor médio das fixações está em 12.94 centavos de dólar por libra-peso sem prêmio de polarização, equivalentes a 50.48 centavos de real por libra-peso. O valor médio de fixação da safra 2019/2020 até o final de setembro era de R$ 1,159.54 por tonelada equivalente FOB Santos, neste caso já incluso o prêmio de pol.

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