Nas últimas semanas, observamos a movimentação no cenário macroeconômico e geopolítico pela elevação dos números da inflação dos Estados Unidos, bem como as tensões entre Rússia e o país devido à Ucrânia. Os dois fatores em questão constroem uma incerteza significativa sobre como será o ajuste da taxa de juros no país norte americano, sendo que a tendência é que haja elevação em março deste ano, o que deve afetar o mercado de criptomoedas no curto e médio prazo.
O mercado de ativos digitais, por sua vez, tem se mostrado extremamente indeciso com os cenários atuais e nesse artigo irei explicar o que deve ocorrer com o setor de criptoativos nos próximos meses dependendo do desfecho do cenário macroeconômico.
O impacto das tensões entre Rússia e Ucrânia pode ser muito similar ao observado com a pandemia de Covid-19. Em um primeiro momento, crises como essa geram uma grande fuga de liquidez de ativos mais voláteis, o que pode derrubar o mercado como um todo.
Após o momento inicial, podemos observar o mercado de criptoativos crescer, visto que seus fundamentos não seriam afetados pelo cenário. Entretanto, questões ligadas ao potencial aumento da taxa de juros do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), tendem a impactar ainda mais o mercado de ativos digitais.
Com a preocupação abrangente em torno da política monetária do FED, a inflação, supostamente transitória, não só permaneceu, como também acelerou em todos os grupos de produtos. O que vemos hoje é uma inflação acima da média e a expectativa é de que permaneça acelerando ao longo de 2022. Inclusive, algo que foi comentado na minuta da reunião do FED entre os dias 25 e 26 de janeiro.
A arma do FED para combater o mal da inflação é a sua política monetária. O que devemos observar ao longo deste ano é o movimento chamado quantitative tightening, ou seja, retirada de liquidez do mercado – em outras palavras, tirar o excesso de dinheiro das mãos das pessoas – para frear a pressão de compra de produtos e, consequentemente, a inflação.
Devemos observar um cenário bem diferente de 2021, quando existia abundância de liquidez, que fez o mercado de ativos digitais atingir suas máximas históricas, assim como as principais bolsas de valores do mundo. Este ano, por sua vez, será marcado pela redução desses estímulos.
Há uma tendência de redução da atratividade do mercado de criptomoedas. Por consequência, o outflow (saída de capital) por parte dos investidores institucionais no médio prazo, movimento que foi observado ao longo do mês de janeiro e início de fevereiro.
Quanto à questão do potencial aumento da taxa de juros dos Estados Unidos, acredito que os investidores de criptoativos devem estar atentos ao contínuo aumento da inflação no país e as taxas de emprego. Caso esses números se mantenham em alta, há a tendência de aumento de juros por parte do FED e, por consequência, maior impacto no mercado no curto e médio prazo.
Quando olhamos para a movimentação on-chain, o mercado está predominantemente estável e com baixo volume, indicação comum de incerteza e indefinição por parte do investidor. Quando analisamos o passado, cenários como esse sempre precedem um grande movimento, de alta ou baixa – é a calmaria antes da tempestade.
Dinâmica interessante para entendermos o sentimento de mercado é a redução da alavancagem nos mercados de futuros ao longo da semana. Dessa vez, sem grandes movimentos de preço, a desalavancagem tende a indicar o pessimismo e a aversão ao risco do mercado, que foge da possibilidade de alta volatilidade à frente. Algo que também é observado pelo aumento de posições de put (opções de vendas), ativos normalmente utilizados para proteção de quedas no mercado de criptoativos, consoante aos dados da Glassnode.
Ao observar o cenário do mercado de ativos digitais para os próximos meses, acredito que a palavra que pode definir é “incerteza”. Normalmente, a incerteza pressupõe cautela nas posições e está exposto em ativos mais sólidos.
A saída do mercado de criptoativos pode não fazer tanto sentido quando se trata de um investimento pensando nos fundamentos dos ativos. Deve-se analisar no longo prazo, apesar de existirem inúmeros fatores negativos contra o mercado no curto e médio período, em grande parte pelo cenário macroeconômico.
Se analisarmos as métricas no longo prazo, como a entrada da capital de venture capital e o crescimento do número de desenvolvedores, a perspectiva para o mercado de ativos digitais segue extremamente positiva.