No mundo das sanções petrolíferas, o governo Trump gosta de achar que já está vencendo uma batalha e, em breve, triunfará em outra.
Mas, enquanto Washington recompensava, na quarta-feira, um general que havia se rebelado contra o regime venezuelano – que a Casa Branca tenta derrubar –, o Irã se preparava para anunciar sua retirada parcial de um acordo nuclear que ganhou o prestígio de potências mundiais, o que poderia colocar esses governos contra os EUA.
Ainda é cedo para sabermos ao certo o impacto dessa ação de Teerã ao abandonar seus compromissos com o acordo nuclear de 2015, que o presidente dos EUA, Donald Trump, rasgou há um ano, antes de impor sanções às exportações petrolíferas iranianas. França, Reino Unido, Alemanha, China e Rússia – outros signatários do acordo firmado ainda no governo Obama – haviam elogiado o Irã por ter honrado seus compromissos até aquele momento, apesar das ações de Trump.
Mas Teerã também se viu frustrada com as potências mundiais por sua falta de apoio à República Islâmica em sua batalha contra Trump, bem como com o fato de outros países europeus não terem criado um novo mecanismo financeiro viável que permitisse às empresas europeias continuar comercializando itens, como remédios e produtos humanitários, com o país, ajudando-o a contornar as sanções secundárias dos EUA.
Saída parcial do acordo nuclear é a melhor opção para o Irã?
Como só a China, em certa medida, se posiciona contra Trump e a Rússia continua sendo sua aliada, porém mais focada em sua própria indústria petrolífera, o governo de Hassan Rouhani acredita que uma saída parcial do acordo de 2015 é a melhor opção para persuadir as potências mundiais a enfrentar os EUA em seu nome. Trata-se, sem dúvida, de um movimento calculado, pois suas consequências seriam temerárias para todas as partes envolvidas, considerando que o Irã seria capaz de enriquecer o urânio para construir novamente armas nucleares.
O governo Trump, obviamente, se utilizaria dessa ação de Teerã para justificar sua decisão de cancelar o acordo nuclear. Autoridades americanas contrárias ao Irã, em especial John Bolton, Assessor de Segurança Nacional, não esconderiam a satisfação de poder adotar ações ainda mais duras contra o governo de Rouhani. Algumas das potências mundiais podem, na verdade, aprovar isso. Jornalistas do Guardian na França avaliam que pode haver sanções econômicas caso o Irã proceda conforme as ameaças.
Mesmo assim, o Irã já pode ter costurado um acordo com a Rússia para ajudá-lo a sobreviver a esse movimento. Simon Watkins, colunista do site Oilprice.com, afirmou que as tratativas envolvem o pagamento anual de US$ 50 bilhões por parte da Rússia a Teerã ao longo de pelo menos cinco anos, em troca de um tratamento preferencial no setor de petróleo gás do país islâmico, além de uma cooperação militar maior. As empresas russas teriam total autonomia como desenvolvedores de petróleo e gás em Teerã, inclusive autonomia para dizer exatamente quanto petróleo seria produzido em cada campo, que quantidade seria vendida, quem seria o destinatário e qual seria o prazo de entrega.
Relaxamento das sanções ao “homem de Maduro” surtirá efeito na Venezuela?
Com a Venezuela, Trump pode ter sua melhor chance até o momento de aliviar a crise petrolífera mundial, se o relaxamento das sanções e o oferecimento de outras imunidades por Washington a tenentes do presidente Nicolás Maduro ganharem força.
Em uma nota na semana passada, a RBC Capital afirmou que uma saída repentina de Maduro e a transição para o governo reformista de Juan Guaidó permitiriam uma rápida retomada da economia venezuelana.
Em tal transição, os Estados Unidos rescindiriam imediatamente sanções bilaterais, incluindo a remoção de restrições aplicadas à petrolífera estatal venezuelana, PDVSA, junto à Secretaria de Controle de Ativos Estrangeiros, além de liderar esforços para restaurar a relação do país sul-americano com o FMI e o Banco Mundial.
O que a RBC se esqueceu de mencionar é a chance de Trump de retomar as exportações petrolíferas de quase 1 milhão de barris por dia da Venezuela para os EUA – o mesmo petróleo pesado que a Arábia Saudita tem forçado os mercados a comprar a preços muito maiores. Uma restauração permanente da oferta da PDVSA aos EUA pode dar a Trump o desconto que ele tanto precisa no petróleo – e, consequentemente, na gasolina – para sua campanha de reeleição em 2020.
Tudo isso, obviamente, se baseia na crença de que os defensores de Maduro morderão a isca jogada pelos EUA. Guaidó teve pouco sucesso até agora em forçar um motim dentro do círculo interno do presidente venezuelano. Embora a deserção do general Manuel Cristopher Figuera, diretor do serviço de inteligência venezuelano, Sebin, tenha sido uma das mais relevantes no alto escalão, não havia certeza de que isso geraria um efeito em cadeia.
Mas, mesmo que isso aconteça, e o regime de Maduro caia mais rápido do que o esperado, os sauditas não devem abrir mão dos preços mais altos que estão praticando facilmente no petróleo. Sua opção provável? Cotar ainda mais o abastecimento do mercado.