Recentemente, notícias que costumavam ficar no rodapé de jornais vêm aparecendo nas principais manchetes. Isso ocorre pois embora o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) esteja em 2,49% no acumulado de 2020, o preço dos alimentos subiu cerca de 8% no mesmo período. Uma atenção especial para o arroz, com uma valorização de 19,2% acumulada e do óleo de soja que acumula uma alta de 18,6%.
Porém ao contrário do que muitos pensam, esses aumentos não são devido aos empresários ou redes de supermercados tentando aumentar seu lucro. O primeiro motivo dessa alta dos alimentos é devido à valorização do dólar que ocorre, entre outros motivos, devido a constante redução da taxa básica de juros (Selic) Brasileira que hoje se encontra em patamares de países desenvolvidos, 2%.
Sabemos também que o Brasil é um grande exportador de produtos do agronegócio e de alimentos, portanto a desvalorização do real fez com que exportar esses itens fosse mais vantajoso para os produtores, pois estes têm seus “ativos” precificados e comercializados em dólar, na sua grande maioria. Isso gera um aumento de oferta para exportação e diminuição de oferta para o mercado local, ou seja, uma parte maior da safra, de arroz por exemplo, está sendo direcionada para o mercado externo e não interno. Esse movimento no mercado gera uma inflação nos preços locais devido a lei da oferta e da demanda. Além disso, para o cultivo e manutenção de plantio de muitos alimentos, insumos como fertilizantes são importados, gerando um aumento no custo de produção.
É importante salientar também o aumento de demando para o mercado mundial por alimentos, implicando no aumento de vendas do agronegócio nacional em 3,8% nos últimos doze meses, segundo o Ministério da Agricultura, sendo a China correspondente por cerca de 30% dessas compras. Assim sendo, as empresas brasileiras pagam uma quantia maior pela mesma quantidade de produtos para trazê-los aos consumidores.
Falando agora sobre controle de preços, o Presidente Jair Bolsonaro falou em uma de suas coletivas que havia conversados com as empresas sobre a manutenção dos preços em níveis menores, pela diminuição dos lucros, por exemplo. Porém quais as consequências desse “tabelamento de preços”?
Tabelamento de preços ocorre quando um governo tenta deliberadamente intervir na livre flutuação de preços do mercado, seja definindo um teto ou uma base para um determinado produto. No caso dos alimentos, o presidente sugeriu esse teto pela premissa do lucro zero dos vendedores. Além de influenciar diretamente a receita das empresas e consequentemente dos funcionários que ali trabalham, esse “gesto de patriotismo” pode causar um efeito um tanto quanto perturbador no mercado interno de alimentos. Pela lei básica da economia, quando há aumento da procura por um determinado item o preço sobe, o mesmo ocorre quando a demanda se mantém, porém a oferta diminui.
Quando o governo opta por tabelar o preço de algum item com um teto, o que acontece é que o preço baixo em relação ao seu preço de mercado, incentiva as pessoas a obtê-lo. Vamos usar uma situação que Thomas Sowell utiliza em seu livro: Economia básica. Em uma situação de desastre natural que impossibilita por um certo período o abastecimento de uma cidade ou bairro, supõem-se que a demanda por garrafas d’água, por exemplo cresça significativamente.
No modelo de preços flutuantes, o preço sobe e faz com que cada família compre apenas o necessário para o período de retomada do abastecimento, garantindo que as outras famílias tenham acesso a água. Já em uma situação onde o teto de preços existe, o que acontece é que devido ao preço estar paralisado, as primeiras famílias irão comprar um número de garrafas d’água maior do que o necessário, fazendo com que, mais tarde, o restante das pessoas fiquem sem, ou seja, o teto de preços gera uma escassez artificial no mercado de garrafas d’agua, prejudicando algumas famílias.
De forma análoga, trazendo o conceito para o tema desse artigo, um teto de preços combinado a menor oferta de arroz no mercado interno, pode trazer uma escassez do produto principalmente para pessoas de classe mais baixa que muitas vezes aguardam a virada do mês para comprar de itens de supermercado. Outro ponto interessante de se comentar, é que a alta de preços faz com que aqueles que tenham maior capacidade de compra dos alimentos de alta inflação, consumam mais conscientemente e apenas o necessário.