Sempre aconselhei o investimento em ações que pagam dividendos para todos aqueles que desejam ter uma renda passiva. E mantenho esse conselho porque eu mesmo utilizo do benefício que isso traz que é a liberdade financeira. A questão é que não existe vida fácil neste mundo. Não se pode alocar recursos em qualquer empresa. O certo é avaliar as condições da companhia pagadora de dividendos para saber se vale a pena ou não, sob o risco de em pouco tempo não receber a distribuição de lucro esperada e ainda ter de lidar com queda no valor do papel.
Para não cair em armadilhas, é preciso tomar alguns cuidados. Um deles é ver o histórico de pagamento de dividendos da empresa a que se esteja interessado. Quanto maior o histórico, ou seja, quanto maior for o tempo que esta ação esteja se repetindo, mais confiável é o ativo. Minha sugestão é que o investidor dê preferência para papéis que pagam dividendos no mínimo há cinco anos.
Menos do que isso é arriscado por um motivo simples. Tem empresa que por alguma razão específica obtém ganhos acima do que lhe é comum. Uma mudança pontual no mercado que a beneficiou. Por exemplo, uma seca grave na Índia resultou na quebra da safra de cana-de-açúcar naquele país, que teve de importar açúcar e álcool do Brasil. De repente uma usina listada na Bolsa que não ia tão bem se beneficiou da situação e exportou muito.
A exportação a ajudou a lucrar e a pagar dividendos. No entanto, como não houve melhora nos processos de gestão e de produção, assim que o mercado voltar ao normal, o risco de esta empresa parar de pagar dividendos é alto. Então, se deslumbrar com “novidades” do mercado pode não ser uma boa em se tratando de dividendos. O ideal é sempre escolher ativos sólidos, já estabelecidos no mercado e por isso mesmo resilientes.
A Bolsa de Valores de São Paulo conta com pelo menos quatro dezenas de companhias com esse perfil. E mesmo assim, a gente tem sempre que verificar se as coisas estão caminhando como desejamos que caminhe. E aí vem mais uma dica. Não se espelhe apenas no passado, pois o cenário pode mudar. E pode mudar mesmo que tudo esteja bem.
Para ficar mais fácil a compreensão da mudança de cenário vai aqui uma explicação. O mercado vive de ciclos. Uma companhia líder em seu segmento e que há décadas lucra bastante pode, em algum momento, começar a ter prejuízos. Ou porque seu mercado de atuação está perdendo relevância ou por conta do surgimento de algum concorrente que trouxe um produto inovador e roubou-lhe o mercado. Isso não costuma acontecer de uma hora para outra, mas aos poucos. A rentabilidade vai diminuindo ano a ano e quando a gente se dá conta, a empresa deixa de distribuir lucro. Então, é preciso ficar de olho, sempre.
Em tese, a distribuição de lucros só acontece em empresas com boa saúde financeira. Mas não é bem assim. Depois de muitos anos lucrando, uma grande companhia pode tomar a decisão de se modernizar ou de construir uma nova planta fabril. É importante para a estratégia de longo prazo, mas normalmente aumenta o endividamento, reduz a rentabilidade e o dinheiro deixa de ir para a conta dos acionistas por um certo período. Isso também tem de ser considerado.
Até aqui, são exemplos para mostrar que o mercado não é algo estático. Pelo contrário, ele muda o tempo todo. Sendo assim, ao investir em ações de empresas que pagam dividendos, o investidor tem de ter em mente que mesmo nessa estratégia é preciso acompanhar a movimentação do mercado de forma que seja possível fazer alterações no portfólio sempre que necessário.
Junta-se às questões acima, outros cuidados como sempre estudar com atenção o dividend yield, que é a relação entre o valor pago em proventos em um determinado período em relação ao valor do ativo no mercado. Também é importante se ater à política de distribuição de proventos, o payout, que se refere ao percentual de lucro líquido que a empresa distribui aos acionistas. Por lei, no mínimo 25% dos lucros de uma empresa devem ser divididos entre investidores. Algumas empresas oferecem mais, porém, os montantes podem ser reduzidos ou eliminados conforme a situação da empresa.
Daí ser importante acompanhar os balanços trimestrais para saber o rumo que o papel escolhido está tomando. Por fim, diversificar, sempre. É a melhor forma de reduzir riscos e manter a rentabilidade da carteira.