Na semana passada, me deu uma dor de cabeça. Abri a caixa de remédios de casa, lembrei da minha infância e pensei em investir na Hypera. Isso mesmo.
A antiga Hypermarcas, que tinha vários produtos de consumo diário, decidiu, em 2017, focar no segmento farmacêutico e agora está listada na bolsa de valores como Hypera (SA:HYPE3). Hoje, a Hypera Pharma é uma das maiores empresas farmacêuticas do Brasil, atuando na produção de medicamentos com prescrição médica: isentos de prescrição, genéricos e linha dermatológica, o famoso skin care. Isso quer dizer que o Engov do fim de semana, o Dramin para não enjoar no avião e, mais recentemente, o AAS da infância estão na bolsa de valores.
Foi exatamente a recente aquisição da marca AAS que lembrou a minha infância ao mesmo tempo que reforçou a tese de investimento na Hypera. A perspectiva positiva para as farmacêuticas faz parte quase que do senso comum: a população brasileira está envelhecendo. Sim, estamos ficando velhos. Com isso, o setor vem crescendo ano a ano e apresentou uma taxa de crescimento anual de 14% (CAGR’16-20: 14%). A Hypera ainda cresce menos que o setor (CAGR’16-20: 6%) muito por conta da reestruturação que a empresa fez nos últimos anos — desde que deixou de produzir bens de consumo para focar nos farmacêuticos.
Nessa mudança, a empresa precisou reforçar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento com um pipeline de 350 projetos em todas as categorias de produtos, que deve amadurecer gradualmente nos próximos anos. Somado a isso, a empresa vem investindo também em aquisições. A compra da marca AAS fez parte de um acordo para adquirir 12 marcas de medicamentos isentos de prescrição da Sanofi (PA:SASY) (NASDAQ:SNY), uma farmacêutica francesa. Esse portfólio da Sanofi teve vendas de R$250 milhões em 2020, um potencial incremento para a Hypera.
Nessa compra, veio também o Cepacol e o Naturetti, sendo que a Hypera já havia comprado recentemente o Buscopan. Quando a empresa compra marcas maduras, além de fortalecer o portfólio de produtos com nomes fortes e conhecidos, a companhia também acelera o incremento de vendas, uma vez que já tem um público consumidor, diferente de lançar um item novo.
Além das inovações em termos de produtos, a linha dermatológica reforça que a Hypera está antenada com as tendências. Não consigo contar quantas vezes ouvi sobre skin care durante o último ano. Parece que o modo “ficar em casa” fez com que mais pessoas se dedicassem aos cuidados pessoais. Apesar de ser uma linha menos relevante no portfólio da Hypera, representou 9% das vendas da companhia em 2020 — as marcas do grupo estão entre as mais prescritas pelos médicos no segmento dermatológico no Brasil.
E foi assim, olhando a minha caixa de remédios, que lembrei dessa tese de investimentos. O primeiro ponto é entender o mercado: se a empresa vende remédios, quais as perspectivas para a venda de medicamentos nos próximos anos? Quando vejo matérias que apontam para o crescimento do setor, já é um sinal positivo. Depois é entender quais empresas atuam naquele negócio, quais são as alternativas de investimentos daquele setor e quem está bem posicionada, com uma estratégia interessante de crescimento. Não menos importante, é preciso avaliar os números, mas se entendemos os pontos anteriores, esse passo fica bem mais fácil. Agora, quando surgir uma dor de cabeça, pode aproveitar para aliviá-la pensando em bons investimentos.