Quando era ainda muito nova, aprendi um truque no jogo da velha. A ideia era sempre ter 3 bolas nos cantos:
Conseguindo formar esse desenho, dificilmente eu deixava de ganhar o jogo. Meus oponentes podiam me bloquear na linha horizontal, abrindo imediatamente espaço para eu fechar a linha vertical e vice-versa.
Quando chegava a algo parecido com a figura acima, eu sabia que ganharia e que meu oponente perderia, não importava o quão criativo ou inteligente ele fosse. Dei a esse truque o nome de xeque-mate. Vocês devem imaginar o porquê.
Hoje, quero falar para vocês sobre o xeque-mate que levou a economia brasileira à atual segunda onda do Coronavírus.
Na primeira onda, com toda a economia tendo que parar de forma repentina causando diversos problemas sociais, o governo e o Congresso decidiram fazer um auxílio emergencial. Até aí, tudo muito justo.
Acontece que o auxílio tupiniquim foi, como tudo por aqui, mal feito. Praticamente um terço da população brasileira foi contemplada com o “corona voucher”. Vimos diversos casos reportados de fraude e desenquadramento.
O resultado foi um gasto de 10 por cento do PIB com o programa de auxílio. Gasto esse nunca antes visto na história. Fomos o emergente que mais gastou com estímulos. Fomos o quarto país do mundo que mais gastou com estímulos.
Nossa dívida bruta saltou de 78 por cento do PIB para 92 por cento!
A ideia dos governantes era resolver um problema temporário, até que tudo voltasse ao normal. Acontece que nada voltou ao normal. Daqui a pouco completaremos 1 ano de pandemia e, juntamente com uma segunda onda e novas cepas mundiais, ainda estamos patinando para executar uma campanha eficaz de vacinação em massa.
O auxílio acabou em dezembro, mas só devemos vislumbrar uma vida normal a partir do segundo semestre. Enquanto isso, teremos um buraco de 6 meses de desamparo social aos mais pobres.
Não por outro motivo, começam a pipocar nos jornais pressões por novos programas de auxílio.
O xeque-mate na economia
Estamos infelizmente no meio de um xeque-mate do jogo da velha. Não importa o que será decidido, o custo em termos de atividade será muito grande.
Se os governantes optarem por não estender o auxílio emergencial, teremos 6 meses de atividade fraquíssima, com consequências sociais profundas.
Se os governantes optarem por estender o auxílio emergencial, teremos um novo gasto fiscal, que também gerará consequências negativas para a atividade. Afinal, como já gastamos demais, cada gasto extra piora muito a confiança dos investidores na capacidade de pagamento da dívida pública.
Isso faz com que novos anúncios de auxílio causem uma piora relevante dos prêmios do mercado. O mercado de quarta-feira foi perfeito para exemplificar esse ponto. Quando saiu a notícia de possíveis novos programas, o dólar disparou, a bolsa caiu, e os juros subiram. É uma clássica reação de aversão ao risco.
Uma piora relevante da moeda joga mais pressões inflacionárias na economia. Isso, juntamente com a alta dos juros longos, pode fazer com que o Banco Central seja obrigado a antecipar o ciclo de alta da Selic.
Juros mais altos desaquecem a economia, freando a atividade e postergando a já tardia recuperação da crise, causando também uma dificuldade social.
Estamos naquela figura que, não importa o que os governantes façam, teremos crescimento baixo à frente. Seja por falta de estímulos em meio à necessidade de isolamento, seja por aumento dos estímulos causando aversão ao risco com piora fiscal.
Gastamos toda a nossa bala no primeiro auxílio. Agora não temos mais como gastar. Novos gastos trariam consequências negativas. Poderiam, inclusive, ser contraproducentes.
Ou reduzimos algum gasto para dar espaço para mais auxílios aos realmente necessitados ou vamos descobrir mais à frente que já perdemos este jogo.
As decisões políticas terão fortes repercussões nos seus investimentos nas próximas semanas.
Uma ótima semana,