Nas últimas semanas verificamos uma série de adiamentos ou mesmo desistências, por hora, de emplacar algumas aberturas de capital na B3 (SA:B3SA3).
Alguns nomes como Privalia, Vittia (SA:VITT3), Hospital Care Caledônia (SA:HCAR3), Centro de Tecnologia Canavieira, PadTec (SA:PDTC3) estão entre os nomes que mudaram seus planos.
Em sua grande maioria, alegaram que vão aguardar uma janela mais propícia de mercado, dado que a demanda pelos seus papéis ou o preço que estava sendo oferecido pelos investidores era aquém do desejado inicialmente.
Porém, acho válido lembrar que, ao passo que a janela não está sendo considerada a ideal por alguns concorrentes à abertura de capital, ou por quem assessora estas empresas na estreia no mercado, o Ibovespa está quase nas máximas históricas.
O Ibovespa está negociando a 121 mil pontos, apenas 3% abaixo da máxima histórica de todos os tempos de sua existência, que foram os 125 mil pontos atingidos em janeiro de 2021, já depois da recuperação das quedas da pandemia.
É bem verdade que boa parte da recuperação e pontuação alta do Ibovespa, que sobe 48% nos últimos 12 meses e 87% desde as mínimas em março de 2020, no pior momento do coronavírus para a bolsa, é decorrente da valorização das commodities.
Se considerarmos a Vale (SA:VALE3), que é a maior participação no índice, com cerca de 15% no índice, que se valorizou 174% nos últimos 12 meses, já explicamos 26 pontos percentuais de alta do Ibovespa, ou seja, mais da metade da valorização no período, ainda que a Petrobras (SA:PETR4), a segunda maior posição no Ibovespa, com cerca de 8% de participação, apresente queda de 12%.
Desta forma, é fácil concluir que, desconsiderando as commodities, os nosso índice não estaria nas máximas, mesmo assim, esta conclusão não explica para mim o desânimo dos investidores com os novos IPOs, uma vez que, há cerca de três meses, presenciamos aberturas de capital de empresas com foco no segmento online ou tech, com muita demanda e muito bem precificadas. O que mudou de lá para cá?
Até mesmo alguns negócios com a mesma característica de crescimento acelerado e presença em mercados promissores com o de fintechs e negócios digitais, como é o caso do IPO do banco Modal (SA:MODL11), deve reduzir o preço das ações no IPO em 20% para atrair os investidores, segundo notícias veiculadas na imprensa.
Considerando tudo isso, estou cada vez mais preocupada se o mercado não chegou a um certo nível de exaustão, com um pouco de falta de apetite a tomar mais risco, a pagar mais caro por negócios promissores.
O que deve abrir o apetite do mercado para alcançar voos mais altos e reabrir a janela para os IPOs que adiaram suas ofertas?
Bem, infelizmente, tenho que dizer que estamos dependendo do governo para isso.
Primeiro, pois dependemos dele para que as reformas tributária e administrativa sejam levadas a sério e saiam do papel, com tamanho e qualidade suficiente para reduzir significativamente o receio fiscal.
Somente com menor receio sobre a nossa trajetória fiscal, por meio de reformas, conseguiremos reduzir nossos juros futuros, que estão mais altos do que o necessário para a economia se desenvolver mais e as ações subirem, e acalmar o câmbio. O real tão desvalorizado pressiona cada vez mais nossa inflação de consumidores, o IPCA.
Segundo, pois para voltarmos a ter uma vida normal, voltarmos a consumir serviços, viagens, e para voltar com tudo ao mercado de trabalho e observar melhorias de emprego e renda, precisamos de vacinas , e nisso também dependemos de nossos governantes no momento.
Continuemos a observar e a cobrar nossos representantes, para que, tal como já ocorre nos EUA, nosso mercado e economia possam continuar a se desenvolver.
Eu não gostaria, como investidora, de me ver tão dependente de ações do governo para ver a bolsa andar, e acredito que é assim que o investidor estrangeiro olha para o Brasil, com receio sobre o futuro e sobre o que farão nossos líderes.