Após duas leituras consecutivas surpreendendo positivamente a expectativa do mercado, a inflação voltou a preocupar e registrou avanço acima das projeções. Enquanto isso, a atividade industrial reportou desempenho acima do esperado, reforçando atividade econômica robusta no primeiro trimestre do ano.
O IPCA de abril teve leitura de 0,61%, acima de nossa projeção (0,56%) e do consenso do mercado (0,55%). Nos últimos 12 meses terminados em abril, o índice atingiu alta de 4,18%, desacelerando em comparação aos 4,13% observados em março.
Na análise dos desagregada, o grupo Alimentação e Bebidas registrou a maior surpresa negativa, com alta de 0,71% no mês, disseminada entre os subitens Alimentação no Domicílio (0,73%) e Alimentação Fora do Domicílio (0,66%). Importante ressaltar que, em março, Alimentação e Bebidas (0,05%) apresentou virtual estabilidade, com Alimentação no Domicílio registrando deflação de 0,53%, denotando aceleração relevante na divulgação de abril. Adicionalmente, temos avanço de 1,49% de Saúde e Cuidados Pessoais, tendência que já havia sido observada no IPCA-15 do mês e se confirmou, impulsionada por um forte avanço de 3,55% de produtos farmacêuticos.
Transportes registraram arrefecimento relevante, saindo de 2,11% para 0,56%, proporcionando uma desaceleração na comparação mensal do índice. Nota-se que tanto Gasolina quanto Óleo diesel apresentaram deflação no mês, de 0,52% e 2,25%, respectivamente. Essa queda foi esperada dada a dissipação do efeito da reoneração de tributos sobre combustíveis (gasolina e etanol). Os demais grupos também apresentaram variação positiva, com Habitação contribuindo com 7bps para o headline e os demais somando impacto também de 7bps.
Em relação às aberturas, os preços Administrados desaceleraram para 0,86% vs. 2,33% anteriormente, acompanhando o movimento de Transportes. Preços Livres, por sua vez, apresentaram alta de 0,52% após avançar 0,18% em março. Em sua composição, observa-se uma aceleração de Serviços (0,52% vs. 0,25% anterior) e de Industriais (0,39% vs. 0,27%). No entanto, nota-se que o primeiro veio levemente abaixo das estimativas. Os índices subjacentes também permaneceram elevados, com altas de 0,56% e 0,49% para serviços e industriais, respectivamente. A média dos cinco núcleos, indicadores acompanhados de perto pelo Banco Central na avaliação da inflação, avançou de 0,37% para 0,51%, enquanto o índice de difusão subiu de 59,95% para 66,05%, ou seja, mais itens aumentaram de valor em abril comparado a março.
Além disso, no começo da semana, tivemos a divulgação da produção industrial de março, que registrou alta de 1,1%, acima da nossa projeção e da expectativa do mercado. Em relação a março de 2022, a atividade industrial avançou 0,9%. No primeiro trimestre do ano, a PIM apresentou recuo de 0,4% em relação ao mesmo período de 2022.
A indústria extrativa registrou queda de 0,1%, enquanto a indústria da transformação avançou 1,4% no mês. Na comparação anual, a indústria extrativa apresentou alta de 3,3%. Já a indústria da transformação subiu 0,5%, interrompendo uma sequência de três quedas consecutivas.
Na análise desagregada, 16 dos 25 ramos pesquisados reportaram crescimento em março. Destaque para o avanço na produção de coque, produtos derivados de petróleo (1,7%), máquinas e equipamentos (5,1%) e equipamentos de informática (6,7%). Pelo lado negativo, destaca-se o recuo na fabricação de artigos de vestuário (-4,7%), móveis (-4,3%) e produtos de metal (-1,0%).
Entre as categorias econômicas, destaque positivo para o avanço de 6,3% em bens de capital, além da alta de 0,9% em bens intermediários. Bens de consumo, por sua vez, registraram queda de 1,2% com desempenho misto: a produção de bens de consumo duráveis subiu 2,5%, enquanto não duráveis recuou 0,5%.
A atividade industrial registrou forte alta em março, recuperando parcialmente o fraco desempenho dos dois primeiros meses do ano. Tal movimento reforça as revisões altistas de estimativa de crescimento do PIB do Brasil no primeiro trimestre e no acumulado do ano.
Em relação à inflação, a leitura acima do esperado corrobora o discurso hawkish do Banco Central e a perspectiva de manutenção da taxa Selic em patamar elevado por um período suficientemente prolongado. Por um lado, observa-se desempenho abaixo do esperado em Serviços. Por outro, demais aberturas apontam para maior resiliência, reforçando que a inflação deve seguir pressionada e finalizar o ano acima da meta. Mantemos, por enquanto, nossa projeção de inflação de 6,45% para 2023, tanto pela surpresa positiva na divulgação de abril, quanto pela atividade econômica mais forte do que o esperado no primeiro trimestre do ano. Ressaltamos que a expectativa deve ser alterada caso se confirme a revisão dos preços relacionados a combustíveis.