Em dia de divulgação da inflação tanto para o Brasil assim como para os EUA, verificou-se que ambos os mercados acionários e o câmbio responderam a esses eventos. A inflação brasileira, que reverteu três meses consecutivos de deflação, subiu 0,59%, acumulando em 12 meses 6,47% findos em outubro, abaixo do observado em setembro, 7,17%.
A inflação de outubro foi catalisada por itens voláteis, como a alimentação, um item que começa a se intensificar na pressão de preços na cesta do consumidor neste último trimestre do ano. O grupo de alimentos subiu 0,72% no mês, reflexo do clima desfavorável além da sazonalidade negativa para os alimentos in natura no período.
Pelo lado positivo, foi observada queda no índice de difusão para 58,8%, o que mostra que menos itens apresentaram aumento de preços, assim como a queda na taxa na passagem do mês dos serviços subjacentes, de 0,61% para 0,36%, fortalecendo a tese que o processo de desinflação no país seguirá o seu curso nos próximos meses, gerando menores pressões na taxa de juros, a Selic.
Já a inflação dos EUA trouxe sinais mais otimistas, com avanço de 0,4% em outubro frente a setembro e os núcleos abaixo do consenso, avançando 0,3%. Neste cenário, no acumulado de 12 meses a inflação americana mostrou arrefecimento, passando de 8,2% em setembro para 7,7%.
O que os números da inflação americana nos dizem é que possivelmente o Federal Reserve continuará na escalada de juros nas próximas reuniões, porém, em menor magnitude diante a última decisão que aumentou 0,75 ponto percentual; ou seja, para dezembro a expectativa é de um aumento em 0,50 ponto percentual, com a possibilidade da taxa terminal para as Fed Funds na faixa entre 5,00% - 5,25% no fim do primeiro trimestre de 2023.
Como os mercados reagiram e o que esperar nos investimentos
Começando pelo cenário doméstico, as preocupações com as contas públicas no país para os próximos anos impactaram negativamente o mercado, com queda no Ibovespa, altas significativas nos contratos futuros de juros e depreciação do real frente ao dólar. Ou seja, ainda que o cenário de curto prazo seja positivo para a inflação no país, no médio e longo prazo observamos uma deterioração da inflação, o que reforça a Selic no atual patamar, aos 13,75%, por mais tempo.
Nos investimentos, o aumento dos juros de longo prazo desfavorecem as empresas que necessitam de capital para crescer, conhecidas como empresas de growth. Na renda fixa, a alta observada na curva de juros torna os títulos de longo prazo ainda mais voláteis, necessitando um olhar mais apurado daqueles investidores mais suscetíveis ao risco.
No mercado americano o que observamos hoje foi uma melhora do apetite ao risco, e o motivo: o fim do ciclo de alta de juros começa a ser visualizado para o próximo trimestre, favorecendo os ativos das bolsas de valores.
Por fim, o meu recado diante dos dados referente à inflação divulgados hoje é que os próximos meses podem refletir o impacto defasado dos juros na economia e, consequentemente, no lucro das empresas. O mercado poderá responder negativamente ao longo da próxima bateria de resultados, por isso, o momento pede paciência e cautela nesse curto período de tempo.