A Enron, uma companhia de energia fundada em 1985 após a fusão da Houston Natural Gas com a InterNorth, parecia ser uma das melhores e mais inovadoras companhias dos Estados Unidos na década de 1990.
Com atuação em exploração de gás, produção de energia e até atuações de seguros climáticos, a Enron chegou a se tornar a 7ª maior companhia norte-americana.
Crescimento acelerado, financeiramente estável e receitas de bilhões de dólares. O deleite de todo acionista. O que ninguém esperava era que, em doze meses, a ação cairia para praticamente zero e a fraude viria à tona.
O Caso Enron
Em 1980, a companhia perdeu a exclusividade dos negócios e apresentava baixos resultados, aliados à uma enorme dívida feita para a fusão acontecer, com um pano de fundo de alguns escândalos com a gestão que também apareciam na mídia.
Para acalmar os nervos, um novo CEO entra em cena: Jeffrey Skilling, ex McKinsey, com muito conhecimento da contabilidade e que usou isso a seu favor.
A empresa utilizou uma tática chamada de “mark to market”, em que basicamente os ativos da companhia eram corrigidos ao valor “justo”, e também Enron poderia reconhecer suas receitas antes mesmo de serem realizadas.
Na época, Skilling também criou o “Banco do Gás” para intermediar negociações de produtores e consumidores de gás, já que a commodity estava muito volátil e a Enron poderia se beneficiar da intermediação.
As duas estratégias deram muito certo, e Skilling não queria parar por aí. Na mesma época, a bolha da internet alcançava seu auge e foi criado o “EnronOnline”, um site que permitia a negociação de derivativos de diversas commodities, em que a empresa sempre estava envolvida nas operações, sendo compradora ou vendedora dos contratos.
Mais linhas de negócios totalmente fora do escopo trazendo resultados extraordinários à Enron.
Manipulação de resultados contábeis
Essa série de investimentos feitos ao longo da década de 1990 servia exclusivamente para inchar resultados. Na prática, não geravam nenhum retorno para a empresa, além de criarem dívidas gigantescas.
Em 2001, a festa começou a acabar quando o mercado americano desacelerou fortemente e os movimentos da Enron começaram a ser analisados com mais cuidado pelas autoridades locais.
Apesar de algumas tentativas de ocultar dívidas e ativos ruins da companhia, as fraudes da Enron foram, enfim, descobertas.
Enron declarou falência e todos os principais executivos envolvidos foram presos por fraude e conspiração. O prejuízo de 74 bilhões de dólares ficou para seus acionistas e a empresa focou em pagar seus credores.
A repercussão foi tamanha que o governo americano buscou uma maneira de tornar os demonstrativos financeiros mais transparentes e confiáveis para investidores e criou, em 2002, o Sarbanes-Oxley Act, uma lei que busca trazer mais segurança e confiabilidade das operações e atividades das companhias.
O caso IRB
Trouxe à tona o escândalo da Enron para levantar aspectos importantes sobre governança corporativa.
E o filme se repete, vinte anos depois, com o IRB (SA:IRBR3). A empresa, fundada em 1939, atingiu os níveis de maior companhia do setor de resseguros do país e foi uma das ações mais valorizadas em 2019, com forte crescimento de resultados.
Mas o crescimento era muito acima dos pares, o que chamou a atenção de uma gestora em 2020, confirmando os números duvidosos de IRB, bem como a falsa tentativa de mencionar que Warren Buffett estava comprado na companhia (nunca esteve e nunca estará, segundo a fala do próprio bom velhinho).
Falsa história
A trama segue em uma segunda etapa com o ex-CFO do IRB, Fernando Passos, sendo processado pela Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos Estados Unidos pela falsa propagação da história de Buffett, na tentativa sustentar o preço das ações da companhia, e divulgação de falsas informações a investidores e analistas.
A governança é um dos pilares mais importantes para uma empresa longeva e um dos mais difíceis de tangibilizar. Por isso, acompanhamos os fatos para nos certificar de que as histórias nos deixam mensagens que não podem ser ignoradas.
Busque cuidar do seu patrimônio e não tente acertar a “virada” de empresas como o IRB. Tenha em mente que é mais seguro investir em ações de boas empresas, com resultados crescentes, que te trarão ganhos no longo prazo e uma tranquilidade maior. E, preferencialmente, fique longe de IRB e proteja seu patrimônio.