Publicado originalmente em inglês em 06/07/2021
Os investidores dos títulos públicos americanos (treasuries) não demonstram preocupação com a inflação e estão mantendo os rendimentos bem contidos. Tudo indica que aceitaram o argumento das autoridades do Federal Reserve de que a recente alta da inflação será transitória.
As taxas de equilíbrio derivadas da diferença entre o rendimento dos treasuries convencionais e dos indexados à inflação atingiram o pico em maio e passaram a cair desde então. A taxa de equilíbrio de dois anos foi a mais alta no pico, aproximando-se de 3%, seguida da de cinco e dez anos, que quase atingiram 2,5%.
Entretanto, o gráfico de projeções e a mediana de previsões divulgados com a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em meados de junho, surpreenderam os investidores, haja vista que a maioria dos membros do Fomc estimou duas elevações de juros até o fim de 2023, quando sua previsão anterior era apenas em 2024 para o primeiro aumento.
Receio de uma inflação mais alta?
Como sugeriu um analista, as autoridades do Fed podem estar receosas de deixar a inflação subir por um período maior, independente de quão flexíveis queiram ser.
Isso pode ajudar a explicar o declínio do rendimento da nota referencial de 10 anos do tesouro americano na sexta-feira, quando o relatório de empregos mostrou a criação de 850.000 postos de trabalho, acima das expectativas do mercado.
O rendimento de 10 anos intensificou a espiral de baixa depois de perder o patamar de 1,5% no início da semana, encerrando-a a cerca de 1,43% antes do feriado prolongado.
Um declínio do estímulo monetário significaria crescimento um pouco mais lento e menor inflação, já que o Fed estaria estabelecendo um teto sobre a economia. Isso, por sua vez, colocaria os rendimentos dos treasuries sob controle.
Os investidores irão escrutinar a ata da reunião de junho do Fomc em busca de pistas sobre as intenções do Fed. Haverá outra reunião de política monetária em 27-28 de julho e o simpósio anual de Jackson Hole em 26-28 de agosto. São cada vez maiores as expectativas de que o presidente do Fed, Jerome Powell, dê alguma indicação sobre os planos de reduzir as compras de títulos em uma dessas ocasiões.
BCE deve manter política de afrouxo monetário
Na Europa, os investidores mostram-se, de certa forma, mais preocupados com a inflação. Os rendimentos dos títulos dos governos da Zona do Euro subiram de forma geral na segunda-feira após terem caído na semana passada, devido a preocupações de que variantes da Covid-19 pudessem atrasar a retomada econômica.
As restrições a viagens continuam afetando o turismo no Sul da Europa, e a expectativa é que o Banco Central Europeu (BCE) mantenha sua política de dinheiro fácil, mesmo diante do debate sobre o futuro do programa de compras emergenciais de ativos entre os formuladores da política monetária.
Os rendimentos de títulos governamentais parecem particularmente sensíveis às taxas de infecção da Covid-19, de modo que analistas preveem que permaneçam relativamente baixos.
O primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, foi hospitalizado no domingo em condição grave, porém estável, após testar positivo para a Covid-19 na semana passada, quando sentiu apenas sintomas leves. Ele foi diagnosticado com baixa saturação de oxigênio, além da típica tosse, febre e dores de cabeça.
Assim como outros países europeus, o ducado tem registrado uma disparada nas infecções nos últimos dias. O teste positivo de Bettel ocorreu depois de sua participação presencial em uma conferência da União Europeia com outros 26 líderes, mas as autoridades dizem que a rígida observância dos protocolos lhes dava confiança de que ninguém havia tido contato próximo com ele.
O rendimento do título de 10 anos da Alemanha terminou em alta o pregão de segunda-feira a -0,210%, em comparação com -0,235% na sexta-feira. Já a nota de 10 anos da Itália subiu 3 pontos-base na segunda-feira, encerrando o dia a quase 0,807%.