Segundo o economista Alexandre Schwartsman, a autoridade monetária está “com pé trocado” e usa instrumentos errados para controlar a subida de preços.
Desde 2010 a inflação não encerra o ano no centro da meta (4,5%) , ou sequer próxima dele. Crítico do comando atual do Banco Central, o economista Alexandre Schwartsman, que já foi diretor de assuntos internacionais do BC em (2003-2006), e hoje é sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, não vê independência nas decisões da instituição.
“O Banco Central abandonou o centro da meta de inflação há muito tempo e hoje se contenta em ter inflação abaixo de 6,5%”, disparou o economista, que vê “truques” ao invés de política monetária nas medidas adotadas recentemente pelo governo.
Confira os melhores trechos da entrevista concedida por Schwartsman à EXAME.com:
EXAME.com - O Banco Central está demorando para atuar sobre a inflação?
Alexandre Schwartsman - O Banco Central está com o pé trocado desde 2011. Não estamos com a inflação varando o teto da meta por acaso, isso foi barbeiragem de política monetária, e o BC segue na barbeiragem.
EXAME.com - O comportamento recente do BC é um indício de falta de independência?
Schwartsman - Não é indício, é documento assinado embaixo.
EXAME.com - Na semana passada, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou que as medidas que forem necessárias para combater a inflação elevada seriam tomadas pelo governo, mesmo a elevação da taxa de juros quando necessário...
Schwartsman - Eu me espanto como isso passa batido, o Mantega diz que vai subir juros, mas não precisa de tiro de canhão, mas depois diz que não se manifesta sobre juros sendo que acabou de falar. Ele está se manifestando e a presidente da república a mesma coisa. A Dilma faz uma reunião com três economistas de fora do governo, sendo que dois deles vendem serviço de consultoria, e os três abençoam alta modesta de juros. O BC é independente?
EXAME.com - Se, no final do ano, a inflação ficar acima do teto da meta, o que pode acontecer além da Carta Aberta?
(quando ocorre o descumprimento da meta de inflação, o presidente do BC precisa enviar uma carta aberta para o ministro da Fazenda, com os motivos do descumprimento e as providências e prazo para o retorno)
Schwartsman - Talvez uns tapinhas nas costas. Como o governo poderia culpar o presidente do Banco Central por isso? No máximo pode dizer que ele foi subserviente demais e que deveria ter sido mais altivo. Em outros tempos de BC o presidente do BC decidia e então havia o direito de cobrá-lo. Mas no máximo é uma cartinha.