O Banco Central do Brasil vinha mantendo a postura absolutamente correta num momento de intensa especulação no mercado de câmbio, ancorada tão somente na emoção e sem nenhuma sinergia com a razão e desprovida de qualquer fundamento crível.
Já destacamos inúmeras vezes que o Brasil, a despeito de toda crise econômica e fiscal, tensões política eleitorais, insegurança jurídica, etc..., dispõe neste ambiente nefasto de uma situação cambial absolutamente tranquila, ao deter reservas cambiais absolutamente tranquilizadoras, bem como ter estratégias operacionais que viabilizam liquidez absoluta no mercado seja por demanda de proteção, seja por demanda no mercado à vista.
O Brasil de 2018 nada tem a ver com o de 2002 na questão cambial.
Se algo estava faltante, como destacamos, seria a autoridade monetária sinalizar para o mercado este ambiente de tranquilidade e os seus fundamentos.
O BC é notoriamente sabedor que tem influência na contenção da volatilidade ou mesmo na formação do preço da moeda quando os fatores de influências forem de natureza operacional impactando na oferta e/ou na procura.
Afora isto, quando os fatores forem imponderáveis, como ocorre no momento presente, não tem capacidade mínima de interferência, pode até causar por momentos esta impressão, mas logo ficará evidente que a ação tem tanta eficácia quanto “enxugar gelo”. Este ato provocativo com a intervenção focando interferir na espiral especulativa é reconhecidamente ineficaz e acabará por promover volatilidade e isto é tudo que querem os especuladores.
Teria o BC sucumbido aos reclamos em grande parte leigos ou até conclamados pelos próprios especuladores de que estava inerte perante a escalada de alta do preço da moeda americana?
Se o fez com o intuito de dar uma satisfação pública perante o fato, escolheu o procedimento menos adequado, como salientamos, poderia ter se manifestado mostrando que o país não tem nenhum risco de crise cambial e que está observando a dinâmica do mercado e quando e se necessário poderá intervir focando sempre a liquidez.
E mais, poderia deixar efetivo esclarecimento de que não temos os problemas de Turquia e nem de Argentina, e que o nosso mercado cambial está imune às influências dos mesmos.
Posição firme, forte e contundente. Afinal, o Brasil na questão cambial tem uma situação privilegiada neste quadro atual que o difere profundamente dos demais países emergentes.
Até porque amanhã será o dia da fixação do Ptax que enseja forte embate entre comprados e vendidos, que tem os comprados fortemente estimulados a especular e agora turbinados pelo agravamento da situação na Argentina, com a qual procuram estimular correlações inexistentes, mas oportuníssimas para incrementar mais ainda o movimento especulativo.
Sendo diferente o quadro brasileiro, mas o BC reagindo em linha como se fosse afetado tal qual aos demais acaba por demonstrar uma fragilidade que não tem, mas agora pode entrar numa roda vida e ser até provocado para persistir na intervenção e com isto provocar volatilidade que permite maximização de lucros pelos especuladores.
A impressão que fica é que passamos a admitir que o Brasil tenha um ambiente desfavorável onde temos absoluta tranquilidade. Uma espécie de vitimização, que, aliás, está na moda.
A calma, sensatez e firmeza que o BC vinha mantendo acabam por sucumbir e os resultados tendem a decepcionar, pois podem fomentar mais o movimento especulativo e provocar uma roda viva viciada de altas e baixas seccionadas por intervenções da autoridade, já que começou será difícil interromper.
Afinal, quem em sã consciência acredita que alguém vá comprar dólar ao preço de R$ 4,20 para proteção no mercado, se as empresas e demais players com passivos em moeda estrangeira estão devidamente protegidos, a exemplo também dos estrangeiros presentes no mercado de renda fixa e renda variável.
Enfim, ao que tudo indica a oferta de “swaps cambiais” num ambiente em que todos sinalizam estar protegidos pode ser um erro da autoridade monetária, que até aqui vinha agindo com rigoroso equilíbrio.