Quantos de vocês nunca pensaram em dar um “pique”..um tirinho rápido correndo naquela raia da loja da Centauro? Ou então experimentar um tênis de corrida bacana e sair correndo da loja…tipo pegadinha do Sílvio Santos? Não sei se sou só eu que sou assim meio retardado…rs.
Falando sobre a oferta de ações, o objetivo aqui não é esmiuçar o case e explicar tintin por tintin a empresa. Para isso sugiro fortemente ler o prospecto entre as páginas 6 até 19.
Sendo objetivo…3 “porquês” vou ficar de fora:
- Primeiro e principal motivo é que acho caro considerando os riscos do negócio. Simples assim! Ajustei lucro retirando os ganhos tributários que deram uma mãozinha no lucro em 2018. Mas considerei também uma redução de despesa financeira com o uso do dinheiro do IPO para pagar dívida. Ah e estou usando o piso da faixa R$ 12,00. Penso que para entrar eu teria que ter mais convicção de que a empresa consegue entregar um crescimento de lucros de 20% ao ano…mas tenho minhas dúvidas.
- Listo ali embaixo os pontos qualitativos e do lado micro que gostei…mas o fato é que manter um número crescente de lojas pagando aluguel, luz, funcionários…novidades…reformando-as…tudo isso custa dinheiro e tem um retorno baixo e até duvidoso. Pra se ter uma ideia a reforma de uma loja para o novo modelo custa na casa de R$ 4 milhões! Bom pro consumidor…mas não acredito que seja rentável para o acionista. Isso aliado a forte concorrência fazem com que esse seja um negócio com margens baixas.
- Penso que o foco total da empresa deveria ser o e-commerce. Do total da oferta apenas 9% vai para o desenvolvimento desse….me parece um pouco ir na contramão daquilo que vejo fora do Brasil. Na minha humilde opinião deveriam usar 50% pelo menos para isso.
O que eu gostei do que vi.
Apesar de ficar de fora gostaria de deixar registrado aqui que gostei de várias coisas que vi no case da Centauro.
Layout lojas. Novo modelo de lojas me parece bastante atual e fica devendo em nada para as lojas aqui na Europa por exemplo (estou atualmente morando na Inglaterra). Quem entende de varejo pode me ajudar aqui nessa, mas fisgar o cliente pelo olho é algo sim importante…tem que ter uma loja de encher os olhos! Visite o M&M’s World em Londres e conversamos.
Uma lista de novidades nas lojas? Cara não visitei uma loja nova deles, mas fiquei muito curioso…não só pelo layout mas veja o que aparentemente está sendo oferecido: provador inteligente no qual você pode pedir uma outra peça sem sair de dentro; esteira para provar os tênis de corrida; teste e escolha interativa da bike ideal; totens para acessar o que há em estoque do e-commerce; caixa móvel; customização de peças como chuteiras; área de convívio com transmissão de jogos online. O vídeo abaixo mostra isso:
Reorganização financeira. Em 2017 eles deram uma arrumada na casa com a reestruturação de uma dívida de R$ 373 milhões com os grandes bancos (Itaú (SA:ITUB4), Bradesco (SA:BBDC4) e Banco do Brasil (SA:BBAS3) (os principais credores). O passivo foi alongado por 5 anos, com 12 meses de carência para pagar os juros e 24 meses para pagamento do principal.
Setor cresce. No Brasil, o segmento de lojas físicas do varejo esportivo é um mercado que movimentou aproximadamente R$33 bilhões em 2017, com crescimento anual médio acima do crescimento do varejo físico, respectivamente 5,3% contra 3,4% nos últimos 5 anos encerrados em 2017. E se tu parar para pensar a tendência de maior cuidado com a saúde é algo que tem crescido…e porque pararia de crescer? Não vejo motivo.
As lojas venderam mais. É um fato que a empresa foi hábil em entregar crescimento! Em 2017 e 2018 as vendas em mesma loja (conceito que considera a operação em lojas abertas em mais de um ano) foi de 6,3% e 10,7%, respectivamente. No digital a expansão foi ainda maior com a receita online saltando 69,3% entre 2016 e 2018.
Um setor complicado e os concorrentes…
Alguns aí podem falar que a loja da francesa Decathlon é mais bacana ou sortida…eu discordo completamente, mas mesmo que seja, os franceses demoraram 15 anos pra ter lucro no Brasil! Isso mostra o quão complicado é o setor.
De acordo com a Euromonitor, a Centauro tem 9,2% do mercado de artigos esportivos, enquanto que a Decathlon apenas 2%! Veja como esse é um mercado beeeeeemmm pulverizado no qual a maior empresa (Centauro) não chega aos 10% ! (P.S: no prospecto o dado que eles dão de market share é de 5,5% … não muda o fato de ser um setor pulverizado). O lado bom do setor pulverizado é o potencial ganho de market share “amassando” os pequenos, ou comprando concorrentes. O lado ruim é que nem sempre é simples assim…muitas vezes a competição é com alguém que sonega impostos, ou com lojas de bairro onde existe uma identificação ou razão para o consumo.
Me chama atenção ainda a derrocada das ações da maior loja de comércio eletrônico de vestuário esportivo da América Latina, a Netshoes. Essa matéria da Exame aqui explica o case. Mas em suma uma sequência de prejuízos aliado a uma mudança na contabilidade da antecipação de recebíveis da empresa levou as ações da Netshoes acumularem 94% de queda da máxima aos valores atuais:
Isso no mínimos mostra que esse não é um business tão simples e/ou fácil! Muita concorrência tende a pressionar margens e dificultar rentabilidade….poucos são os casos de varejistas de sucesso que persistem como sucesso anos a fio….quem é mais velho vai lembrar de Mesbla, Pernambucanas, etc.
Historinha e receios…
A Centauro é maior varejista de produtos esportivos da América Latina com uma receita líquida de R$ 2,275 bilhoes em 2018, sendo 84% por meio das lojas físicas e R$362,9 milhões pela plataforma digital. A empresa tentou fazer seu IPO em 2017, mas houve muita desconfiança do mercado a respeito dos números e capacidade da empresa em entregar crescimento e, o mais importante, rentabilidade.
Agora ela vem de novo tentar a sorte…Mas de lá pra cá ela fez o dever de casa….bem verdade que no meio dos resultados tivemos alguns eventos não recorrentes que deram uma ajuda – o lucro de 2018 foi positivamente afetado por um ganho tributário referente à imposto diferido de R$ 64,5 milhões, por exemplo….Então tirando isso o lucro “real” é menor do que a tabela sugere.
Estratégia dela de omnichannel é boa e, talvez, “vire” …mas sinto que falta nela o DNA de um varejo online.
E penso também que esse monte de loja em shopping hoje é bom…amanhã não sei…nos EUA a LBrands (dona da Victoria Secret), a Gap entre outras, apostaram nisso e se deram mal…vai que a moda pega por aqui?!
Tenho um medo de ter a GP como sócia grande na empresa….
Era isso.
Aquele Abs.