Ruídos políticos perturbadores criam incertezas e insegurança ao mercado financeiro, que vislumbra crescimento do acirramento entre os poderes com preocupação sobre estabilidade e atos governamentais de puro populismo que podem afetar diretamente a frágil situação fiscal do país.
A percepção é de que a cena política neutraliza a cena econômica e assuntos relevantes para o ordenamento do país perdem foco imediato, predominando ações e debates acalorados com o radar ligado à sucessão eleitoral presidencial do próximo ano.
Por outro lado, há forte percepção de que o BC/Copom está com a curva do juro Selic aquém da inflação, fato que preocupa e tira atratividade do país até pelos capitais especulativos externos que se esperava retornassem ao país em busca de rentabilidade ancorados em operações de “carry trade”, que, todavia não parecem ter se tornado viável.
As picuinhas políticas entre os poderes são perturbadoras da ordem e as decisões populistas por parte do governo na busca de popularidade podem conduzir a situação fiscal a níveis preocupantes e então ser necessário cortes nas demandas necessárias para dar suporte às populistas.
É inegável que a pobreza vem se intensificando no país tornando imperativo a ação mais incisiva do governo, mas só conceder benefícios sem estimular a atividade geradora de empregos é uma estratégia que não sugere sustentabilidade sem gerar desequilíbrios orçamentários.
E isto com antecipação de praticamente um ano quando deveria ser instalada a disputa sucessória.
Por outro lado, há sinais precoces advindos dos FED's regionais insinuando antecipação do “tapering”, a retirada dos estímulos da economia americana, o que nos parece afetar um pouco as perspectivas em torno do dólar no exterior, mas que nos parece mais anseios setoriais do que intenção efetiva do governo americano, que juntamente com a direção maior do FED vêm a economia retomando ritmo de forma desigual na geração de empregos, embora os dados recentes tenham melhorado e, desta forma, nada deve mudar no curto prazo, nem juro e nem estímulos, embora ocorra inflação que acaba por afetar, sem sustentação, as taxas de juros dos treasuries.
O dólar mais fragilizado é uma estratégia do governo americano para a recuperação de sua economia, principalmente do setor produtivo que ganha competitividade externa e contenção da concorrência externa e, assim, aumenta o potencial de geração de emprego e renda.
A combinação destes fatores internos e externos, com prevalência dos internos, acaba por neutralizar tendência de apreciação do real que seria normal e é esperada pelo mercado financeiro, que tem elevado as apostas na moeda nacional.
O país convive ainda que “silenciosamente” com relevante crise hídrica, que repercute intensamente nos custos da energia e da água que contaminam com rapidez os preços relativos da economia, gerando pressões inflacionárias intensas e pode até se tornar fator neutralizante a atividade.
Por outro lado, embora os dados recentes indiquem queda na intensificação da pandemia do coronavirus, está longe a perspectiva de seu desaparecimento no cotidiano do país, e não pode ser descartada a preocupação com as mutações do vírus, já que a imunização da população com duas doses da vacina ainda é baixa, a despeito do alaridos.
Como consequência destes fatores ocorre a ausência efetiva de tendência sustentável do preço da moeda americana e se intensifica a volatilidade, que é péssima para os negócios.
O BC/Copom deve assegurar, no texto de sua Ata que será divulgada hoje, perspectiva de nova correção da Selic, mas tem se tornado imperativo que seja pró-ativo e se antecipe às expectativas e proceda a ajuste mais contundente, reconhecendo o óbvio para não ter que “correr atrás” após dano maior.
O juro mais equânime com as perspectivas inflacionárias seria indutor de apreciação do real, mas a intensificação dos ruídos e embates políticos acirrados pode ser fator de deslocamento para além da projeção do Focus de R$ 5,10 ao final do ano.
Cada vez mais nos afastamos da possibilidade, que seria efetiva sem os transtornos internos atuais, do preço do dólar no entorno de R$ 4,60/4,80.