Olá, Pessoal! No artigo de hoje, eu quero compartilhar com vocês um conceito importantíssimo, mas pouco debatido e falado: a diversificação temporal. Acho que a maioria (senão todos) por aqui conhecem o conceito de diversificação, né? O conceito de diversificação temporal nasce deste princípio, claro, mas tem a ver com o timing do seu investimento. Vamos lá!
A diversificação, da forma como tradicionalmente entendemos, consiste em não apostar em um ou outro ativo apenas, mas em ter uma carteira balanceada com diversos ativos de diferentes classes, de forma a reduzir o risco e manter a expectativa de retorno em níveis desejáveis. Em outras palavras, a diversificação permite controlar o risco sem penalizar a expectativa de rentabilidade. É algo muito similar quando você lança um dado uma (ou poucas vezes) ou muitas vezes: ao lançar muitas vezes, a Lei dos Grandes Números garante que o nível de incerteza se reduzirá bastante, fazendo com que o seu risco de se afastar da expectativa (3,5, ou seja, a média dos valores de 1 a 6) se reduza muito. Ao jogar o dado apenas uma vez, o seu risco de obter um resultado insatisfatório (1, por exemplo) é bem maior. Note que nos dois casos, a expectativa “de retorno” do dado se mantém a mesma: 3,5.
O conceito de diversificação temporal é similar, mas se refere a não apostar em um ou em outro momento do tempo, ou seja, não procurar acertar os momentos em que se deve entrar ou sair de determinado ativo ou mercado (como o de ações, por exemplo). É muito difícil predizer em que momento, por exemplo, o Ibovespa chegará ao fundo do poço (e é a hora boa para comprar) ou a uma máxima (para poder vender e aguardar por uma próxima queda).
Aqui, até enquanto pesquisador do tema, gosto sempre de lembrar de um dos maiores sabotadores de nossas vidas: o tal do excesso de confiança. Normalmente, tendemos a acreditar que sabemos antecipar o futuro razoavelmente bem e temos mais controle sobre ele do que realmente temos. Tenha cuidado e atenção com isso. Se você leu o que acabei de escrever com certo desdém, sugiro a leitura de dois ótimos livros que discutem exatamente isso: “O andar do bêbado: como o acaso determina nossas vidas” (Leonard Mlodinow) e “A psicologia financeira” (Morgan Housel). Duas obras-primas!
A verdade, segundo inclusive diversos estudos acadêmicos internacionais, é: existe enorme chance de se perder uma boa retomada ou uma alta consistente com essa estratégia de tentar antecipar o mercado (em inglês, isso é conhecido pela expressão “timing the market”). Se para profissionais, que estudam e analisam o mercado diariamente, isso já é muito difícil, eu desaconselharia totalmente você a fazer isso com seus investimentos.
O que fazer então? Diversificação temporal! Em outras palavras, o ideal é ter uma estratégia consistente com aportes constantes em seus investimentos. Com isso, você não se arrisca a acertar ou errar o momento de entrada ou de saída, mas os diversifica para diversos momentos distintos. Perceba que se trata do mesmo conceito de diversificação, mas agora aplicado ao longo do tempo. E esse conceito é ainda mais importante na crise e em tempos de muita incerteza como os atuais!
Para mostrar rapidamente o benefício da diversificação temporal, fiz um exercício simples (e sugiro que você faça exercícios similares com outros períodos para perceber o quão robusto é esse conceito de diversificação temporal). Imagine uma pessoa com R$ 40.000,00 que investisse no índice Ibovespa no início de 2021 e carregasse esse investimento até o final de abril deste ano. Pois bem, ele teria acumulado algo como R$ 42.321,33 (em rentabilidade bruta). Agora imagine um investidor que tenha investido R$ 1.000,00 por mês em cada um dos 40 meses de janeiro de 2021 a abril de 2024. Perceba que ele teria investido o mesmo montante total de R$ 40.000,00. Surpreenda-se, pois, esse investidor teria acumulado, ao final de abril último, a quantia de R$ 45.203,41.
Parece incrível, no sentido de “não dar para acreditar”, não é mesmo? Mas esse é um resultado matemático. Aliás, a diversificação nasce da matemática. E eu poderia acrescentar que a vitória do nosso segundo investidor foi ainda maior porque ele não precisaria ter os R$ 40.000,00 disponíveis no início de 2021, o que indica que incluir a diversificação temporal em sua estratégia facilita o caminho para a acumulação financeira! E, que tal fazermos então a conta justa, imaginando que o segundo investidor também tivesse os mesmos R$ 40.000,00 para investir no início de 2024 e optasse por investir R$ 1.000,00 mensalmente no Ibovespa, mantendo o saldo no CDI? Fiz as contas e este investidor acumularia em abril de 2024 o montante de R$ 51.457,78: quase 22% a mais que o investidor que optou por investir todo o montante no Ibovespa.
Esse é um dos resultados da diversificação temporal. Claro que nem sempre ela será a estratégia vencedora (até porque não há nenhuma estratégia que seja sempre a vencedora), mas posso dizer que ela vence em média, pela simplicidade e por não depender de “acertar o momento” ao entrar ou sair do mercado. Aliás, não apenas sugiro o investimento disciplinado e constante, como recomendaria (àqueles que pudessem, claro) aumentar o investimento mensal em períodos de crise no mercado! Isso por causa de uma coisa chamada preço médio, que explico a seguir e está no cerne do conceito de diversificação temporal.
Em um exemplo hipotético e simples para ilustrar bem a ideia que quero passar, suponha que o preço de uma ação ao final dos três últimos meses tenha sido, em ordem cronológica, R$ 10, R$ 8 e R$ 5 (ou seja, a ação sofreu forte queda). Agora imagine que você invista mensalmente nessa ação o valor de R$ 400. Isso quer dizer que você comprou 40 ações no primeiro mês (R$ 400 / R$ 10), 50 ações no segundo mês (R$ 400 / R$ 8) e 80 ações no terceiro mês (R$ 400 / R$ 5), perfazendo um total de 170 ações (40 + 50 + 80). Como o montante total investido foi de R$ 1.200 (3x R$ 400), note que para você recuperar esse total, não é necessário que o preço retorne ao preço inicial de R$ 10, mas, sim, para o valor de R$ 7,06 (resultado da divisão do montante total investido pelo número total de ações compradas: R$ 1.200 / 170).
O que acabamos de ver no exemplo é o conceito de preço médio, este sim bastante difundido no mercado. Muitos investidores, a fim de buscarem recuperação mais rapidamente, têm a estratégia de reduzir o preço médio dos ativos de suas carteiras quando eles caem de preço. Quando você pratica a diversificação temporal com uma estratégia persistente, irá naturalmente reduzir “seu preço médio da carteira” e tornar a recuperação mais simples em quedas do mercado. Note como os conceitos de diversificação temporal e preço médio estão interligados.
Espero que tenham gostado deste artigo, pois escrevo com muito carinho e zelo por você que dedica seu tempo para ler o que tenho para compartilhar. Procuro dividir com vocês temas que julgo importantes e fogem ao “lugar comum”. Para quem quiser me encontrar nas redes sociais, estou no Linkedln e no instagram @carlosheitorcampani. Também tenho meu canal no Youtube e no Spotify (NYSE:SPOT), com conteúdo diferenciado para sua educação financeira e de investimentos.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Certificado pelo CNPI e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Além disso, ele é Diretor Acadêmico da iluminus – Academia de Finanças e Sócio-Fundador da CHC Treinamento e Consultoria. Campani pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na quinta-feira.
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