A impressão que prevalece, em linguagem objetiva, é que “a coisa não anda” e o que se propaga mantém uma larga distância da realidade que se presencia, o que já leva a serem recebidos com reservas, em tempos de “fake news”, dados econômicos tão alvissareiros divulgados que já se fazem melhores do que o momento pré-pandemia.
Causam “boas impressões” governantes em torno da mesa conciliatória cheios de boas intenções e elogios recíprocos, mas que não se reproduzem em dinamismo nas adoções de medidas imprescindíveis para restabelecer tranquilidade ao mercado financeiro e ao próprio país, que a cada dia mais se inquieta e mantém uma falsa serenidade.
A preocupação com pregação do otimismo por entidades semioficiais e de governo sinaliza ignorar fatores muito expressivos no horizonte próximo, que se contrapõem às projeções presentes, e assim podem ocorrer desapontamentos muito severos nas expectativas de recuperação da atividade econômica.
É notório que o mercado financeiro “silenciosamente” emite sinais de percepção destas incertezas e a insegurança provoca atitudes de pressão sobre o juro, reflexo da percepção de inflação, e do câmbio, por pressão do “porto seguro” no mercado futuro de dólar, com a intensificação da busca do “hedge por insegurança” como reserva de valor.
É preciso atenção às atitudes do mercado financeiro e não nas considerações, visto que é notório o distanciamento entre ambos.
A perspectiva sugere forte retração na capacidade consumo da população, seja pela redução dos programas sociais assistenciais do governo como fator principal, seja pela inflação nos bens essenciais e nos preços administrados que reduz renda real, seja por novos tributos ou reduções de benefícios, enfim, há muitos fatores de contração de renda e, poucos, muito poucos, sugerindo aumento de renda, até porque o emprego não reage com rapidez e a produtividade exigida no “novo normal” gerando menor demanda de vagas do que as extintas, e ainda com menores salários.
Economia sem potencial efetivo de consumo próprio está condenada a enfrentar forte contenção da propensão de retomar a dinâmica de atividade confortável, já que não temos no geral grande potencial exportador que não seja no agro negócio e metálicos, e assim tudo o mais se tornam exercícios teóricos que não se consolidam na prática.
E o governo sabe bem disto e, embora mantenha retórica de empolgação com a retomada que sugere presente, está procurando meios de acomodar dentro do teto orçamentário, que a rigor não comporta, um novo programa assistencial que mantenha, ainda que em parte, o fluxo de recursos financeiros para a população carente e dê suporte ao consumo na economia.
A inflação está presente e será mais reconhecida na medida em que os preços aviltados deixarem evidente que não são temporários, mas sim reais e que vieram para ficar, migrados do atacado severamente afetado pelo preço alto do dólar, em especial sobre os preços da cadeia alimentícia e exportável, e que acabam se disseminando por todos os demais preços administrados ou não da economia.
Já há notória desorganização dos preços relativos da economia.
Este cenário prospectivo já começa a retirar os melhores prognósticos para o PIB 2021 e vão ficando mais evidentes faltas de fundamentos concretos para ancorar as projeções que vem sendo construídas.
O Brasil precisa mais do que reunião de políticos e afagos recíprocos, mas sim de convergência geral de atitudes visando os interesses imediatos do país, sem o que não conseguirá superar de forma adequada o soberbo desafio da efetiva retomada da atividade econômica.
E o BC precisa ser pró ativo na questão cambial e antecipar-se a pressões de demanda no mercado futuro de dólar fomentada pelo “hedge para segurança” e oferecer “profilaticamente” swaps cambiais novos e desta forma atenuar elevações de preços do dólar de forma abrupta e impactante e na próxima reunião da SELIC, sem timidez, elevar a taxa de juro SELIC, que não seria exagerada em torno de 0,50%.