O mercado financeiro é um termômetro do futuro. Seu comportamento pode até parecer errático, muitas vezes, mas não se engane, sempre há uma justificativa relevante para movimentos exagerados. E o caso de Israel deixa evidente isso. Um comportamento atípico na bolsa israelense era o indicativo de que o pior estava por vir. Infelizmente, as evidências não ficaram claras no momento em que as operações de venda a descoberto nos principais fundos relacionados às companhias do país foram realizadas cinco dias antes do ataque do Hamas.
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De acordo com um working paper - que ainda não passou por revisão por pares - publicado no SSRN dos pesquisadores Robert Jackson, da New York University, e Joshua Mitts, da Columbia, o Hamas e seus fundadores podem ter lucrado mais de US$ 1 bilhão no mercado de capitais ao shortear ações israelenses antes do ataque de 7 de outubro. Segundo a pesquisa, as apostas contra ações israelenses dispararam nos dias anteriores à invasão do Hamas, o que sugere que alguns investidores possuíam informações privilegiadas sobre o que ocorreria durante a rave Universo Paralello.
O comportamento atípico na bolsa israelense fica mais evidenciado nos cinco dias que antecederam o ataque, quando a venda a descoberto nos principais fundos relacionados às companhias israelenses se intensificou. As apostas contra o ETF MSCI Israel Exchange Traded Fund (ETF) superaram o volume usual. Para se colocar em perspectiva, as atividades de venda a descoberto teriam superado outros períodos críticos, como a crise financeira de 2008, o conflito entre Israel e Gaza de 2014 e a pandemia de Covid-19. De acordo com os autores, “os achados sugerem que investidores informados sobre os ataques que viriam a acontecer lucraram com os eventos trágicos”. Macey, professor da Universidade de Yale, chegou a afirmar que as evidências do artigo de Jackson e Mitts são “robustas” e que os achados são “chocantes”.
As evidências sugerem que o Leumi (LUMI.TA), o maior banco de Israel, foi um dos possíveis alvos da venda a descoberto por integrantes do Hamas e financiadores. Entre 14 de setembro de 2023 e 5 de outubro de 2023 mais de 4,43 milhões de ações do banco foram shorteadas. As ações do banco desabaram 23% entre o dia 4 de outubro e 23 de outubro. As atividades de venda a descoberto dispararam dramaticamente logo antes do ataque.
Dado a limitação dos dados, não é possível vincular determinados participantes do mercado às operações. Segundo a Bolsa de Tel-Aviv, a Israel Securities Authority (equivalente à CVM, no Brasil) informou que já está ciente e que está investigando todos os potenciais envolvidos.
Este caso ilustra como o conhecimento de poucos pode provocar distorções e prejuízos ao mercado. Na prática, o Insider Trading ocorre quando alguém tem conhecimento prévio de dados relevantes sobre determinado valor mobiliário que vão impactar a decisão do mercado de comprar, ou vender o papel futuramente e usa tal informação privilegiada para se beneficiar e lucrar com antecedência. Apesar de ser crime, tipificado pelo artigo 155 da Lei 6.404/76 (Lei das SAs) e pelo artigo 13 da Instrução 358/2002, da CVM, não é incomum vermos este tipo de situação também na bolsa brasileira.
Qualquer ativo em qualquer momento pode ser alvo de Insider Trading e, por conta disso, o investidor deve sempre estar atendo aos movimentos repentinos do mercado. Será que está acontecendo algo que não estou sabendo e, por isso, a tendência se reverteu? Acompanhar o mercado, ter uma gestão ativa e contar com equipe profissional que auxilie nas decisões é essencial para a formação de uma boa carteira de investimentos de longo prazo.