Enquanto perdurar a era de juros baixos ou negativos no mundo, o mercado financeiro deve seguir ávido por risco, haja ou não vacina contra a covid-19. É da regra da financeirização a adoção de estímulos monetários para manter a liquidez do sistema, com o dinheiro correndo feito água, para onde tem menos resistência e maiores retornos.
E ainda que tal dinâmica amplie o descolamento entre os ativos e a economia real, os investidores esperam que o Banco Central Europeu (BCE) sinta-se encorajado hoje pela recente mudança de estratégia do Federal Reserve. A perspectiva é de que a autoridade monetária da zona do euro também tolere uma inflação mais alta no futuro.
A decisão de juros do BCE (8h45) é o destaque da agenda econômica do dia e será seguida de uma entrevista coletiva (9h30) da presidente da instituição. Ainda que Christine Lagarde não replique o tom suave (“dovish”) de Jerome Powell, do Fed, ela deve mostrar disposição em manter uma política frouxa por um longo tempo, de modo a proteger o euro.
Portanto, a recuperação vista ontem nos mercados globais pode até sugerir que os investidores permanecem confiantes sobre as perspectivas econômicas e alimentam esperanças em relação a uma vacina contra o coronavírus. Mas, em última análise, eles permanecem é codificados em torno do formidável apoio monetário dado pelo Fed, e que acaba pressionando os demais bancos centrais do mundo.
Com isso, o mercado financeiro global deve seguir com uma dinâmica própria, dissociada dos indicadores econômicos e do noticiário sobre a pandemia de coronavírus, porém sujeita a movimentos abruptos e altamente voláteis, tal qual visto recentemente com o setor de tecnologia. Mas a liquidez sem precedentes jorrada pelos BCs tem amortecido esse comportamento.
À espera da decisão do BCE, as principais bolsas europeias recuam, acompanhando o sinal negativo vindo dos índices futuros em Nova York, enquanto o euro avança em relação ao dólar, que está mais fraco em relação aos demais rivais. Na Ásia, a sessão foi mista, com Tóquio seguindo os ganhos da véspera em Wall Street, enquanto Xangai (-0,6%) e Hong Kong (-0,5%) caíram. Já o petróleo recua.
Arroz gourmet
A agenda econômica doméstica também está em destaque nesta quinta-feira e começa logo cedo, às 8h, com a primeira prévia deste mês do IGP-M. Depois, às 9h, o IBGE informa o levantamento atualizado da safra agrícola deste ano, que deve seguir recorde. Será importante observar a participação da colheita de arroz, que vem ganhando espaço.
Porém, diante da valorização do dólar em relação ao real, os produtores se sentem mais atraídos em exportar o produto, o que acaba gerando uma escassez interna do principal item básico da alimentação brasileira. No ano, o arroz já acumula alta de 20%, segundo dados oficiais da inflação no varejo, com o comércio repassando os preços ao consumidor.
Ontem, a alta nos preços dos alimentos e o risco de desabastecimento foi motivo de intenso debate entre o governo Bolsonaro e representantes da Abras, entidade que reúne os supermercados. Mas não há relatos de negociação com o agronegócio, que também andou fazendo estoque. Como resultado, o Ministério da Justiça notificou os envolvidos.
Aliás, o setor de alimentos deve continuar entre os destaques positivos do varejo. Os dados sobre as vendas do comércio em julho também serão conhecidos às 9h e a expectativa é de crescimento pelo terceiro mês seguido, porém em um ritmo mais lento (+2,50%) em relação a junho. No confronto anual, o varejo deve ter o segundo resultado positivo (+2%).
Já no exterior, merecem atenção os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos, que deve vir abaixo de 1 milhão de solicitações, nos menores níveis desde meados de março. Os dados efetivos saem às 9h30. No mesmo horário, será divulgado também o índice de preços ao produtor norte-americano em agosto.
Depois, às 11h, é a vez dos estoques no atacado em julho. Na sequência, às 12h, saem os estoques semanais norte-americanos de petróleo bruto e derivados.