A inflação não vai mais seguir o padrão de 1,5% dos últimos dez anos.
Isso quer dizer que vamos ter uma inflação de 4% daqui para frente, com essa mudança de cenário?
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Não é bem assim.
Mas significa que a inflação vai ter mais variação e incerteza – e isso é o que mais importa para os portfólios globais de macroeconomia.
Vamos examinar os fatores que influenciam a inflação no futuro, lembrando que há uma grande diferença entre inflação estrutural (prazo de 5-10 anos) e inflação cíclica (prazo de 6-12 meses).
Os fatores estruturais da inflação incluem, entre outros, demografia, globalização, a disputa entre trabalho e capital, e políticas energéticas.
A inflação cíclica de curto prazo é, por outro lado, impulsionada principalmente pela injeção de dinheiro na economia real (crédito e fiscal).
Então, aqui estão os três fatores que devem aumentar a oscilação da inflação na próxima década:
1. Demografia, desglobalização e trabalho versus capital (estrutural)
Há duas correntes de pensamento: demografia fraca é desinflacionária (reduz as taxas naturais de crescimento e consumo, enquanto aumenta a tendência para poupança) ou inflacionária a longo prazo (a falta de mão de obra qualificada leva a salários mais altos, pessoas mais velhas gastarão mais por causa de redes de proteção social mais fortes em saúde, etc).
Eu acho que as duas estão parcialmente certas, se você aplicar o contexto certo: vivemos em uma economia globalizada.Com esse contexto, fica claro que os últimos 10-20 anos viram uma confluência perfeita de forças desinflacionárias: demografia fraca nos países desenvolvidos (gráfico à esquerda) gerou condições desinflacionárias e resolvemos a questão da escassez de mão de obra terceirizando a produção para a China, que por sua vez se beneficiava de uma ampla disponibilidade de trabalhadores baratos (gráfico à direita).
Um ótimo coquetel para a desinflação: demografia fraca do mercado desenvolvido mais mão de obra terceirizada barata da Ásia.
Mas aqui está o problema – essa combinação não estará mais lá.
A rápida reversão demográfica chinesa (pontos vermelhos, gráfico à direita) e um impulso marginal em direção à desglobalização implicam que as economias dos mercados desenvolvidos (DM) não poderão mais acessar uma crescente piscina de mão de obra barata na mesma extensão. Isso forçará os mercados desenvolvidos a internalizar parte da produção e, na margem, aumentar os salários para trabalhadores qualificados domésticos escassamente disponíveis: algum impacto já é visível.Os contra-argumentos aqui são dois:
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Nas indústrias de manufatura e ciclos que enfrentam escassez de mão de obra, estas representam apenas uma pequena fração do mercado de trabalho total. Isso se deve ao fato de que:
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Estamos em uma era dominada pela tecnologia, e essa tendência só tende a crescer.
Na década de 90, uma empresa típica dos EUA precisava de 8 colaboradores para gerar US$ 1 milhão em receitas, enquanto hoje necessita de apenas 2. Esse cenário reflete a diminuição do poder de barganha salarial dos trabalhadores diante do capital.
Atualmente, a economia é significativamente menos intensiva em mão de obra e menos sindicalizada do que nos anos 90.
Minha análise sugere que os ventos favoráveis à desinflação, que marcaram as últimas duas décadas, não se repetirão no futuro. Espera-se, portanto, um leve aumento na inflação estrutural, mas ainda dentro de um mundo globalizado e impulsionado pela tecnologia.
Em resumo: a previsibilidade da inflação será muito menor daqui para frente.
2. Políticas Energéticas (estrutural)
A transição para a meta de emissões líquidas zero será, nas próximas duas décadas, uma força inflacionária definitiva.
O raciocínio é simples: à medida que as políticas punitivas (como impostos mais altos) forem aplicadas às indústrias que produzem excesso de CO2, haverá um impulso para a descarbonização. Inicialmente, porém, ainda haverá consumo de combustíveis fósseis, com preços pós-impostos mais elevados.
Além disso, a transição para zero emissões exige um aumento considerável na demanda por commodities verdes, como o cobre, num setor que já sofre com o subinvestimento.
Os argumentos contrários sugerem que a transição para zero emissões será mais lenta e suave do que o previsto, e que as estimativas atuais sobre a quantidade necessária de commodities verdes não consideram avanços tecnológicos.
Minha visão é que, embora a transição para zero emissões seja, em última análise, inflacionária, a volatilidade da inflação será o fator mais crítico.
Conclusão: Inflação Estrutural
Nos próximos vinte anos, a “nova média” para a inflação estrutural provavelmente será maior do que os 1,5% vividos nos anos 2010. Quanto mais alta? Difícil dizer. Mas é certo que a inflação será muito mais imprevisível e volátil.
3. Impressão de Dinheiro (cíclico)
Bancos Centrais não imprimem dinheiro que causa inflação; bancos comerciais e governos, através de crédito e déficits, sim.
Por isso, anos de Quantitative Easing (QE) tiveram pouco impacto na inflação. Contudo, a injeção de dinheiro na economia real em 2020-2021 acordou a “fera da inflação”. Em 2022, a inflação apareceu como resultado da criação de crédito e déficits massivos.E agora? Meu Índice de Impulso de Crédito TMC prevê que a inflação geral se estabilizará em torno de 1% em junho do próximo ano, com a inflação núcleo em torno de 2-2,50%. O Federal Reserve (Fed) provavelmente sentirá que cumpriu sua missão.
Uma inflação de 2% pode parecer improvável para quem acredita no 'novo paradigma inflacionário', mas é essencial não confundir tendências estruturais de longo prazo com ciclos inflacionários de curto prazo.
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Aviso: este artigo tem fins meramente informativos e não constitui qualquer oferta ou recomendação de investimento.