Na coluna de hoje, vou falar sobre a abertura de capital (Initial Public Offering, IPO) do Grupo de Moda Soma (SA:GSOM3), um dos maiores varejistas de moda no Brasil, com foco no público feminino de alta renda (classes A e B), com um total de 282 lojas localizadas predominantemente em shopping centers.
Direto ao ponto
A minha recomendação é NÃO ENTRAR na oferta pública inicial (IPO) do Grupo Soma. Eu gosto da estratégia de negócios do grupo Soma, mas acredito que a relação entre risco e retorno das ações da empresa não é favorável ao acionista. O crescimento dos lucros depende do sucesso da estratégia de aquisições. Por isso, prefiro ficar de fora da oferta neste momento e aguardar que o grupo Soma comprove sua capacidade de execução.
Motivos para ficar de fora do IPO do Grupo de Moda Soma
Em resumo, os três principais motivos para ficar de fora do IPO do Grupo de Moda Soma são:
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Valuation: múltiplo preço/lucro 2021 mais elevado da Soma Modas de 24x, comparado a 27x para a Lojas Renner (SA:LREN3), referência em operação de varejo de vestuário;
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Boa parte dos recursos será direcionada para os acionistas através do pagamento de dividendos (R$ 304 milhões ou 24% do total dos recursos da oferta) e não para crescimento;
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Baixo crescimento orgânico do portfólio de lojas e marcas atuais, com apenas 15% dos recursos investidos em abertura de lojas e tecnologia omnicanal.
Poder da marca
As atuais marcas do Grupo são: Animale, Farm, Cris Barros, A.Brand, Fábula, Foxton, Off Premium e Maria Filó.
As duas principais marcas da companhia são Animale e Farm e representam 75% da receita bruta total do Grupo Soma que totalizou R$ 1,3 bilhões em 2019.
A participação de mercado da companhia no mercado de vestuário feminino no Brasil é de 3,3% (5o lugar).
Engajamento das redes sociais
A Companhia tem um total de aproximadamente 9,2 milhões de seguidores somando-se Facebook e Instagram. A Farm tem aproximadamente 1,3 milhão de seguidores no Instagram e 1,9 milhão de seguidores no Facebook, enquanto a Animale tem aproximadamente 1,3 milhão de seguidores no Instagram e 1,0 milhão de seguidores no Facebook.
Vantagens competitivas
As principais vantagens competitivas do Grupo Soma são: 1) marcas fortes e larga base de clientes (1,1 milhão); 2) forte cultura digital e de inovação; 3) plataforma digital lucrativa e rentável a nível operacional e financeiro; 4) estratégias multicanalidade; 5) braço tecnológico com o uso de big data e inteligência artificial via Soma Labs.
Detalhes da oferta (IPO)
Serão ofertadas 136.363.636 de ações ordinárias na oferta primária inicial. Esse montante equivale à totalidade das ações a serem vendidas.
Nesta oferta inicial de ações, há a possibilidade de acréscimo de ações adicionais e suplementares, a serem definidas pela Companhia em comum acordo com os Coordenadores da Oferta.
O IPO do Grupo Soma apresenta quatro possíveis estruturas que são apresentadas abaixo:
Faixa de preço
O preço por ação estará situado na faixa indicativa entre R$ 8,80 e R$ 11,00, podendo, porém, ser fixado acima ou abaixo desta faixa.
Considerando o preço médio de R$ 9,90, o Grupo Soma estima, segundo Prospecto, que os recursos líquidos provenientes da Oferta Primária serão de aproximadamente R$ 1,28 bilhão, considerando comissões e despesas de estruturação do IPO e desconsiderando o acréscimo de ações adicionais e suplementares.
Valor da oferta
Na faixa do intervalo de preço da oferta de R$ 8,80 a R$ 11,00, o valor da oferta ficará entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão. O valor de mercado da Soma Modas ficará na faixa de R$ 4,2 bilhão a R$ 5,25 bilhões.
O período de reserva do IPO vai de 15 a 27 de julho, com definição de preço em 29 de julho.
Uso dos recursos
A Companhia pretende utilizar os recursos líquidos obtidos por meio da Oferta Primária da seguinte forma: (a) aquisição de novas marcas; (b) pagamento de dividendos devidos referentes a exercícios sociais passados; (c) amortização ou liquidação, conforme o caso, de dívidas vigentes da Companhia; (d) investimentos em tecnologia e omnichannel; e (e) abertura de novas lojas físicas, bem como a modernização e retrofit das lojas atuais.
Análise financeira
Olhando para frente espero que as receitas do Grupo Soma caiam 5,5% em 2020, em função do Covid-19. A empresa já apresentou as variações de suas vendas nas mesmas lojas para abril e maio, com quedas de 32% e de 36,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Com base nesses números, e prevendo uma recuperação ao longo do ano, espero que no terceiro trimestre a receita ainda sofra uma queda, mas já se recupere em relação ao segundo trimestre de 2020.
Para 2021, acredito que o lucro do Grupo Soma possa crescer 36,7% em relação a 2020, ou 29% em relação a 2019. Esperamos que esse crescimento decorra de um aumento de 13% nas vendas das mesmas lojas, e da adição das receitas da Maria Filó, com faturamento previsto de R$ 250 milhões.
Com base em na estimativa de receita, estimando i) uma margem bruta de 65%, similar à de 2019, ii) despesas em linha ao que se observou no histórico (em termos percentuais da receita), e iii) uma alíquota de imposto de 10%, projeto um Lucro Líquido de R$ 190 milhões em 2021.
Valuation
No preço médio da oferta, as ações do grupo Soma estão com múltiplo preço/lucro 2021 projetado de 24,9x, um múltiplo um pouco abaixo de Lojas Renner (27,2x).
O múltiplo preço/lucro (P/L) 2021 projetado da Soma Modas está acima de Guararapes (GUAR3 (SA:GUAR3)), Hering (SA:HGTX3), Marisa (AMAR3 (SA:AMAR3)) e Restoque.
Conclusão
A minha recomendação é NÃO ENTRAR na oferta pública inicial (IPO) do Grupo Soma.
Eu gosto da estratégia de negócios do grupo Soma, mas acredito que a relação entre risco e retorno das ações não é favorável ao acionista, ou seja, o múltiplo preço/lucro 2021 está um pouco alto, principalmente se for comparado com a Lojas Renner.
O crescimento dos lucros do Grupo Soma depende do sucesso da estratégia de aquisições da companhia. Por isso, prefiro ficar de fora da oferta neste momento e aguardar que o grupo Soma comprove sua capacidade de execução e crescimento.
Além do mais, a companhia vai utilizar boa parte dos recursos da oferta (24% do total) para o pagamento de dividendos (R$ 305 milhões), o que na prática é como se parte da oferta fosse secundária, ou seja, os recursos vão para o bolso dos acionistas e não para o caixa da empresa.