Na semana passada, fomos surpreendidos por um dado impressionante de inflação americana. Enquanto o mercado esperava uma alta de 0,2 por cento, o número subiu 0,8 por cento. Há muito tempo economistas viam um cenário de pressões inflacionárias chegando, mas na semana passada finalmente tivemos alguns indícios.
A alta na inflação foi puxada principalmente por aumento de itens de lazer e viagens, uma vez que os EUA já estão avançados na vacinação da população, e no preço de carros usados, visto que os novos estão com problema de entrega.
Por um lado, essa alta deveria ser temporária, uma vez que ambos os itens estão ligados a fatores que devem ser normalizados ao longo do tempo, correto? Acontece que outros dados também estão mostrando uma pressão altista bem intensa, que deve bater no CPI (Consumer Price Index – Índice de Preços ao Consumidor) mais cedo ou mais tarde.
Um dado bem importante que está mostrando pressões significativas é a média de salários pagos pela hora de trabalho nos EUA.
Aqui, podemos ver claramente pressões altistas nos salários. A pressão é ainda maior em salários de empregos menos remunerados. Vemos, nos jornais americanos, artigos mostrando que, por conta do auxílio de 300 dólares pago por semana, restaurantes não estão conseguindo contratar garçons.
Podemos ver esse efeito nesse gráfico. A linha azul mostra o salário mínimo pelo qual pessoas que ganham menos de 60 mil dólares por ano estariam dispostas a trabalhar. É claro o aumento recente.
Além da pressão nos salários, estamos vendo pressões no preço de aluguel, que é um índice que influencia muito a inflação. Isso sem contar com pressões de oferta de produtos em vários setores que ainda não se normalizaram. Para finalizar, ainda temos alta nos preços de commodities que estão aumentando os preços em toda a cadeia de alimentos e energia.
Fica difícil olhar para tudo isso e não achar que a inflação está em um processo de alta!
O mercado também está fazendo seus cálculos e esperando uma aceleração da inflação. Dados de expectativa mostraram crescimento, assim como dados de inflação implícita nas taxas dos títulos indexados americanos.
Ou seja, temos pressões em setores específicos e temporários? SIM! Porém, vemos também início de pressões em salários, aluguéis e expectativas, o que pode adicionar mais combustível nesse fogo.
Além disso, não podemos esquecer que a atividade econômica segue bem forte nos EUA, com recuperação de vendas no varejo, produção industrial e principalmente empregos.
O que o investidor deve considerar?
O Fed (Banco Central americano) segue dizendo que essa alta da inflação é temporária e que ele ainda não está confiante para agir. Essa postura vem aumentando as expectativas de inflação, como já mostrei no gráfico acima.
Acontece que, para uma mesma taxa de juro nominal (prefixada), o aumento da inflação esperava provocar uma queda nos juros reais.
Essa queda nos juros reais provoca dois efeitos: um nos preços dos ativos e um na economia.
Nos preços, a queda do juro real mantém um ambiente de desvalorização da moeda. Então, não por outro motivo, andamos vendo um mercado de "dólar fraco", inclusive com o real se valorizando.
Na economia, a queda do juro real aumenta ainda mais os estímulos econômicos. Ou seja, em uma economia já com forte recuperação, sinais de sobreaquecimento e pressões inflacionárias, estamos adicionando ainda mais estímulos via queda do juro real.
Eu acho que esse experimento não vai dar certo. Acho também que ele pode mudar o nível de vários ativos do mercado.
Além disso, um início de reversão desse cenário com aumento das taxas de juros pode alterar o curso do dólar, levando a valorizações da moeda. Por conta disso, estou recomendando para meus assinantes que coloquem um pedaço do seu patrimônio em dólar.