A inflação sempre foi o principal inimigo do desenvolvimento econômico. Não basta criar empregos e gerar renda se você não conseguir manter o poder de compra da sua moeda.
A inflação “queima” o poder de compra da população, pois um mesmo dinheiro compra cada vez menos um mesmo bem ou serviço. Por conta dessa característica, a inflação ganhou a figura do Dragão para representá-la.
A pandemia trouxe, além da dor da perda para milhares de famílias, recessão e desemprego. Hoje, o Brasil beira atingir uma taxa de desemprego de quase 15%. Consequentemente, as famílias veem sua renda reduzir, e acabam consumindo menos.
Todos esses ingredientes seriam um prato cheio para uma queda generalizada nos preços, certo? No Brasil, não.
Desde o último trimestre de 2020, o que vemos é uma aceleração preocupante da inflação. Ou seja, além de ver sua renda cair ou até mesmo se extinguir, o que o brasileiro tem visto é seu poder de compra enfraquecer cada vez mais. No último mês de março, o IPCA atingiu 0,93%.
Para os iniciantes que estão lendo esse artigo, é importante saber que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é medido pelo IBGE, sendo o índice oficial do governo. Em tese, ele mede o aumento dos preços de uma cesta de consumo da média da população brasileira. Por ter o intuito de medir os preços ao consumidor final, muitas vezes dizemos que esse índice mede os preços do Varejo.
Já o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) é um índice criado pela Fundação Getúlio Vargas e também mensura a variação nos preços de uma cesta de produtos e serviços, porém sua cobertura é muito mais abrangente. Resumidamente, ele também calcula a variação dos preços em setores importantes da economia, como construção civil, matérias primas agrícolas e bens industriais.
Por conta disso, o IGP-M é um índice muito utilizado pelo mercado, e por abranger os preços em camadas prévias ao consumo final, dizemos que ele é um ótimo termômetro para acompanhar o mercado de Atacado.
Precisei recapitular o significado desses dois índices porque gostaria de mostrar para vocês uma relação muito interessante que há entre entres.
Seguindo a tese de que os preços dos bens e serviços, quando sobem ao longo da cadeia de produção antes de chegar ao consumidor, podemos concluir que o IGP-M pode “antever” o que vai acontecer com o IPCA.
Mantendo essa linha, as perspectivas não são nada animadoras. Acompanhe esse gráfico que mostra a Inflação acumulada nos últimos 12 meses tanto para o IPCA (linha amarela) quanto para o IGP-M (linha branca).
Fica claro que ambos os indicadores possuem alta correlação, e o que vemos nesse momento é um descolamento do IGP-M com relação ao IPCA. Em outras palavras: os preços no atacado dispararam, e é bastante provável que esse impacto atinja o varejo com a mesma força que uma tsunami que varre uma cidade.
E essa conclusão não vem apenas da minha cabeça. Está lá no próprio Boletim Focus do Banco Central, que traz a média das estimativas dos principais nomes do mercado. As expectativas de aceleração do IPCA vêm crescendo semana a semana.
Já comentei em outro artigo que o principal vetor nesses aumentos é a desvalorização da nossa moeda frente ao dólar e a outras moedas no mundo. E para combater essa inflação de origem monetária, e não de demanda, o país já está utilizando algumas armas, embora outras ainda não tenham sido sacadas.
COMO DOMAR O DRAGÃO
Para domar esse dragão, precisamos de armas.
Uma das armas para domar a inflação é o Banco Central, e sua principal ferramenta é o ajuste das taxas de juros, a chamada Política Monetária.
Fazendo toda a leitura acima exposta, o BACEN já começou a agir, quando, em sua última reunião, elevou em 0,75% a taxa SELIC e já sinalizou que na próxima reunião haverá novo aumento, provavelmente de mais 0,75%.
Essa sinalização chamamos de forward guidance, pois o BACEN procura influenciar, com suas próprias previsões, as expectativas do mercado com relação ao futuro das taxas de Juros.
Outra arma para a contenção da inflação é a Política Fiscal, que consiste no governo buscar formas ou efetuar reformas para reduzir seus gastos. O intuito é desacelerar a demanda vinda dos gastos do governo (o que não é o caso atual), ou então voltar a trazer confiança para o mercado de que a situação fiscal do país está controlada.
No caso do Brasil, nossa situação se encaixa no segundo caso. Com o aumento de nossa dívida e a deterioração fiscal do país, o CDS (Credit Defaut Swap) do Brasil voltou a acelerar em 2021.
Os CDS são seguros contra inadimplência. Ou seja, quanto mais eles crescem, maior é o medo dos investidores com relação a um calote. E assim provavelmente mais dólares saem do país.
Com a pandemia, nossa dívida cresceu muito, prestes a atingir 100% do PIB. Para que vocês tenham uma ideia, a Reforma da Previdência previa economizar R$ 1 trilhão em 10 anos. Toda essa economia prevista para uma década foi zerada em 1 ano, por conta do combate aos impactos econômicos e sanitários do COVID-19.
Não há o que discutir que todos os esforços para combater a pandemia eram necessários. O Brasil, inclusive, está muito acima da média dos países emergentes no que diz respeito a esses gastos com relação ao PIB, estando na verdade na média de países desenvolvidos.
RETOMADA ESSENCIAL
Mas não podemos tapar o sol com a peneira: nosso presente exige firmeza no combate à inflação, e o futuro pós-pandemia trará grandes desafios no âmbito fiscal.
Novas reformas serão necessárias para colocar as contas do país em ordem, o que exigirá do Executivo um maior alinhamento com o Legislativo, e sabemos que muitas vezes isso “custa caro”. Talvez seja por isso que recentemente vimos uma grande reforma ministerial.
Além disso, o país precisa voltar a construir empregos, gerar renda. Entretanto, como disse o ministro Paulo Guedes, o maior plano de retomada econômica que o Brasil pode ter é uma vacinação em massa. Felizmente, a aceleração das vacinas é uma luz de esperança para essa retomada.
As previsões apontam que, quando atingirmos de 25% a 30% da população vacinada, o número de infecções e mortes deverá cair drasticamente, abrindo caminho assim para o retorno à normalidade.
Só assim, com crescimento, o próprio governo voltará a arrecadar e equilibrar as contas, e nosso país voltará a passar confiança para os investidores, atraindo recursos ao invés de espantá-los. E assim, fazer com que o dragão inflacionário volte a ser apenas uma lembrança.
Um grande abraço e bons investimentos!
Te espero no próximo artigo!