Em uma mesa-redonda entre ícones do cinema como Robert De Niro e Tom Hanks, o apresentador pergunta aos atores qual conselho dariam às suas versões mais jovens. A resposta de Tom Hanks é memorável:
“Eu gostaria de ter entendido, desde o início, que tudo passa. Você se sente mal agora, sente raiva, ansiedade? Isso vai passar. Você se sente ótimo, sente que sabe todas as respostas, que todo mundo finalmente te entende? Isso também vai passar.”
A nossa humanidade nos convida, quase diariamente, a extrapolar o que vivemos hoje para o futuro – e não seria diferente com os investimentos. Se o clima é de otimismo, tendemos a achar que vai durar para sempre. Se é de pessimismo, como o que vivemos atualmente, é difícil enxergar uma saída. Essa tendência, de projetar o futuro com base no que vemos hoje, encaixa no chamado viés da disponibilidade: ao fazer previsões, nos apoiamos na memória mais fácil de lembrar.
Como Tom Hanks sabiamente disse, entretanto, tudo passa. Dificilmente ficaremos nesse extremo para sempre. Os mercados, guiados pelo sentimento dos investidores, movem-se em pêndulo, alternando-se eternamente entre os extremos: euforia e depressão. Conforme o movimento harmônico simples estudado na física, o pêndulo está apenas de passagem por cada uma das suas posições. A única certeza é que ele continuará se movendo.
O mais curioso é que o pêndulo atinge sua velocidade máxima justamente no ponto de equilíbrio, o ponto O na imagem acima. Quando chega ao extremo B, sua velocidade se reduz a zero, para então fazer seu caminho de volta ao outro extremo, A. E assim sucessivamente. Isso significa que o pêndulo passa mais tempo nos extremos A e B do que no ponto de equilíbrio, O. Não seria loucura afirmar que essa lógica se aplica também aos mercados. É provável que o investidor médio passe mais tempo tirando conclusões irracionais do que racionais.
Se, por um lado, essa dinâmica testa constantemente nossos nervos; por outro, ela abre oportunidades constantes para os verdadeiros investidores. Quanto mais exagerado está o sentimento, seja no terreno positivo ou negativo, maiores tendem a ser os erros de precificação, de forma que um investidor razoável consegue se aproveitar das assimetrias criadas pelos sentimentos à flor da pele.
Analisemos o momento atual do mercado brasileiro. O Tesouro Nacional se vê obrigado a pagar juros reais (acima da inflação) de 6% ao ano aos seus credores, já que houve uma fuga de capital do país. As empresas privadas dificilmente conseguem emitir títulos de dívida que paguem menos de CDI + 2% ao ano, pela temeridade onipresente com os ativos de risco. Isso significa que o investidor comum consegue investir na renda fixa, hoje, travando taxas de retorno ao redor de 15% ao ano. Esse número assume, importante lembrar, que o investidor manterá o título até o vencimento. É um momento de ouro para se investir na renda fixa.
Na renda variável, a história é parecida, embora não seja tão óbvia. Diferentemente da renda fixa, em que conseguimos enxergar na telinha uma promessa gorda de retorno, nosso cérebro não tem o mesmo conforto na renda variável. Nessa seara, somos obrigados a lidar com a incerteza. Não há garantias. Entretanto, isso não elimina a oportunidade que a renda variável nos apresenta: o Ibovespa negocia aos menores múltiplos desde 2008.
Portanto, se ainda não começou a investir, este é um ótimo momento para começar. Quando o pêndulo voltar para euforia, você agradecerá a si mesmo por ter garantido retornos tão expressivos.
Nos investimentos ou na vida, não se esqueça: isso também vai passar.
Um abraço